Vou, ao invés de escrever eu próprio, sugerir a leitura deste texto do sociólogo suíço Philippe Perrenoud. Perrenoud é uma referência na reflexão sobre esta matéria e a minha opinião, em relação a este assunto, é in/formada com influências de Perrenoud. O que diria, portanto, não fugiria ao substancial do que é dito na leitura que sugiro. Espero, assim, ser mais útil. A questão colocada pelo ministro, na gíria da sociologia de educação, enquadra-se na problemática do in/sucesso escolar e/ou educativo. Já vão muitos anos de debate, várias tentativas de teorização e sistematização, mas o debate é sempre actual. É um clássico da sociologia da Educação. Ficaria difícil emitir qualquer opinião sem fazer referência as principais tendências que esse debate teve ao longo do tempo. Vale a pena ler Perrenoud.
Monday, July 30, 2007
O In/sucesso Escolar: “Aires Ali decreta chapa 100 nas aprovações”!
Vou, ao invés de escrever eu próprio, sugerir a leitura deste texto do sociólogo suíço Philippe Perrenoud. Perrenoud é uma referência na reflexão sobre esta matéria e a minha opinião, em relação a este assunto, é in/formada com influências de Perrenoud. O que diria, portanto, não fugiria ao substancial do que é dito na leitura que sugiro. Espero, assim, ser mais útil. A questão colocada pelo ministro, na gíria da sociologia de educação, enquadra-se na problemática do in/sucesso escolar e/ou educativo. Já vão muitos anos de debate, várias tentativas de teorização e sistematização, mas o debate é sempre actual. É um clássico da sociologia da Educação. Ficaria difícil emitir qualquer opinião sem fazer referência as principais tendências que esse debate teve ao longo do tempo. Vale a pena ler Perrenoud.
Friday, July 27, 2007
Quando o senso comum erudito reina: sobre a marcação da data das eleições provinciais!
- O senso comum erudito é aquela opinião que passa por sabedoria quando não tem mais do que valor opinativo mesmo. Digo isto por causa do que tenho estado a ouvir e observar nas rádios e televisões nacionais a propósito da alteração da data das eleições provinciais pelo chefe de estado de 20 de Dezembro, deste ano, para 16 de Janeiro do próximo. Vejo (pseudo) doutores a legitimarem desconhecimento e senso comum como se de factos se tratasse. A sociologia politica ou a ciência politica de modo geral não é meu forte, mesmo por interesse, apesar da mola que isso dá em consultorias. No entanto, do pouco que tenho lido e debatido com pessoas nessas áreas académicas, no nosso país, não temos evidencias de que existe:
a) Relação, correlação ou associação entre etnia e tendência(orientação) do voto.
b) Entre etnia e abstenção.
c) Entre religião e tendência (orientação) do voto.
d) Entre período chuvoso e afluência as urnas.
Por que contas de águas se diz que a decisão do presidente visa capturar o voto muçulmano? Até pode ser. Isto se os assessores do presidente pensarem e agiram como os pseudo doutores da doxa. Fala-se, por exemplo, de “comunidade muçulmana”! O que é isso mesmo? Serão os que professam o(s)islamismo(s) como religião? Desde quando é que essas pessoas, em Moçambique, se tornaram uma comunidade? Que tipo de comunidade? Que eu saiba, pode ser por defeito, existem várias tendenciais ou correntes islâmicas neste país. Qual dessas tendências faz a comunidade? É uma comunidade com consciência e agenda política ao ponto de lhe podermos atribuir ou prever um determinado comportamento eleitoral? O pouco que sei é que a tendência do voto é por filiação partidária. Quanto mais enraizado for o sentido de pertença ao partido e a influência do partido (dos dois principais signatários do AGP) sobre o indivíduo maior a probabilidade de votar no partido x ou y. Daí nas zonas de maior predominância e influência da Frelimo prevalecer um voto frelimista e nas zonas de maior predominância da Renamo prevalecer a tendência de voto renamista. E isto de um modo geral. Ao que tudo indica o presidente mudou a data a pensar que vai agradar aos muçulmanos. O que não percebeu ainda é que não há sinais alguns de voto muçulmano. Amanhã vamos falar de voto Católico, Protestante, Zione e até Gay (homossexual, atenção não é mesma coisa) e marcar as datas para as eleições em função das agendas desses grupelhos! Está aqui mais um terreno em que a doxa feita erudita comanda nossas acções. Estamos a agir como a polícia, atirarndo para tudo o que é lado, por falta de conhecimento.
Wednesday, July 25, 2007
Gente "Boa"!
O facto de não implica que![2].
Isso seria para evitar conclusões e apressadas e forçadas que não derivam da fidedignidade das premissas. Conclusões do tipo “ só pode ser ...”; “não há fumo sem fogo”; "querem nos silenciar" e por ai em diante. Acusações de feitiçaria como diria e bem Elísio Macamo.
O facto de não implica que[1].
O que não me parece ser consequência lógica e portanto conclusão óbvia e necessária é de que alguém queira silenciar o Magazine por todas aquelas razões arroladas no seu editorial de hoje que irei publicar aqui. Não estou a dizer que não seja o caso. Estou a sugerir que informação de que dispomos, pelo menos a publica, não nos permite tirar essa conclusão. Maputo vive, como o próprio Magazine tem reportado, uma onda de crimes a luz do dia. Ninguém sabe ainda, efectivamente, qual é morfologia do crime, como sugeri há dias. Ninguém, nem a policia, conhece a geografia do crime. Nestas circunstâncias não nos pode restar apenas a hipótese baseada na “acusação de feitiçaria” segundo a qual “só podem querer nos silenciar”! Esta forma de pensar, conspiratória, não no possibilita abrir outros possibilidades. Limita-nos!
Tuesday, July 24, 2007
Roubo no Magazine Independente: Comunicado de Imprensa do MISA Moçambique!
Roubo de computadores do “Magazine Independente”pode visar silenciar a publicação.
O capítulo moçambicano do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) lamenta o roubo de computadores do semanário “Magazine Independente” ocorrido ontem, domingo, dia 22 de Julho de 2007, na sede daquela publicação, sita na Avenida Eduardo Mondlane, Nº1113, na Cidade de Maputo, acto que foi perpetrado, à luz do dia, por seis homens fortemente armados.Logo que tomou conhecimento do sucedido, o MISA-Moçambique fez deslocar ao local o seu oficial de Informação e Pesquisa, que pôde observar o carácter violento em que a ocorrência se deu, que era caracterizado por sangue humano resultante das agressões físicas ao guarda e por vestígios de equipamento informático e peças de mobiliário espalhados em quase toda a sede daquele semanário moçambicano.Na ocasião, o Director daquela publicação, o jornalista Salomão Moyana, afirmou que tinham sido roubados 12 computadores PC na redacção do “Magazine Independente”, incluindo outros dois computadores portáteis, que foram retirados do seu gabinete e do do Editor daquele jornal.
“Duvido que tenha se tratado de um roubo igual a tantos outros que acontecem no país. Isto pode se tratar de algo visando silenciar o nosso jornal”, disse Salomão Moyana ao MISA-Moçambique.
O MISA-Moçambique desconfia que aquele acto violento, que se assemelha a um roubo, vise silenciar aquela publicação independente, o que, a ser verdade, significará um claro atentado à Liberdade de Imprensa e de Expressão, bem como ao Direito à Informação.
A desconfiança desta organização resulta do facto de os indivíduos que irromperam pelas instalações adentro daquele semanário terem somente se preocupado com a parte dos computadores onde se encontra o disco duro, que é a peça que guarda informação, deixando outros componentes, como é o caso de monitores.
