Thursday, January 10, 2008

O retrato reportado de um debate de surdos!



Para uma leitura complementar do debate veja a seguinte série de seis artigos postados que inicia aqui.

Dois pesos, duas medidas!

O Jornalista do Savana, fez uma síntese interessante, mas relativamente 'infiel' do debate. Penso que deveria terminar o artigo de outro modo. A conclusão não é conclusão. Trata-se da posição de um dos contendores. Quem termina a leitura do artigo fica com a impressão de que a última posição, nomeadamente, a do professor Carlos Serra, é a que prevaleceu. Isso não é verdade. Assim o jornalista acaba, sem querer, pela sequência da sua exposição por induzir os leitores a tenderem para a posição final. Penso que haveria pelo menos duas maneiras de terminar a síntese. Uma seria a de reiterar em poucas palavras as posições dos três autores mencionados. Podia desta vez inverter a ordem de exposição, ao invés de P.L, E.M e C.S, poderia ter colocado C.S, E.M e P.L ou C.S, P.L e E.M. A outra maneira de terminar o artigo seria o próprio jornalista apresentar a sua síntese. Ao terminar o texto apresentando um argumento forte, mas problemático, de um dos autores, como referi, influencia o leitor. Por exemplo, a ideia de que eu e o Elísio Macamo exigimos do Azagaia “ rigor científico” é falsa e não é mais abordada no texto. Nós refutamos isso em diferentes postagens.

O mesmo autor que nos acusa de exigir rigor cientifico a Azagaia, há algum tempo publicou o texto do jurista Carlos Serra. Jr em que criticava a musica do cantor Ziqo "Maboazuda", com recurso ao direito numa interpretação rigorosa da Constituição da Republica. Acusavam Ziqo de ter atentado contra o direito de não descriminação pela referencia que faz ao albinismo. [ “até albina leva”]. Poderia dizer que se exigia de Ziqo um rigoroso e cientifico conhecimento do direito antes de fazer as letras de suas músicas. Reparem para a flagrante incongruência na defesa de posições. Dois pesos duas medidas!
PS: Caros leitores.
Troquei a imagem do texto. No entanto, a própria qualidade do jornal não é grande coisa. Para ampliar cliquem duas vezes no texto. Agradeço ao Jorge Matine e a Iolanda Aguiar pela chamada de atenção
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8 comments:

chapa100 said...

com este scanner nao consigo ler patricio, podes fazer um grande favor de melhorar a imagem para poder-mos ler melhor o texto. obrigado.

Patricio Langa said...

Obrigado Jorge. Vou tentar substituir a imagem.

Aguiar said...

desculpe, sera que ja substituiu a imagem? eu tbem nao consigo ler.
obrigado

Aguiar said...

mto obrigado, Caro Patricio. ja consegui ler.

jpt said...

Isto é um texto para ser enviado para o jornal em questão ...

Uma pequena nota: sobre "a albina" (que eu leio como discurso de integração e não de exclusão, como os excitados acham) seria interessante ver como o aparente "politicamente correcto" (a falsa esquerda internacional, de cariz totalitário e conservador)
surge na praça pública (e suportada no capital simbólico dos seus porta-vozes) a defender a censura prévia e a induzir a auto-censura. Isto é gravissimo, e acho que o Serra Jr naõ levou a porrada que merecia ter levado - lá está, eu sou estrangeiro e tenho cidadania reduzida neste país (o que é normal). Mas se um Serra Jr, meu conhecido ainda por cima, jurista ainda para mais, andasse a dizer coisas destas no meu país eu, pelo menos, cantaria publicamente a tralha das músicas em questão (que diga-se, e o que é fundamental, são uma retinta merda, Azagaia incluído - eu sei, Langa, que no bloguismo moçambicanao não se pragueja, mas não há sinónimo disponível) Como é possível a defesa, impune, da (auto-)censura ancorado em pressupostos morais e em interpretações torcidas e preconceituosas da lei?

Patricio Langa said...

