“Ralf Dahrendorf, sociólogo britânico de origem alemã, foi galardoado, esta quarta-feira, com o Prémio Príncipe das Astúrias das Ciências Sociais 2007, obtendo a preferência dos júri de entre as mais de 30 candidaturas. “O sociólogo Dahrendorf foi reconhecido pelo “grande contributo para as Ciências Sociais” e pela “preocupação por uma Europa baseada nas sociedades abertas e cosmopolitas, em que se defendem os direitos e liberdades dentro de uma nova ordem internacional”. O júri assegurou Dahrendorf como um dos autores fundamentais das teorias de conflito social e um dos máximos representantes do pensamento liberal europeu contemporâneo”.[Veja fonte, aqui].
Foi Neto Sequeira outro aspirante, da minha geração de socialização académica, a sociólogo, quem me chamou atenção para a notícia. Desde já agradeço pelo gesto. Pessoalmente tive contacto com os textos de Dahrendorf, se a memória não me trai, em 2001. Fazia a licenciatura em sociologia, na altura, e inscrevera-me para a cadeira de sociologia III que versava sobre as desigualdades sociais. Dahrendorf surgira nas leituras como um dos teóricos proponente das consideradas teorias de conflito. Afinal Dahrendorf escrevera bastante sobre “classes sociais e conflito de classes nas sociedades industriais, título posto a um de seus livros publicado em 1959. Nesse livro, Dahrendorf critica aquilo que considerou ser uma visão reducionista de Marx e das teorias marxistas na definição de classe social, provavelmente, por se terem fixado bastante a um determinado contexto, o capitalista oitocentista. Ao invés de se distinguir as classes sociais em termos de propriedade, os que leram Marx sabem de que estou a falar, Dahrendorf sugere que é no conceito de poder onde reside a base das diferenças de classes nas sociedades industriais. Assim, numa sugestão que não deixa de ter a veia marxista, pela divisão dicotómica da sociedade em classes, para Darendorf a sociedade estaria dividida entre aqueles que “ recebem ordens” e aqueles que “dão ordens”, ou por outra, entre os que são “mandados” e os que “mandam”. Que tal se pensarmos a nossa sociedade nestes termos? Que “olhares sociológicos” nos surgiriam? Quem manda e quem obedece na nossa sociedade? Enfim, fica lançado o convite para uma sociologia Dahrendorfiana da nossa sociedade.
Dahrendorf escreveu muitas outras coisas interessantes, entre as quais achei o livro com o seguinte título: Homo sociologicus, publicado em 1958. Numa espécie de golpe final para a reivindicação da autonomia da sociologia como disciplina científica e com seu próprio linguarejar, Dahrendorf sugere que o papel social está para a Sociologia assim como o átomo está para a Física. Em outras palavras, se para os físicos a unidade mínima de observação da meteria é o átomo, para os sociólogos seria o papel social. Na verdade a preocupação de Dahrendorf vai para além da reivindicação desse objecto específico para a sociologia. A sugestão do homosociologicus é uma paródia crítica a uma concepção economicista do ser social que o reduz a homoecomomicus. O Homoeconomicus, defendido por certas correntes económicas como sendo aquele (humano) actor racional e interessado com desejos individualistas de riqueza, evitando trabalho desnecessário, e com capacidade para fazer julgamentos que o conduzam a esses fins. Esse homo é contrário ao homosociologicus, Dahrendorfiano, que age não necessariamente para perseguir fins e interesses individualistas e egoístas, mas para preencher certos papéis sociais. Por estas posturas Dahrendorf é considerado como fazendo parte daqueles teóricos que procuram a síntese entre posturas ou modelos economicistas e sociológicos para o estudo do comportamento humano.
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