Na manhã de hoje, segunda-feira, dia 23 de Julho, o MISA-Moçambique manteve um encontro com o superintendente Abílio Quive, porta-voz do Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) ao nível da Cidade de Maputo, com o objectivo de dele saber o que as autoridades policiais estão a fazer no sentido de esclarecer o caso.
Abílio Quive disse que o roubo violento ao “Magazine Independente” como tantos outros constitui preocupação para a Polícia, “que sempre faz de tudo no sentido de descobrir os seus autores e responsabilizá-los criminalmente. Estamos a trabalhar neste caso e, neste momento, não há nenhum detido”.Explicou ainda que, tendo aquele caso se registado durante o último fim de semana, o mesmo foi abordado durante a reunião que os oficiais da Polícia em serviço no Comando da Cidade de Maputo tiveram esta manhã, não tendo, contudo, avançado o que terá sido efectivamente dito a respeito do roubo violento ao “Magazine Independente”.
Questionado pelo MISA-Moçambique sobre se a Polícia não acha que aquela ocorrência pode visar silenciar aquele semanário, que nos últimos dias publicou várias peças jornalísticas não abonatórias a alguns quadrantes, de entre os quais se destacam a própria PRM e a famigerada gang de Agostinho Chaúque, Abílio Quive afirmou que “não achamos que seja isso, dado que eles são livres de escrever o que quiserem”.
O MISA-Moçambique apela às autoridades policiais no sentido de esclarecerem, o mais rápido possível, o roubo violento ao “Magazine Independente”, o que, para esta organização, não é normal, dado se tratar do primeiro caso do género em 32 anos de Moçambique independente.
Maputo, aos 23 de Julho de 2007
Monday, July 23, 2007
Impacto da Guerra, dos 16 Anos, por avaliar!
Magazine Independente assaltado.
DAMA DO BLING sofre aborto espontâneo!
Friday, July 20, 2007
Da democratização da esfera da vida[1].
Vou contar uma breve história, verídica, para clarificar o que pretendo dizer. Não sei se o fenómeno ocorreu noutras partes do Pais. Em Xai-Xai, nos anos oitenta e princípios de noventa ocorreu um fenómeno sociologicamente interessante. Suicídios em série. Na altura, eu, não conhecia uma teoria sociológica sequer. Não sabia que existia o clássico Durkheimiano, O suicídio. Dizia, nessa altura houve uma série de suicídios sucessivos de jovens raparigas com idades entre os 14 e 20/5 anos (por estimativa). Muitas delas tomaram doses excessivas de comprimidos, o famoso cloroquina (Quinino) com manifesta intenção de por termino as suas vidas. No desabrochar da sua juventude e da puberdade, conjecturo que sua morte era consequência de uma sociedade fechada por causa do controle social cerrado da família sobre seus membros. Por exemplo, namorar era um sacrilégio! Ai de quem engravidasse ou se deixasse engravidar por essas alturas! Para evitar, o tribunal caseiro regido pelas leis da moral familiar, enfrentar os pais, o seu castigo e a sanção da sociedade, essas meninas, de tenra idade, optavam por retirar o que de mais preciso tinham: a vida! Quantas colegas não perdi por que o pai soube que estava a namorar, engravidara enquanto residente no internato, ou coisa parecida? Demorar numa festa, para a qual se tinha pedido autorização, com não sei quanto tempo de antecedência, e com hora de regresso a coincidir com a hora do início, era motivo de pânico! Enfim, as razões por detrás desses suicídios, quando por exemplo cartas se encontrassem, eram quase sempre ligadas a esta relação entre o controle familiar e o desejo de liberdade, entre uma moral rígida e o indivíduo em busca de si.
Não gostaria de me alongar aqui referindo-me e descrevendo o lado público e politico do fechamento dessa sociedade. Foi naquela altura em que namorar, abraçar, beijar na rua era considerado corrupção. Podia se passar a noite inteira na esquadra da polícia, limpando casas de banho, por conta de um beijo. E no dia seguinte: o que dizer aos pais que como tortura-dores já te recebiam de sinto em punho? Para sair de casa para uma festa de um amigo o indivíduo passava por uma “burocracia familiar” incrível. Não sei se se podia chamar a isso excesso de normas, mas que havia algum isso é indiscutível. Se em contextos anómicos os suicídios são proporcionalmente superiores aos que ocorrem em contextos de normalidade, o que acontece quando a norma excessiva sufoca, poderíamos nos questionar?
Valeria a pena pôr a prova a tese Durkhemiana segundo a qual quanto maior a coesão social menor taxas de suicídio de registam. Poderíamos testar a hipótese contrária de que o excessivo controle social também tem a sua cota de suicídios. Aquelas meninas suicidaram-se? Cada sociedade suicida por ano um certo número dos seus indivíduos, dizia Durhkeim. Certamente, algumas dessas meninas, se não todas, foram vítimas da sociedade em que viveram.
Aquela sociedade não existe mais, deu lugar a actual. Comparativamente a aquela, esta é mais aberta. Como referi, essa abertura resulta de um processo de mudança social que ainda precisa ser estuda. Uma hipótese de trabalho a considerar seria a de que simultaneamente ao processo democratização política do país ocorria a democratização da esfera da vida. Houve mudanças significativas na qualidade oculta de toda a vida pessoal e das instituições privadas onde esta se desenrola, como a família. Pense se por exemplo na normalidade, outrora anormalidade, da maternidade solteira.
A promoção da democracia (política) e no domínio público foi paulatinamente conquistando espaço na esfera privada. Esta por seu turno retribui ao espaço público reenviando-lhe cidadãos livres, que procuram um espaço próprio de afirmação da sua individualidade. É assim que entendo e enquadro posturas artísticas e de personalidade desinibida como a da DAMA DO BLING. É por isso que temos uma DAMA DO BLING que diz querer ser o que quer ser. Que quer fazer o que gosta. Já não é aquela sociedade em que se fazia aquilo que os pais queriam que os filhos fizessem sem no mínimo negociar isso. Filhos e pais, hoje, tem que sentar e negociar o conteúdo da sua relação, o sentido do poder e de responsabilidade. É a recuperação do indivíduo, é o retorno do sujeito (actor) como diria o sociólogo Francês, talvez noutro contexto, Alain Touraine. Este processo de democratização da esfera privada e da vida pessoal é menos visível, provavelmente por não ocorrer na esfera pública, não obstante nela se reflectir, mas suas consequências são profundas. Penso que ganharíamos mais reflectindo a sociedade que somos hoje, do que esgrimindo argumentos (pseudo) moralistas como se tende fazer.
O fenómeno DAMA DO BLING [2]
DAMA DO BLING: ra, re, ri ro, rua....?
MAMUDO RAZACK
Com sua mui gentil amabilidade solícito que publique a presente carta na página destinada aos leitores.
Circula como moeda corrente tanta “algazarra” à volta da propalada imoralidade propagandeada pela dita nova geração da música moçambicana, sobretudo pelo carácter paupérrimo das mensagens que corporizam tais músicas, mas também e sobretudo pela crescente exposição da paisagem íntima da mulher, quer em vídeos e ainda ao vivo, nos reputados espectáculos que nos são dados a ver.
E a esse respeita sobressai como expoente máximo da crítica popular a conhecida jurista(?) e cantora Ivânea Rosa Mudanisse (“o hi danissa mesmo”[1]), popularmente havida por Dama do Bling.
