Friday, July 20, 2007

O fenómeno DAMA DO BLING [2]

Recebi este texto por e-mail. Resolvi publicá-lo. Na postagem seguinte irei intentar uma breve reflexão sociológica sobre o significado do Fenómeno DAMA DO BLING que iniciei aqui!

DAMA DO BLING: ra, re, ri ro, rua....?

MAMUDO RAZACK
Exmo Senhor Director

Com sua mui gentil amabilidade solícito que publique a presente carta na página destinada aos leitores.

Circula como moeda corrente tanta “algazarra” à volta da propalada imoralidade propagandeada pela dita nova geração da música moçambicana, sobretudo pelo carácter paupérrimo das mensagens que corporizam tais músicas, mas também e sobretudo pela crescente exposição da paisagem íntima da mulher, quer em vídeos e ainda ao vivo, nos reputados espectáculos que nos são dados a ver.

E a esse respeita sobressai como expoente máximo da crítica popular a conhecida jurista(?) e cantora Ivânea Rosa Mudanisse (“o hi danissa mesmo”
[1]), popularmente havida por Dama do Bling.

É importante dizer-se que esta cidadã “entornou o caldo” na sua última aparição no programa MUSIC BOX da “espectaculosa” (diga-se STV), dada nudez exacerbada e sem precedentes com que nos brindou nessa ocasião.

Não sei se antes ou depois e se em reacção ou não às críticas arremessadas post MUSIC BOX, a Dra. Mudanisse presenteou-nos com mais uma música e, desta feita, afastando para longe as vozes que a censuram.

Embora não apreciador da performance desta cantora, tive o privilégio de receber, por e-mail, a letra da badalada última criação (não sei se da Bang Entretenimento ou Ivânea) e sintetizo-a em quatro pontos que considero essenciais:

Sou doutora e porque não posso cantar?
Neste andar entrarei na campanha eleitoral.
Quem pagou a minha escola?
Será que não posso cantar só por estar grávida?

Comecemos pela pergunta segundo a qual se pelo facto de ser doutora não pode cantar quando há ministro com 6ª classe a legislar.

Ora, apesar de concordar que a feitura de leis não se compadece com o simples traquejo político, entendo ser imperioso recordar a Dama do Bling que para além dela existem artistas que a para de possuírem formação superior também cantam. Temos que citar os exemplos de Seth Swaze (também jurista e quanto a mim, um dos melhores guitarristas e vocalistas moçambicanos), Arão Litsure (o Senhor Alambique), Norberto Carrilho (saiba que para além de exímio Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo é mestre na guitarra e na voz), Zé Manel (outro jovem promissor) e outros tantos.

Daqui há que dizer claramente: ninguém está a dizer que a Dra. Mudanisse não deve cantar, mas não me parece social e moralmente recomendável que exiba a sua paisagem íntima como se Deus fosse boçal ao dar sabedoria aos homens para distinguirem a roupa interior da restante, cuja visualização é reservada a quem lhe é cúmplice nos momentos de intimidade.

Imaginem o Arão Litsure a cantar de “boxers”, sem camisa e fazer movimentos propícios para o quarto, no palco e ante a crítica social defender-se com essa de Ministro de 6ª classe a legislar... valha-me Deus.

É exactamente por ser doutora que a sociedade não lhe poupa a pouca vergonha que nos dá a conhecer.

Portanto, não procede essa argumentação mesquinha.

No que se refere à possibilidade de embarcar numa campanha eleitoral, uma vez que nos mídia cada vez mais é Dama do Bling que está bater pelos diversos motivos, acho que já não será necessário.

Ora vejamos: a campanha eleitoral visa dar a conhecer ao eleitorado o que se não conhece de alguém que pretende ser eleito.

No caso em apreço, considerando vestimenta artística da Dama, que nos presenteia com toda a sua paisagem íntima, nada mais há a dar a conhecer, pois que quando o povo, do Rovuma ao Maputo vê tudo, incluindo o que, normalmente, apenas o consorte teria privilégio de ver, nada mais resta para mostrar.

Entretanto, a aludida campanha eleitoral justifica-se se a nossa doutora pretende mostrar aos moçambicanos como pode fazer o que se faz numa situação em que duas pessoas, na mais vulgar das intimidades fazem. Nesse caso daria por justificada a entrada para uma campanha eleitoral.

E se assim fosse, eu a aconselharia a não perder muito tempo em cantar para fazer a sua campanha eleitoral: bastaria, a partir das 18 horas, deslocar-se ao Luso, à Rua de Bagamoyo, à Av. Olof Palme (próximo da Procuradoria da Cidade), à Av. Mao Tsé Tung (na zona entre o Parque dos Continuadores e o Complexo Sheik). Ai certamente, com os seus habituais trajes artísticos, não passaria despercebida e tenho a certeza que muitos a solicitariam a provar o que sabe fazer.
Diz ainda, a nossa doutora que invadiram a privacidade dela. De quem se refere esta patrícia? De alguém vivendo no Marte ou na Lua?

Acho que nem é preciso invadir a privacidade desta cantora, pois ela mesmo se encarrega de nos deixar conhecer a sua floresta íntima. De que privacidade se refere Dra. Mudanisse? Acho que não é razoável que alguém que se expõe nuda e levianamente para milhões de moçambicanos venha reclamara quebra de privacidade.

Num outro excerto da sua canção justifica a alguma abastança dos progenitores para afirmar que não pediu esmola a ninguém para custear os estudos. E nem precisava pedir esmola.

Entretanto, esquece que são os moçambicanos laboriosos que com seus impostos garantem salário aos docentes que a formaram, bem assim o apetrechamento do estabelecimento de ensino por onde passou, das estradas e outros.

Acho um insulto indelével cuspir para os moçambicanos dessa forma, pois saiba que cada cidadão se esforça para que haja mais pessoas formadas e não pessoas que exibem descaradamente a nudez.

No que se refere a sua gravidez, pouco há a dizer, pois somente tememos que o petiz que ai vem se indigne com os progenitores ao saber que a sua gestação foi irresponsável e levianamente exibida aos moçambicanos, sendo que a sua mãe é objecto de comentários em nada abonatórios para o pudor social.

Em suma, Dra. Ivânea Rosa Mudanisse (este apelido é sugestivo), ninguém está contra as suas cantarolices, mas poupe os moçambicanos dos detalhes sórdidos.

E não venha com essa de que está a ser perseguida e que quebraram a sua privacidade. V.Excia é quem quebrou a própria privacidade, se é que esta algum dia existiu.

Tome Nota.
[1] Em português: de facto nos envergonha.

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