"Na actualidade, fala-se muito em protecção do meio ambiente num contexto de protesto às acções de desenvolvimento. como se fosse possível a evolução do homem sem roubar à natureza a sua natureza. Em Moçambique, basta recordar que em 2007 a Justiça Ambiental esteve empenhada em alertar o Governo sobre vários casos que considera constituirem uma ameaça ao ambiente, caso do projecto Mphanda Nkuwa, alegando exposição a riscos ecológicos, sísmicos, sociais e económicos". Leia todo o texto aqui.
Wednesday, January 23, 2008
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5 comments:
caro patrício, li e gostei do texto da olívia massango. gosto muito da forma como ela se interpela a si própria e procura, sempre que possível, não basear a sua reflexão em certezas. isso liberta o autor e permite um olhar mais profundo sobre as coisas. suponho que isso torne menos agressiva a reacção à uma possível crítica. o argumento que ela desenvolve precisaria de ser discutido com maior profundidade. ela sugere um dilema que me parece falso. não tenho a certeza se a opção é entre desenvolvimento sustentável e satisfação das nossas necessidades. o desenvolvimento sustentável pode garantir a satisfação das nossas necessidades. o que seria necessário discutir era, talvez, a questão de saber como se manifesta o problema ambiental no nosso país. o que está em questão? talvez dê para um dia destes formular um dilema moral a ser discutido lá no "ideias críticas".
Caro. Elísio.
Concordo com a tua observação. Não quis ofuscar o argumento da Olívia sugerindo a falsidade do dilema. Na verdade a falsidade do dilema é defendida por Bruno Latour há muito tempo. Num livro intitulado Política da Natureza, Latour propõe uma ecologia política com um carácter profundamente democrático. Parte do pressuposto que a participação de todas as partes interessadas, até os não-humanos, como a floresta, os bichos, as minhocas, representados por cientistas e defensores dos animais, ao lado dos camponeses, dos sociólogos, dos economistas e dos artistas é fundamental. O que se assiste aqui em Moçambique, conjecturo, não é bem isso. Meia dúzia de “especialistas” na re-produção do discurso ambiental (de risco) prefabricado globalizado falam em nome dos camponeses em Gôndola em salas refrescadas e climatizadas, em workshops, seminários etc a brisa do Mar. Para variar a política (real politik) entra na jogada para responder a mesma lógica. Há um sério problema comunicacional e de representatividade de interesses na formulação da questão ambiental. Questionando os chavões da ciência, da ecologia e da política – especialmente de esquerda – Latour desafia modernistas e pós modernistas (e eu diária os ONGistas), em busca de uma melhor formulação e representatividade na política ambiental.
O argumento emocional na base de poemas, hinos, marrabentados ou Hiphopizados etc que nós adoramos mascara um problema mais profundo. Aquele camponês de Metangula sente-se representado (nos seus interesses) nas canções e hinos ambientais das ONGS Maputistas? Quem reage imediatamente a esse tipo de formulação emocional do problema ambiental é a indústria da compaixão, disponibilizando mais e mais fundos. E assim vai o país! Os meus textos, sugeridos através dos links, abordam de leve esse debate mais no sentido da necessidade da formulação do problema ambiental para nós? É um problema moral? É uma questão de definição de riscos que envolve leigos e especialistas? É a extensão de um discurso ambiental localizado – ocidente (países desenvolvidos) – a escala universal com soluções (one size fit all)? É o apelo ao “Retorno do Bom Selvagem” para o qual nos alerta Severino Ngoenha?
Enfim, a formulação dos problemas é a busca da solução por outros meios (modifiquei Foucault): “A política é a continuação da guerra por outros meios”. E podia dizer o mesmo do debate de ideias!
Aguardo o debate (moral) no “ideias criticas”.
Um abraço.
caros patrício e elísio,
a olívia é de facto uma das jornalistas mais esclarecidas da praça, embora cometa os seus pecados. pena é a outra (burdina muhale) não escrever com regularidade - também escreve bem.
o meu dilema em relação à construção da barragem mphanda nkuwa tem mais a ver com aspectos económicos. a racionalidade para a construção da barragem assenta mais no pressuposto de que a áfrica austral sofreria um défice energético em 2007 (já estamos a sentir isso). o mercado de mphanda nkuwa seria primeiramente a áfrica do sul, e depois os outros países. a áfrica do sul enfrenta neste momento uma grave crise de energia, seguido do zimbabwe (não tem dinheiro para pagar). a zámbia decidiu desligar-se do zimbabwe no esquema de interconexão que tinham. pois bem, o que moçambique não está a ver é que a áfrica do sul já começou a trabalhar no sentido de criar fontes alternativas de produção de energia. as antigas centrais de carvão foram reabertas e paulatinamente está-se a elevar a capacidade de produção de energia. até 2011 já se terá, no mínimo atingido, um total de kilowatts que a permita satisfazer a demanda - neste momento a economia sul-africana está a ressentir-se da crise, o que desencoraja os investidores. a áfrica do sul não vai esperar que moçambique construa a sua barragem, e mesmo que esperasse a produção de mphanda nkuwa não seria suficiente. o que, em minha modesta opinião, moçambique devia fazer é concentrar-se na optimização da hcb (aumentar a sua capacidade) porque países como a suazilândia, que se ressentem das reduções na áfrica do sul, já começaram a bater a porta. alguém pode dizer que talvez a estratégia mais lucrativa seria construir uma nova barragem (mphanda nkuwa, neste caso), mas seria a viável?
na semana passada estive em joanesburgo e senti muito bem o problema energético. até parecia maputo nos anos oitenta! bayano, tens razão quando dizes que precisamos de incluir esses aspectos na reflexão que fazemos. isso é essencialmente político. pessoalmente, patrício, nunca fui grande amigo dos escritos de latour, sobretudo esta noção de híbridos que ele tem, mas uma ideia que acho particularmente genial é aquela que assenta no pressuposto de que os que se consideram modernos nunca realmente foram modernos. se a memória não me falha ele referia-se à distinção entre cultura e natureza que nunca chegou a ser feita, apesar de a ciência ocidental assentar nesse pressuposto. eu tomo essa ideia para pensar que o político se constitui justamente aí, isto é, na tensão entre cultura e natureza. toda a coerência do discurso ambiental vem daí, ou melhor, as indecisões do nosso sistema tecnológico acabam criando espaços de articulação de dsejos. o assunto é sem dúvida interessante. continue com a reflexão.
"O retorno do bom selvagem". Gostei Patrício. Como formular o problema ambiental de modo a que os africanos o assumam? Muitas vezes, os discursos das ONG's a que Patrício se refere caem em ouvidos de mercador porque as pessoas desconfiam instintivamente que esses discursos se destinam a manter África na idade mediaval.
No entanto, o problema ambiental é, algumas vezes, real. Como formula-lo de modo a que nós o entendamos. Ou talvez a causa da desconfiança esteja no facto de, no geral, os africanos não serem os actores desses discursos?
Obed L. Khan
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