É importante dizer-se que esta cidadã “entornou o caldo” na sua última aparição no programa MUSIC BOX da “espectaculosa” (diga-se STV), dada nudez exacerbada e sem precedentes com que nos brindou nessa ocasião.
Não sei se antes ou depois e se em reacção ou não às críticas arremessadas post MUSIC BOX, a Dra. Mudanisse presenteou-nos com mais uma música e, desta feita, afastando para longe as vozes que a censuram.
Embora não apreciador da performance desta cantora, tive o privilégio de receber, por e-mail, a letra da badalada última criação (não sei se da Bang Entretenimento ou Ivânea) e sintetizo-a em quatro pontos que considero essenciais:
Sou doutora e porque não posso cantar?
Neste andar entrarei na campanha eleitoral.
Quem pagou a minha escola?
Será que não posso cantar só por estar grávida?
Comecemos pela pergunta segundo a qual se pelo facto de ser doutora não pode cantar quando há ministro com 6ª classe a legislar.
Ora, apesar de concordar que a feitura de leis não se compadece com o simples traquejo político, entendo ser imperioso recordar a Dama do Bling que para além dela existem artistas que a para de possuírem formação superior também cantam. Temos que citar os exemplos de Seth Swaze (também jurista e quanto a mim, um dos melhores guitarristas e vocalistas moçambicanos), Arão Litsure (o Senhor Alambique), Norberto Carrilho (saiba que para além de exímio Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo é mestre na guitarra e na voz), Zé Manel (outro jovem promissor) e outros tantos.
Daqui há que dizer claramente: ninguém está a dizer que a Dra. Mudanisse não deve cantar, mas não me parece social e moralmente recomendável que exiba a sua paisagem íntima como se Deus fosse boçal ao dar sabedoria aos homens para distinguirem a roupa interior da restante, cuja visualização é reservada a quem lhe é cúmplice nos momentos de intimidade.
Imaginem o Arão Litsure a cantar de “boxers”, sem camisa e fazer movimentos propícios para o quarto, no palco e ante a crítica social defender-se com essa de Ministro de 6ª classe a legislar... valha-me Deus.
É exactamente por ser doutora que a sociedade não lhe poupa a pouca vergonha que nos dá a conhecer.
Portanto, não procede essa argumentação mesquinha.
No que se refere à possibilidade de embarcar numa campanha eleitoral, uma vez que nos mídia cada vez mais é Dama do Bling que está bater pelos diversos motivos, acho que já não será necessário.
Ora vejamos: a campanha eleitoral visa dar a conhecer ao eleitorado o que se não conhece de alguém que pretende ser eleito.
No caso em apreço, considerando vestimenta artística da Dama, que nos presenteia com toda a sua paisagem íntima, nada mais há a dar a conhecer, pois que quando o povo, do Rovuma ao Maputo vê tudo, incluindo o que, normalmente, apenas o consorte teria privilégio de ver, nada mais resta para mostrar.
Entretanto, a aludida campanha eleitoral justifica-se se a nossa doutora pretende mostrar aos moçambicanos como pode fazer o que se faz numa situação em que duas pessoas, na mais vulgar das intimidades fazem. Nesse caso daria por justificada a entrada para uma campanha eleitoral.
E se assim fosse, eu a aconselharia a não perder muito tempo em cantar para fazer a sua campanha eleitoral: bastaria, a partir das 18 horas, deslocar-se ao Luso, à Rua de Bagamoyo, à Av. Olof Palme (próximo da Procuradoria da Cidade), à Av. Mao Tsé Tung (na zona entre o Parque dos Continuadores e o Complexo Sheik). Ai certamente, com os seus habituais trajes artísticos, não passaria despercebida e tenho a certeza que muitos a solicitariam a provar o que sabe fazer.
Diz ainda, a nossa doutora que invadiram a privacidade dela. De quem se refere esta patrícia? De alguém vivendo no Marte ou na Lua?
Acho que nem é preciso invadir a privacidade desta cantora, pois ela mesmo se encarrega de nos deixar conhecer a sua floresta íntima. De que privacidade se refere Dra. Mudanisse? Acho que não é razoável que alguém que se expõe nuda e levianamente para milhões de moçambicanos venha reclamara quebra de privacidade.
Num outro excerto da sua canção justifica a alguma abastança dos progenitores para afirmar que não pediu esmola a ninguém para custear os estudos. E nem precisava pedir esmola.
Entretanto, esquece que são os moçambicanos laboriosos que com seus impostos garantem salário aos docentes que a formaram, bem assim o apetrechamento do estabelecimento de ensino por onde passou, das estradas e outros.
Acho um insulto indelével cuspir para os moçambicanos dessa forma, pois saiba que cada cidadão se esforça para que haja mais pessoas formadas e não pessoas que exibem descaradamente a nudez.
No que se refere a sua gravidez, pouco há a dizer, pois somente tememos que o petiz que ai vem se indigne com os progenitores ao saber que a sua gestação foi irresponsável e levianamente exibida aos moçambicanos, sendo que a sua mãe é objecto de comentários em nada abonatórios para o pudor social.
Em suma, Dra. Ivânea Rosa Mudanisse (este apelido é sugestivo), ninguém está contra as suas cantarolices, mas poupe os moçambicanos dos detalhes sórdidos.
E não venha com essa de que está a ser perseguida e que quebraram a sua privacidade. V.Excia é quem quebrou a própria privacidade, se é que esta algum dia existiu.
Tome Nota.
[1] Em português: de facto nos envergonha.
Wednesday, July 18, 2007
Outras Formas de Pobreza Absoluta [2].
1) De que trata o artigo? O título já me ajuda a ter uma ideia disso. Um “bom” título, além de atrair o leitor mais desatento e desinteressado, já nos dá uma ideia do vamos ganhar lendo artigo.
2) Ganhar? Ganhar sim. Ai está outra questão que, normalmente, me coloco. Ao ler o artigo sugerido pelo título existe possibilidade de sair sabendo algo para além do que já sabia? Vou sair de uma situação x para outra y em termos de adquirir novos conhecimentos e questionar conhecimento prévio ou até desconhecimento? Esta postura conduz-me inevitavelmente ao próximo ponto.
3) O fim da leitura de um artigo não ocorre no fim do artigo. Já me explico. O fim da leitura ocorre com a pergunta que coloco sobre o que aprendi de novo. O assunto do artigo que li é de alguma relevância politica, económica, cultural, cientifica etc. O assunto é de interesse público? Porque? O que o torna como tal? Enfim, estas são algumas questões (habituais e por isso nem sempre reflectidas) que ocorrem no acto de leitura.
Releiam, por favor, o artigo acima na pena do jornalista - jornalista?, Samito Nuvunga fazendo esse questionamento.
Pessoalmente li o artigo atraído pelo título. “Um dia com a filha de Robert Mugabe”. Pela a actualidade que a questão do Zimbabwé representa para o interesse público nacional e internacional achei que poderia existir algo interessante. Filha de Mugabe! Pensei. Deve ter uma leitura mais privada de um assunto público. Fui enganado, pelo título! O texto não aborda quase nada sobre a situação política daquele país. Infelizmente os enganos não param por ai. Todo o artigo pareceu-me um engano, um texto impertinente para um jornal com o perfil do Magazine Independente.
a) Qual é a relevância deste texto para o interesse público?
b) Qual é a pertinência – mesmo que fosse de laser pela leitura – deste texto?
c) O que é que o texto nos informa e/ou ensina?
d) Diz-se um texto de opinião. Opina sobre o quê? Sobre que assunto? Enfim, chega de perguntas.