Caro JPT.
Recordo-me, bem, da sua interpretação da música do Ziqo Maboazuda e do aspecto inclusivo da menção ao albinismo. Se a memória não me falha, essa visão, foi secundada por uma professora de Português ao tentar contextualizar o uso da expressão “até albina leva”! Este é um lado da questão. Existe também o lado moral da coisa. Refiro-me a negociação do que é politicamente (talvez moralmente correcto) cantar-se, ou dizer-se nas letras das músicas no nosso país. Esse é um assunto que ainda vai dar muito pano para Manga. Acompanhei com alguma apreensão, esta semana, um pronunciamento de um dos membros do Conselho Superior de Comunicação Social sobre a necessidade de se definir o que é ou não radiofonicamente difundido em função do conteúdo. Não sei é quem vai ter a autoridade moral de fazer o julgamento (censura). JPT, as vezes não há mesmo como não chamar a “merda” de “merda”! Agora, se não se pragueja no bloguismo moçambicano, espero que não atribuas essa característica a exigência que eu e alguns mais têm feito em relação ao que chamamos de “competência no debate”! Penso, sinceramente, que não devíamos colocar limites a nossa imaginação. Se as regras podem representar esse limite, também podem representar, justamente, um espaço de possibilidade de diálogo. É uma questão de negociação. Ademais, a intencionalidade é um factor importante a considerar. As vaias, ironias, que te posso mandar só farão sentido se estiverem dentro de um contexto de significação partilhado por ambos. Caso contrário, seriam nulas. Enfim, são questões complexas que colocas. Seria pretensioso, demais, da minha parte tentar respondê-las cabalmente. Tentei, apenas, tactear alguns pontos que, obviamente, podemos aprimorar noutras ocasiões. Um forte abraço. E já agora um bom fim de semana.

PS:Espero que o Beúla leia isto pela primeira linha.

jpt said...

Sim a minha amiga Julieta Langa veio defender o controle das canções. Posso apenas tentar compreender, ela tem responsabilidades institucionais. Posso discordar mas posso tentar compreender. Não posso (nem quero) tentar compreender os cidadãos institucionalmente comprometidos que, em nome de ideologias/movimentos libertários, defendem publicamente a censura por critérios moralistas. Onde está a linha, a fronteira?

Não sou um fundamentalista. Acho que há limites para a liberdade de expressão (andei à bulha por causa disso no meu blog, mas tinha a ver com Portugal) - explícitos e implícitos (da razão de Estado ao "bom gosto" muitas razões há). Mas esta maneira de as colocar é um absurdo. Ou melhor é chocar o ovo da serpente (Aqui dir-se-ia mamba)

Eu fiz uns posts ligeiros e elogiosos sobre o Zimba - e não só por ele ser um tipo amigo. Vais censurar o Zimba, que veícula calão e brejeirice e preconceitos e os manipula?

Dou-te um exemplo. Eu trabalho sobre grupos de dança, também Tufo. Assisti a uma dança/canção de um pequeno grupo em que por mímica se simulava a colocação do preservativo (que raio de nome para a "camisa-de-vénus") no falo (enorme, claro está). Comicidade para alguns (a gente ria-se), saúde pública para outros, resmungos até indignados de alguns mais velhos autoridades. Quem tem razão? Como compreendes o contexto de um modo defendes a mímica, mas quem o entende de outro modo?

Uma bela foto, julgo do Tomás Cumbana, sobre a cerimónia das virgens suazis que vão ao rei (esqueço o nome da cerimónia). Lá no meio, seios à mostra, claro está, como todas, corre uma albina. Que bela imagem de integração, de despreconceito. Mas ... há alguma beleza na poligamia real? Há alguma beleza na cerimónia de oferecimento? Há alguma beleza na poligamia? Há alguma beleza no facto do fotógrafo ir a correr fotografar a albina, mostrando-lhe, sublinhando-lhe ali mesmo ser ela diferente, especial? Vamos censurar o Tomás, impedir-lhe a foto.

Ou seja, é evidente que o diálogo tem regras e que estes são as margens. E que elas são negociadas (mesmo que haja quem reduza a conflitualidade opinativa a meras questões paroquiais).

Finalmente, nem pensar que eu pense que o esmero linguístico aqui se deva à demanda de competência do debate. Tem a ver com os usos da língua. Sociológicos, não é? "Em Roma sê romano" - por isso peço licença/desculpa por usar palavras em público que noutros contextos são aceites

(não sei se ligas ao futebol, mas o treinador do Benfica utilizou em confer~encia de impresna uma palavra tabu na expressão pública portuguesa - ele, espanhol, utiliza-a em casa de modo muito mais simples. Há anos aconteceu o mesmo a um brasileiro (actor / músico) que usou o calão de erecção, que em Portugal é tabu, mas não no Brasil.) A "competência do debate" passa por aceitar, claro, as significações partilhadas. E, é esse o ponto, aceitar que elas rolam imenso - e que o moralmente censurado hoje é, quantas vezes, a norma do daqui a bocadinho. E não falo de palavrões, claro

jpt said...

os cidadãos institucionalmente descomprometidos ... (perdão pelo erro)