A única coisa e ainda por cima irrelevante que este texto nos conta só diz respeito ao seu autor, nomeadamente suas redes sociais e de amizade e de possivel reacionamento como insinua o texto todo. Conheci a filha do Bob, que foi convidada dos Mondlanes para
Nwajahane, que viajou no meu carro onde levou o presente do Presidente, deu me seu cartão etc, etc. Qual é o interesse, público, disto? Como é que um Jornal que se presa se presta ao papel de publicar este tipo de textos? De duas uma, ou o jornal está com crise de colaboradores ou os donos e editores do Magazine fazem parte das redes sociais e de amizade do autor do artigo que nem sequer fazem uma selecção prévia dos artigos em função de sua linha editorial. Não estou a sugerir que se faça censura, estou a dizer que não se devia publicar num Jornal com um perfil do Magazine artigos que deviam ir para a revistas como a portuguesa "Maria” ou as nossas "TVZine" ou "FAMA Magazine".
Jornalismo assim, é outra forma de POBREZA, ABSOLUTA!
Tuesday, July 17, 2007
Desafios de Investigação em Ciências Sociais e Humanos em Moçambique.
Sessão de abertura(Hoje).
O programa iniciou hoje as 8:00 com inscrições até as 9:00h.
Segue-se uma Conferência inaugural das 9.30-10:30 intitulada: "Urbanização, Ordenamento do Território e Desenvolvimento" a ser proferida pelo Arquitecto e professor José Forjaz. É no período da tarde, das 14:00-1700h que iniciam as sessões temáticas paralelas, que pessoalmente acho mais interessante. Todas sessões terão lugar no Campus Universitário da Universidade eduardo Mondlane, no novo complexo pedagógico.
Dia 17/07/2007 Período da tarde
1)Área Temática 1: Estratégias de Produção da Riqueza e/ou combate a Pobreza? (6 Oradores, Sala 321).
2) Área Temática 2: HIV/SIDA e Estrutura social: que relações? (6 Oradores, Sala 322).
3) Área Temática 4: relações ambiente-recursos naturais-desenvolvimento (6Oradores, Sala 323.
4) Área Temática 5: Sociedade Civil e Democracia em Moçambique: onde estamos?(4 Oradores, Sala 324)
5) Área Temática 6: Linguagem e Sociedade (6 Oradores, 325) Grupo 1.
6 Área Temática 6: Área Temática (6Oradores, 326) Grupo 2.
Dia 18/07/2007 período da manhã. 9:00-10:00h
1) Área Temática 1 (Sala 321, 2 Oradores).
2) Área Temática 2 (Sala 322, 3 Oradores).
3) Área Temática 4 (Sala 323, 2 Oradores).
4) Área Temática 5 (Sala324, 3 Oradores, moderada por mim).
5) Área Temática 6 (Sala325, 2 Oradores).
6) Área Temática 3 (Sala 326, 3 Oradores)
7) Área Temática 3 (Sala 327, 2 Oradores)
Sunday, July 15, 2007
UEM em seminário Investigação 2007[4]
Nobre de Jesus Canhanga
Partimos para a análise com a premissa de que, a despeito do quadro teórico e normativo conceber as eleições como um instrumento para regular a competição entre partidos e candidatos eleitorais, gerir conflitos, maximizar a participação dos diferentes actores do sistema e garantir a legitimidade do regime, em Moçambique, o processo inicial de transição confirma a prevalência de uma paz sem confiança entre as principais forças políticas do país (Brito, 2000). A crise política resultante dos anteriores processos eleitorais, foi uma clara demonstração de que as eleições podem ser um obstáculo à consolidação da democracia e estabilidade da vida política nacional.
Abordamos o trabalho tendo como premissa a ideia de que o processo de consolidação da democracia e estabilidade política, depende da interacção entre os mais diversificados actores que asseguram a legitimidade das instituições do Estado.
O nosso paradigma de orientação assenta suas bases no pressuposto de que os sistemas democráticos revelam-se pela capacidade de estabelecer ralações com os diferentes actores da vida política de maneira que, em última análise, a sociedade civil seja o actor privilegiado para legitimar o Estado. Esta capacidade de interacção entre diferentes segmentos do campo político, não só depende da configuração de arranjos institucionais que asseguram a interacção entre os actores, mas também, da capacidade e oportunidade destes tornarem operacionais os instrumentos definidos para a consolidação da democracia e estabilidade do sistema político. Finalmente, mostramos os esforços e oportunidades institucionais criados para a sociedade civil participar nos desafios da consolidação da democracia, estabilidade e gestão de conflitos político-eleitorais.
UEM em seminário Investigação 2007[3]
Título: A Democracia em Moçambique: um sistema político em crise de identidade?
Autor: José Jaime Macuane (Professor Auxiliar, Departamento de Ciência Política e Administração Pública)
macuane@yahoo.com.br
Moçambique foi por muito tempo apontado como um caso de sucesso de democratização e pacificação na África. O processo de pacificação, consubstanciado no Acordo Geral de Paz contribuiu para a criação de arranjos institucionais aparentemente consensuais, que buscam acomodar os principais actores relevantes no jogo político. No entanto, uma análise mais atenta da democracia moçambicana revela que o sistema é excludente, que as instituições tendem a produzir uma democracia cada vez mais monopartidária e que os arranjos institucionais adoptados concentram o jogo político nos principais contendores da guerra civil, a Frelimo e a Renamo, em detrimento de um maior envolvimento da sociedade. Os espaços de consenso são de facto reduzidos e os mecanismos para a sua garantia são frágeis, dependendo essencialmente de um processo de negociação entre os actores políticos. Como consequência, a accountability, a transparência e os pesos e contrapesos do sistema são frágeis e esta situação é ainda acirrada pela tendência de baixa participação eleitoral que se tem verificado ultimamente.
Para fundamentar a análise o estudo debruça-se sobre os arranjos institucionais existentes, o seu funcionamento, os processos políticos e a dinâmica que se estabelece entre os principais actores do jogo político democrático.
Palavras-chave: democratização, sistema político, crise, identidade.
UEM em seminário Investigação 2007[2].
Electoral Governance in the context of democratic consolidation in Mozambique
By Adriano Nuvunga
Department of Political Science and Public Administration, Faculty of Arts and Social Sciences,
Eduardo Mondlane University
Adrianonuvunga@yahoo.com.br
Abstract
Democratization is a process of institutionalization of uncertainty; of subjecting all interests to uncertainty, because democratic politics involves open competition for power, no group can be certain of winning. Thus, the provision of procedural certainty to secure the substantive uncertainty of democratic elections is the principal task of electoral governance. The question we ask is: is the electoral governance institution in Mozambique in condition of enduring the certainty so that the uncertainty can flourish? The main argument is that apart from political problems affecting the quality of electoral process, there is to certain extent a lack of technical capacity within the electoral bodies to meet the standards of electoral (good) governance. Thus, there is need for training of electoral bodies if elections are to contribute for democratic consolidation in the country
Key words: democratization, democratic consolidation
UEM em seminário Investigação 2007 [1].
Godói o Jean Marie Le PEN Brasileiro!
Ex-juiz terá que explicar crítica à "seleção negra" ao MP
Por: Redação - Fonte: Afropress:Foto: Programa Debate Bola - TV Record - 13/7/2007.
Friday, July 13, 2007
A construção da moçambicanidade em tempos pós-modernos
A construção da moçambicanidade em tempos pós-modernos: o papel da educação, da comunicação e da informação.
...
Cada um dos conceitos que compõem o tema é, em si, complexo e controverso. Cada um deles seria um tema à parte. A despeito, assumo o risco, abordando o presente tema a partir de alguns pressupostos.
A começar pelo conceito de pós-modernidade, algo me diz que por pós-modernidade, neste contexto, quer-se apenas referir à “vida atual” - isso repetindo o termo usado por Ribeiro (2003) - isto é, quer-se apenas referir ao atual período da história da humanidade, também designado de técnico-científico, dada a interdependência cada vez mais acentuada da ciência e da técnica sob todos os aspectos da vida social, em todas as partes do mundo e em todos os países (Milton Santos, 2001). Este é um período que também tem como característica a instantaneamente (e a fugacidade), que se multiplica paralelamente à idéia do não-lugar.
Para alguns autores, esta é também a era da globalização. Era na qual, em última instância, há uma prevalência do mundo econômico sobre o político; época em que o mercado prevalece sobre o estado e sobre a sociedade. A esse respeito, Ribeiro (2003), referindo-se à forma como hoje se faz ciência, chega afirmar que: “[...] o mercado, se não chega a dominar por completo o público, pelo menos controla a maior parte de seu acesso ao que as ciências humanas produzem. Será preciso, então, pensar como emancipar desse controle econômico o acesso aos saberes que mais ajudam a formar a cidadania” (Ribeiro, 2003, p. 104).
Cabe a referência de que, do ponto de vista do Estado, o liberalismo – do qual nasce o domínio do mercado - surge, na realidade, em contraposição ao totalitarismo monárquico. Ou seja, com o fim do regime feudal, surgem novas formas de organização do Estado e da sociedade, entre elas destacam-se o liberalismo - de concepções liberais (em defesa dos direitos individuais) - e o contratualismo - contrato social, propondo limites aos direitos individuais, compatibilizando-os com os interesses da coletividade. Todavia, com o progresso industrial do séc. XIX, o contratualismo e o direito natural foram rejeitados em prol do (neo)liberalismo. À burguesia interessava um novo discurso, isto é, em que o poder “tão somente deve se destinar à defesa dos direitos individuais [e da propriedade]” (Barbosa, 1984, p.45).
Hoje, numa fase avançada do capitalismo e do neoliberalismo globalizado, vemos, porém, emergirem novos totalitarismos, caracterizados pela busca incessante do lucro; em que a busca pelo dinheiro e a competitividade são regras absolutas. Com isso, todos - pessoas físicas ou jurídicas (inclusive o Estado) - são intimados a competir de acordo com as regras do mercado e de imperativos de consumo.
Em outras palavras, estabelece-se, hoje, o imperativo da competitividade - ou “imperativo social do desempenho”, conforme Yúdice (2004) - em todas as partes do mundo e em todos as esferas da vida, inclusive a cultural.
Assim, a cultura deixa de ser uma essência para ser um bem. Ela também se transforma na própria lógica do mercado, com a transformação das atividades sociais em propriedade. A indústria de entretenimento é emblemática nesse sentido: filmes, música, TV, vídeo, TV a cabo, etc. É a indústria da cultura ou simplesmente o “capitalismo cultural”.
Paralelamente, a cultura passa a ter valor por aquilo que se pode extrair dela. Ou seja, fortemente financiada pelas agências de fomento e da chamada sociedade civil global – que inclui as ONG – e avaliado sobretudo em função dos índices econômicos, apenas a “cultura” que possa oferecer alguma forma de retorno é passível de financiamento, ao mesmo tempo em que a cultura pela cultura – isto é, a cultura como vida – vai padecendo de uma erosão lenta, diante, justamente, da exacerbação dessa dimensão utilitária e da instrumentalização que se faz dela.
Com essa proeminência, com pouco exagero, apenas a cultura como consumo entra na negociação da identidade, seja no âmbito internacional, nacional e até mesmo local. É essa dimensão que, efetivamente, passa a orquestrar todas as outras - culturais e de identidade - ao mesmo tempo em que a noção da cultura como vida, como público, é esvaziada.
Esse esvaziamento ocorre porque a cultura, como mercadoria, incide sobre a percepção da realidade. Ou seja, vivemos em um mundo essencialmente simbólico e numa época em que, pela primeira vez na história, o discurso – coadjuvado pela técnica e pela informação verticalizada – precede substancialmente o comportamento e a ação humana. Época em que, cada vez mais os organismos econômicos, através de estratégias discursivas, produzem o consumidor antes mesmo de produzir o produto, como diria Milton Santos (2001) – consolidam um certo olhar antes da ação humana -; produto/ação no qual estariam refletidos os anseios de consumo já mapeados, ao mesmo tempo em que novas condições psicológicas seriam sistematizadas para o consumo seguinte. Talvez por isso que quase todos em Machaze têm aparelhos celular. Como não há sinal de rede, os aparelhos servem como despertador, agenda, lanterna, etc. menos para se comunicarem. Nem por isso a população de Machaze está fora do campeonato global dos modelos dos celulares, cujas regras incluem: brevidade, efemeridade, fugacidade...
É desse modo também que a vida é nos apresentada como fábula. Em que o discurso, pela ideologia – camuflado em modernidade - como realidade se materializa. Ele se transforma em objetos palpáveis que devem ser cultuados: casarão, carrão, tecnologia, status, etc.; objetos que devemos dispor por questões de prestígio (e de privilégio) – quiçá de identidade? Nesses casos, vale notar, não são os objetos ou mercadorias em si que importam, mas os símbolos que eles representam. Por serem efêmeros, esses objetos têm que ser constantemente substituídos. Os nossos dirigentes conhecem muito bem esta lição!
O que quero destacar com este adendo é que, da mesma forma que há um discurso liberal que antecede o liberalismo econômico, há também um discurso que antecede a constituição dos elos de identidade, de tal modo que as ações seguintes tornam-se justificadas, uma vez que, dentro de um comportamento previamente produzido, torna cúmplices os indivíduos envolvidos nessa ação, legitimando-a. Na realidade, mais do que materiais, são também e antecipadamente, criadas as condições psico-simbólicas para os novos pacotes culturais e identitários.
A esse respeito, vi, por exemplo, calorosos debates relacionados à introdução das línguas nacionais no sistema de ensino moçambicano. Entretanto, acerca do ensino apenas em inglês para algumas crianças (talvez por serem crianças da elite moçambicana) não vi quase nada. Aparece como ponto pacífico! A legitimação, dado o cenário simbólico previamente preparado, é sumária!
Se até pouco tempo falávamos de coerção física, hoje, num mundo essencialmente simbólico, uma vez simbolicamente castrados, os indivíduos vão pelos próprios pés competir, e assim sucessivamente consumirem os novos “pacotes comportamentais”.
Para não me alongar, o que eu quis mostrar é que vivemos um processo complexo e paradoxal em busca da moçambicanidade nos tempos “pós-modernos”. Isso, porque: se, por um lado, na direta proporção da evolução técnica, o aumento da competitividade traz consigo o aumento da produtividade (ou crescimento econômico, no caso de Moçambique), por outro, assiste-se a um processo, também galopante, de simplificação da vida; processo caracterizado pelo aprofundamento de males como o individualismo, a indiferença, o narcisismo, a esperteza, o privilégio (em detrimento do direito), etc., que, por sua vez, culminam com o emagrecimento da ética e da política e com o desmaio de valores como a solidariedade - substituída, enquanto isso, pelo utilitarismo e pela solicitude (representado pelo “social contact”).
Portanto, paralelamente à monetarização da cultura, isto é, da própria vida – política, participação, ser coletivo – há um processo proporcional de privatização das relações que, por sua vez, leva ao afrouxamento dos laços de identidade.
Daí o paradoxo, na medida em que para que a cultura aconteça é indispensável o ser coletivo. Assim sendo, como conciliar o ser coletivo num cenário em que desvencilhar-me do outro é um elogio? Como conciliar o lobolo – cuja essência é reunir famílias – por exemplo, se, ao mesmo tempo, no meu casamento (chique) devem estar apenas 50 pessoas? Não quer, com isso, dizer que não se faça, mas que talvez esteja aí apenas a parte utilitária desse costume.
Esse paradoxo explica, talvez, o hibridismo cultural em que vivemos. Aliás, mais do que hibridismo (salutar, as vezes), a esquizofrenia cultural em que vivemos – a distância entre um conceito e outro, vale notar, está na dose ministrada, de uma para a outra entre as diferentes práticas simbólicas -; estado no qual muitos de nós viemos para cá: com um estranhamento profundo das práticas próprias, valorizando exatamente aquilo que nos desqualificava aos olhos do nosso anfitrião. Ou seja, o anfitrião, ao procurar saber quem éramos, nós, em regra, apresentávamos uma cópia mal feita daquilo que ele era, supondo e assumindo a existência de uma hierarquia cultural entre os povos; entre a nossa e a dele, neste caso. Mas, mais tarde, ao notarmos isso, assim como Flores e Benmayer (1997), que “as pessoas descobrem-se a si mesmas através de afinidades culturais que as solidificam em grupos em virtude de seu encontro com aqueles que são culturalmente diferentes”, tratamos de fazer a devida apresentação, com a nossa música, danças, culinária, costumes, etc. Isso é muito bom! Mas, por outro lado, só isso não basta!
Isso não basta porque, de fato, no auge do capitalismo e da competitividade, os bens - sejam eles materiais ou culturais (a informação, a educação, etc.) - acabam como objetos de mercado, ao mesmo tempo em que valores como solidariedade, comunicação, fraternidade, são desfigurados. Esses valores são pervertidos. Não basta porque é preciso que as práticas simbólicas vigentes reflitam, efetivamente, esses valores, de encontro à privatização das experiências e ao empobrecimento do ser coletivo. Ou seja, não há como exaltar a moçambicanidade às custas do crescimento do índice Gini (índice que mede a desigualdade social), por exemplo; às custas do acirramento das divisões sociais e regionais, localizando o mal-estar apenas no “ocidente”, nos “chineses”, etc; divisões que internamente apenas funcionam como válvula de escape, isto é, para que o ressentimento das elites regionais seja descarregado sobre os “maquelimanes” – no mercado do estrela vermelha – por exemplo; ou para que a fúria da “sociedade” seja descarregada sobre os que são linchados, como outro exemplo, na medida em que estes são tidos, pela “sociedade”, não só a causa, mas eles mesmos como o mal estar social.
Em suma, isso não basta porque a moçambicanidade não está no fato do sol brilhar para alguns em solo moçambicano, mas na possibilidade deste brilhar para todos os moçambicanos. Ao contrário, todos nós procuraremos uma pequena banca de rebuçados para chutá-la - como fez um dos nossos compatriotas, em comemoração a um dos 3 golos de Moçambique sobre o Burkina Faso, no último dia 03/06 – afinal, esses vendedores são o mal estar da cidade.
Sem os valores supracitados, todas as práticas simbólicas tornam-se vazias. A moçambicanidade, nesse caso, é ociosa e deturpada. Ou seja, mantém-se o termo, mas, na essência, com uma acepção discrepante do verdadeiro sentido.
Por seu turno, ao enaltecer certas manifestações culturais tendo em conta as suas potencialidades como recurso, não se está a enaltecer, necessariamente, os valores citados acima. Pelo contrario. Pode ser que ocorra, na realidade, a subtração desses valores e também do protagonismo da cultura convencional: feita do povo para o povo, o que permite reconhecer-se no outro.
Thursday, July 12, 2007
Resposta ao Ercínio Salema!
Obrigado pelo comentário que fazes.
Tenho estado a evitar emitir a minha opinião com relação a já forte convicção de que vivemos uma espécie de faroest como sugere a machete da última edição do Savana. Não resisti, porém, comentar está descrição que mais me parece uma fantasia do jornalista.
No entanto, concordo com o Ercínio. Estamos, mesmo, mal. Mas não estamos mal por causa da dimensão ou proporção que o crime tomou no nosso país e em particular na cidade de Maputo. Não estamos mal pela fraca actuação da policia, justificada pela escassez de meios. Não estou a sair em defesa da policia. Não estamos mal pela “aparente” ousadia dos bandidos. Enfim, não estamos mal pelo que achamos saber do crime e de seu comportamento. Ercínio estamos mal, isso sim, pela ignorância aguda em relação ao crime na nossa sociedade. Essa ignorância pode causar perplexidade. Quem não sabe fica perplexo. Quem não sabe que não sabe, muito provavelmente, fica irredutível e no caso da policia agressiva. A policia acha que sabe qual é o problema, nós achamos que sabemos porque sentimos seus efeitos (cresce o medo), a imprensa acha que sabe e faz a inflação hiperbólica dos casos de crime que ocorrem. Mas saber mesmo, quem são os Criminosos de Maputo, um pouco na mesma linha do que Luis de Brito procurou estudar no “Os Condenados de Maputo”, o perfil dos reclusos nas nossas cadeias, isso não sabemos. Quando digo que não sabemos quem são os criminosos não estou a querer sugerir que se conheçam as caras dos criminosos. Estou sim a sugerir que num país, normal, com uma policia que pensa e por isso sabe não reage com perplexidade.
Procura-se estudar uma série de fenómenos que nos podem ajudar a conhecer melhor os criminosos. Em outras palavras, não sabemos nada sobre as características morfológicas do crime e os perfis dos criminosos. Onde ocorre? Quando ocorre? Onde é recorrente? Que tipo de delinquentes estão associados a que tipo de crimes? A que condições sociais está o crime associado? Qual poderia ser a unidade básica de patrulhamento e por ai em diante. Poderia continuar a lista das coisas que não sabemos sobre e relacionadas com o crime. O que estou a tentar dizer é que não há nada que conduza a que a verdadeira vocação e actuação da policia seja a antecipação e não a reacção de choque que a policia tem estado a fazer. É essa falta de conhecimento que nos torna mais vulneráveis porque não sabemos por onde começar a atacar, como gostamos de dizer, o problema. Alias não sabemos qual é o problema, sentimos o seu efeito e agimos instintivamente. Como nos parece ser característico. É a falta de perfis dos criminosos, falta de uma tipologia de crimes, falta de uma geografia do crimes que leva a que a policia esteja espalhada por todo lado e a desconfiar de todo o mundo. E a em última instancia tornar-se ela própria um perigo. Um perigo porque imprevisível. Estamos mais policiados que aqueles países onde supostamente actuam os terroristas. Agora, então, com a dupla FIR e cinzentinho, os das motinhas sumiram, a insegurança é ainda maior.
São várias coisas Ercínio que me ocorrem nesta resposta que se queria curta e breve, mas que se alongou e por isso já não cabe no espaço para os comentários. Vou, por isso, postá-la! Infelizmente, boa parte da imprensa só torna as coisas mais opacas com a sua atitude acrítica, como bem dizes, de ser apenas uma caixa de ressonância e com ruído.
Contra-informação!
MAIS um estabelecimento comercial especializado na venda de material informático, na cidade de Maputo, foi assaltado, na madrugada de ontem, por uma “gang” de quatro indivíduos munidos de armas de fogo do tipo metralhadoras, roubando diverso equipamento informático, seus consumíveis e valores monetários em dinheiro, cujos montantes não foram revelados.
Maputo, Quinta-Feira, 12 de Julho de 2007:: Notícias
Os criminosos viriam, minutos depois, a envolver-se num tiroteio com os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) que se fizeram ao local quando alertados da ocorrência. O ambiente provocado pelo tiroteio chegou a mergulhar a zona da Polana, mais precisamente o palco dos acontecimentos, num ambiente de pânico e insegurança até que os membros da PRM tomaram o controlo da situação.
Para lograrem os seus intentos, primeiro, os gatunos fizeram reféns, todos os guardas nocturnos dos estabelecimentos situados ao redor da loja, escolhida denominada Sahara Computers. Em seguida quebraram uma montra gigante e arrombaram uma das entradas, iniciando de imediato a acção de saque ao estabelecimento.
Depois de imobilizarem todos os homens que garantiam a segurança da zona, os meliantes teriam se dividido em pequenos grupos de dois, uns para controlar os reféns e outro para se ocupar do saque e dos possíveis movimentos que pudessem dificultar a sua acção.
Informações prestadas por uma empregada da loja dão conta que fazem parte dos consumíveis informáticos roubados computadores portáteis e de mesa, impressoras, scanners e valores monetários.
Testemunhas no local da ocorrência contaram que os assaltantes chegaram a envolver num tiroteio com a Polícia e agentes de algumas empresas de segurança, que na altura agiram em colaboração com os membros da PRM.
As mesmas testemunhas apontam que os gatunos conseguiram aguentar-se até à altura em que lograram escapulir-se da acção policial, retirando-se do terreno numa viatura com parte dos bens roubados.
Até ao fecho da presente edição, não tinha sido possível saber detalhes sobre as diligências das autoridades policiais, muito menos se nos confrontos terá havido, de parte a parte, mortos ou feridos.
Este é o segundo assalto à mão armada a registar-se, nesta semana, e o primeiro ocorreu na madrugada da última segunda-feira onde dois gatunos roubaram num posto de venda de combustível de onde retiraram valores monetários em montantes ainda não avaliados e uma arma de fogo do segurança do estabelecimento.
- A primeira nota diz respeito ao título sensacionalista e falacioso do artigo. O título sugere e com ênfase que houve morte e saque. Alguns parágrafos depois diz o seguinte: “ Até ao fecho da presente edição, não tinha sido possível saber detalhes sobre as diligências das autoridades policiais, muito menos se nos confrontos terá havido, de parte a parte, mortos ou feridos”. Que critérios seguiu o Jornalista para atribuir aquele título ao seu artigo? Este jornalista fez mesmo a reportagem, deslocando-se ao local ou ouviu dizer?
- É possível mesmo quatro pessoas imobilizarem todos os homens que garantiam a segurança da zona? Que zona? da loja? a rua? O bairro da polana? Depois teriam se divido em pequenos grupos de dois. Quatro pessoas, logicamente, só podem constituir dois grupos de duas pessoas? O jornalista refere-se as quatro pessoas, se é que eram quatro, como sendo uma “gang” enorme que se poderia dividir em vários “pequenos” grupos de dois. Tudo indica que isto não passa de uma fantasia do jornalista que quer fazer passá-la por notícia.
- Como é que os agentes de segurança privada ajudaram a policia se haviam sido feitos reféns, minutos antes do assalto? Soltaram-se. Vieram de outra zona?
- Não precisa muita imaginação para saber que este tipo de contra-informação presta mau serviço ao próprio combate ao crime e aterroriza as pessoas.
Bossa nova no CEB evoca Tom Jobim
O GUITARRISTA Queirós e seu grupo apresentam-se hoje, em espectáculo que inicia às 18:30 horas no Centro de Estudos Brasileiros (CEB), num concerto de homenagem ao compositor brasileiro Tom Jobim, um dos criadores e mais influentes nomes da bossa nova.
Queirós Júlia é um jovem e talentoso estudante de música numa instituição especializada brasileira, seguindo a especialidade em violão e guitarra.
O espectáculo desta noite incidirá não apenas em execução instrumental, com inclusão de instrumentos de sopro e percussão, mas com algum canto e ênfase em composições de Tom Jobim.
Faz agora 50 anos que a bossa nova foi criada no Brasil, tendo conquistado o mundo pela qualidade ímpar do seu ritmo musical.
O fenómeno Dama do Bling![1]
Desconheço o autor do texto acima. O certo é que não é da minha autoria. Recebi-o há dias por e-mail acompanhado da foto, no auge do show, da Dama do Bling. No que se segue, vou intentar uma espécie de “sociologia espontânea”, uma “sociologia de plantão” como diria Bourdieu, do sentido das reacções sobre a actuação da Dama do Bling, por um lado, e por outro lado, do que aquele tipo de expressão artística e musical pode representar para os tempos em que vivemos.
Auguro que vivemos uma “revolução silenciosa” na “música moçambicana” e que se está a reflectir-se sobre a nossa sociedade ou vice-versa. As aspas na música moçambicana não derivam do receio de a considerar como tal porque, PIMBA, é produzida por pessoas como a Dama do Bling. As aspas chamam a tenção para esse debate sobre oportunidades, num espaço instável pelos efeitos da mudança de valores sociais, disfarçado em debate sobre a identidades nacional da música. Devo desde já, mais uma vez, deixar clara a minha posição de advogado – do diabo? – da coexistência de uma diversidade e da multiplicidade de estilos musicais num país. Ninguém é mais ou menos moçambicano que ninguém por tocar o que toca. Todos podemos nos moçambibanizar e moçambicanizar o que fazemos. A música não seria a excepção. Não aguentaria viver num país onde só se escutasse a música de José Mucavel, por mais moçambicana, moral e politicamente correcta, educadora, etnomusical que fosse. Deve ser por isso, mesmo, que bazei! Devo ter fobia a pretensão de genuinidade e de originalidade! Foi isso que criou Nazismos, fascistas e até Mobutus com suas ideias de autenticidade. Não queremos mais produtores de “identidades assassinas”, a lá Maalouf, pela sua pretensão de genuinidade e originalidade. Nas sociedades modernas, e Moçambique tende necessariamente para lá, cultivasse essa diversidade e multiplicidade que me parece incompatível com essa vontade de ser ao invés de estar. A democracia, enquanto sistema político e social, está ai para salvaguardar, garantir, defender essa abertura para as liberdades.
Está a ocorrer uma revolução sim. Uma revolução que alguns de nós, sociólogos e não só, parece não estarmos a saber captar e documentá-la, com nossos quadros analíticos, nas suas manifestações mais elementares e quotidianas. Tenho sugerido, sempre que me parece conveniente, que enquanto estudantes do social, prestemos mais atenção para os sinais dessa “revolução social e cultural” que se está a operar, pelo menos, na cultura urbana em Moçambique. Essa revolução está documentada, por si só, sem as nossas categorias analíticas e classificatórias, no conteúdo, estilo, forma de execução e performance musical desses jovens a quem teimamos em criticar na base de valores morais que consideramos os mais genuínos. Uma boa parte de nós, salvo raríssimas, excepções está preocupado em arremessar seus juízos normativos e feitos guardiães da “boa”moral. Just let people be!
A expressão mais alta dessa revolução “silenciosa” parece vir-nos da arena musical. Desde os estilos musicais (letras, ritmos, sons etc) até a expressão corporal revelam ou são o efeito de uma mudança social profunda que alterou e vai continuar a fazê-lo os padrões e valores culturais da nossa sociedade. A nossa concepção do que é bom, mau, aceitável moralmente correcta ou não está a ser renegociada e reinventando todos os dias. Temos é que estar atentos a isso. No passado era pudor uma mulher usar calças. Hoje, quem se lembra de como eram vistas aquelas que usavam calças? O fenómeno Dama do Bling parece-me ser o protótipo da sociedade [pelo menos urbana] que nos estamos a tornar para a qual nos andamos desatentos. Continuamos a querer interpretar a sociedade de hoje com as lentes da sociedade de ontem. Somos actores e produtores dessa mudança e não nos reconhecemos no nosso produto. Marx denominou a esse efeito, um nome!
A maneira como exibimos o nosso corpo, como o expomos em, e ao,público, a maneira como falamos, as formas como manifestamos a nossasexualidade e por ai em diante reflectem os novos tempos em que vivemos. Reflectem as intervenções que nós próprios fomos introduzindo paulatina ou bruscamente, sem disso nos darmos conta, na nossa sociedade. Quantos de nós não participamos nas sessões de sensibilização para a questão do HIV/SIDA e presenciamos ou até mesmo exibimos o rijo pénis de madeira a ser vestido? Nessa altura já subvertíamos uma ordem moral e não nos dávamos conta! Podereis me dizer, que se tratava de uma questão de sobrevivência. Uma questão de vida ou morte, de doença. Mas o efeito não leva isso em consideração, quantos de nós ainda se constrangem quando assistimos diante dos pais, avós e por ai em diante a novela da 20:30h a cenas de beijos linguados e não só?
O atentado ao pudor, para os que assim consideram a actuação de Bling, não começou com aquela cantara. Lembram-se da Zaida? Dos aplausos dados, à Zairota, na altura, a Tsala Mwana? O que é que está a acontecer com e na nossa sociedade para que já não a reconhecemos e nos reconhecemos nela? Cantoras como Dama do Bling, parece-me, trazem nos apenas a consciência aquilo que já fomos em termos de valores sociais e morais. A nossa sociedade está a ser feita, desfeita e refeita, todos os dias e nós achamos que a conhecemos essencialmente. E nisso, não há crítica alguma da minha parte, insisto. Existe apenas um apelo para tentativa de lançar um “Olhar sociológico” para nós próprios! Ocorreu-me, para terminar, a celebre frase secular: Conheça a ti próprio. Neste caso conheçamo-nos a nós próprios. Heresia, a minha?
Wednesday, July 11, 2007
Sociólogo Ralf Dahrendorf galardoado!
Foi Neto Sequeira outro aspirante, da minha geração de socialização académica, a sociólogo, quem me chamou atenção para a notícia. Desde já agradeço pelo gesto. Pessoalmente tive contacto com os textos de Dahrendorf, se a memória não me trai, em 2001. Fazia a licenciatura em sociologia, na altura, e inscrevera-me para a cadeira de sociologia III que versava sobre as desigualdades sociais. Dahrendorf surgira nas leituras como um dos teóricos proponente das consideradas teorias de conflito. Afinal Dahrendorf escrevera bastante sobre “classes sociais e conflito de classes nas sociedades industriais, título posto a um de seus livros publicado em 1959. Nesse livro, Dahrendorf critica aquilo que considerou ser uma visão reducionista de Marx e das teorias marxistas na definição de classe social, provavelmente, por se terem fixado bastante a um determinado contexto, o capitalista oitocentista. Ao invés de se distinguir as classes sociais em termos de propriedade, os que leram Marx sabem de que estou a falar, Dahrendorf sugere que é no conceito de poder onde reside a base das diferenças de classes nas sociedades industriais. Assim, numa sugestão que não deixa de ter a veia marxista, pela divisão dicotómica da sociedade em classes, para Darendorf a sociedade estaria dividida entre aqueles que “ recebem ordens” e aqueles que “dão ordens”, ou por outra, entre os que são “mandados” e os que “mandam”. Que tal se pensarmos a nossa sociedade nestes termos? Que “olhares sociológicos” nos surgiriam? Quem manda e quem obedece na nossa sociedade? Enfim, fica lançado o convite para uma sociologia Dahrendorfiana da nossa sociedade.
Dahrendorf escreveu muitas outras coisas interessantes, entre as quais achei o livro com o seguinte título: Homo sociologicus, publicado em 1958. Numa espécie de golpe final para a reivindicação da autonomia da sociologia como disciplina científica e com seu próprio linguarejar, Dahrendorf sugere que o papel social está para a Sociologia assim como o átomo está para a Física. Em outras palavras, se para os físicos a unidade mínima de observação da meteria é o átomo, para os sociólogos seria o papel social. Na verdade a preocupação de Dahrendorf vai para além da reivindicação desse objecto específico para a sociologia. A sugestão do homosociologicus é uma paródia crítica a uma concepção economicista do ser social que o reduz a homoecomomicus. O Homoeconomicus, defendido por certas correntes económicas como sendo aquele (humano) actor racional e interessado com desejos individualistas de riqueza, evitando trabalho desnecessário, e com capacidade para fazer julgamentos que o conduzam a esses fins. Esse homo é contrário ao homosociologicus, Dahrendorfiano, que age não necessariamente para perseguir fins e interesses individualistas e egoístas, mas para preencher certos papéis sociais. Por estas posturas Dahrendorf é considerado como fazendo parte daqueles teóricos que procuram a síntese entre posturas ou modelos economicistas e sociológicos para o estudo do comportamento humano.
Tuesday, July 10, 2007
Os Sacos de Meia!
Friday, July 6, 2007
Ideia de génio[2]: (re)aprendendo a Olhar!
Gaston Bachelard [27 /06/1884 -16/10/1962]
Thursday, July 5, 2007
Ideia de Génio [1]: Formulando Problemas!
Albert Einstein [14/03/1879- 18/04/1955]
Wednesday, July 4, 2007
Pequenas escoriações ou eclipse da razão
A nossa polícia, e não só, e frequentemente figuras pública ligados ao governo, tem feito declarações que me parecem de gente que se encontra num verdadeiro estado de eclipse racional. Vou passar a prestar atenção a esse tipo de falas. O efeito dessas falas sobre nós é uma espécie de ilusão de óptica. Vemos o grande onde parece pequeno, o pequeno onde parece grande, mal onde parece bom e por ai em diante. É verdade que quando se trata de qualificativos/adjectivos normativos como estes é sempre preciso clarificar. Clarificar significa explicar o que é que faz o grande, grande ou o pequeno, pequeno. Grande não é universalmente grande, o pequeno idem. Ganhar uns mil meticais pode ser muito para quem não tem nada, mais muito pouco para quem tem uma conta bancária choruda. O eclipse ocorre quando sem nos apercebermos esquecemos dos critérios que culturalmente usamos para considerar o grande, grande ou o pequeno, pequeno. Pronto! Chega de tanto grande, pequeno e por ai em diante. Este pequeno exercício surge a propósito do caso do advogado alegadamente espancado pela PRM.
o porta-voz do comando geral da polícia, Pedro Cossa, diz que o advogado sofreu apenas pequenas escoriações.
Se o que as fotos reportam são pequenas escoriações, imagino que imagens teríamos se a tareia tivesse sido a valer!