Thursday, July 12, 2007

O fenómeno Dama do Bling![1]

“Num verdadeiro show de palavras a Dama do Bling voltou as rádios com mais um Hit, trata-se da música "Sai" e desta feita para calar a boca daqueles que tanto mal falam dela, estamos a citar palavras da artista. Nos últimos dois anos desde a sua primeira aparição nos palcos da música moçambicana que esta artista extrovertida e irreverente levantou várias vozes, devido a sua maneira de estar em palco. Muita ousadia, erotismo e atrevimento são algumas das suas características. Ela que é formada em Direito com o grau de Licenciada atribuído pela maior unidade de ensino superior do país a UEM, diz que não está a exercer Direito por opção própria, porque a sua paixão é a música. Para Dama do Bling ela é diferente dos demais que gostariam de fazer tanta coisa mas não o fazem por preconceitos. As vozes do povo se elevaram quando durante a sua actuação na última semana no programa transmitido pela STV Music Box deixou ficar por fora os contornos da sua feminidade, e uma gravidez patente. Na sua nova música Dama do Bling questiona jovem com diploma não pode cantar mas ministro com sexta-classe pode legislar? Pois é dá que pensar!”.

Desconheço o autor do texto acima. O certo é que não é da minha autoria. Recebi-o há dias por e-mail acompanhado da foto, no auge do show, da Dama do Bling. No que se segue, vou intentar uma espécie de “sociologia espontânea”, uma “sociologia de plantão” como diria Bourdieu, do sentido das reacções sobre a actuação da Dama do Bling, por um lado, e por outro lado, do que aquele tipo de expressão artística e musical pode representar para os tempos em que vivemos.

Auguro que vivemos uma “revolução silenciosa” na “música moçambicana” e que se está a reflectir-se sobre a nossa sociedade ou vice-versa. As aspas na música moçambicana não derivam do receio de a considerar como tal porque, PIMBA, é produzida por pessoas como a Dama do Bling. As aspas chamam a tenção para esse debate sobre oportunidades, num espaço instável pelos efeitos da mudança de valores sociais, disfarçado em debate sobre a identidades nacional da música. Devo desde já, mais uma vez, deixar clara a minha posição de advogado – do diabo? – da coexistência de uma diversidade e da multiplicidade de estilos musicais num país. Ninguém é mais ou menos moçambicano que ninguém por tocar o que toca. Todos podemos nos moçambibanizar e moçambicanizar o que fazemos. A música não seria a excepção. Não aguentaria viver num país onde só se escutasse a música de José Mucavel, por mais moçambicana, moral e politicamente correcta, educadora, etnomusical que fosse. Deve ser por isso, mesmo, que bazei! Devo ter fobia a pretensão de genuinidade e de originalidade! Foi isso que criou Nazismos, fascistas e até Mobutus com suas ideias de autenticidade. Não queremos mais produtores de “identidades assassinas”, a lá Maalouf, pela sua pretensão de genuinidade e originalidade. Nas sociedades modernas, e Moçambique tende necessariamente para lá, cultivasse essa diversidade e multiplicidade que me parece incompatível com essa vontade de ser ao invés de estar. A democracia, enquanto sistema político e social, está ai para salvaguardar, garantir, defender essa abertura para as liberdades.

Está a ocorrer uma revolução sim. Uma revolução que alguns de nós, sociólogos e não só, parece não estarmos a saber captar e documentá-la, com nossos quadros analíticos, nas suas manifestações mais elementares e quotidianas. Tenho sugerido, sempre que me parece conveniente, que enquanto estudantes do social, prestemos mais atenção para os sinais dessa “revolução social e cultural” que se está a operar, pelo menos, na cultura urbana em Moçambique. Essa revolução está documentada, por si só, sem as nossas categorias analíticas e classificatórias, no conteúdo, estilo, forma de execução e performance musical desses jovens a quem teimamos em criticar na base de valores morais que consideramos os mais genuínos. Uma boa parte de nós, salvo raríssimas, excepções está preocupado em arremessar seus juízos normativos e feitos guardiães da “boa”moral. Just let people be!

A expressão mais alta dessa revolução “silenciosa” parece vir-nos da arena musical. Desde os estilos musicais (letras, ritmos, sons etc) até a expressão corporal revelam ou são o efeito de uma mudança social profunda que alterou e vai continuar a fazê-lo os padrões e valores culturais da nossa sociedade. A nossa concepção do que é bom, mau, aceitável moralmente correcta ou não está a ser renegociada e reinventando todos os dias. Temos é que estar atentos a isso. No passado era pudor uma mulher usar calças. Hoje, quem se lembra de como eram vistas aquelas que usavam calças? O fenómeno Dama do Bling parece-me ser o protótipo da sociedade [pelo menos urbana] que nos estamos a tornar para a qual nos andamos desatentos. Continuamos a querer interpretar a sociedade de hoje com as lentes da sociedade de ontem. Somos actores e produtores dessa mudança e não nos reconhecemos no nosso produto. Marx denominou a esse efeito, um nome!

A maneira como exibimos o nosso corpo, como o expomos em, e ao,público, a maneira como falamos, as formas como manifestamos a nossasexualidade e por ai em diante reflectem os novos tempos em que vivemos. Reflectem as intervenções que nós próprios fomos introduzindo paulatina ou bruscamente, sem disso nos darmos conta, na nossa sociedade. Quantos de nós não participamos nas sessões de sensibilização para a questão do HIV/SIDA e presenciamos ou até mesmo exibimos o rijo pénis de madeira a ser vestido? Nessa altura já subvertíamos uma ordem moral e não nos dávamos conta! Podereis me dizer, que se tratava de uma questão de sobrevivência. Uma questão de vida ou morte, de doença. Mas o efeito não leva isso em consideração, quantos de nós ainda se constrangem quando assistimos diante dos pais, avós e por ai em diante a novela da 20:30h a cenas de beijos linguados e não só?

O atentado ao pudor, para os que assim consideram a actuação de Bling, não começou com aquela cantara. Lembram-se da Zaida? Dos aplausos dados, à Zairota, na altura, a Tsala Mwana? O que é que está a acontecer com e na nossa sociedade para que já não a reconhecemos e nos reconhecemos nela? Cantoras como Dama do Bling, parece-me, trazem nos apenas a consciência aquilo que já fomos em termos de valores sociais e morais. A nossa sociedade está a ser feita, desfeita e refeita, todos os dias e nós achamos que a conhecemos essencialmente. E nisso, não há crítica alguma da minha parte, insisto. Existe apenas um apelo para tentativa de lançar um “Olhar sociológico” para nós próprios! Ocorreu-me, para terminar, a celebre frase secular: Conheça a ti próprio. Neste caso conheçamo-nos a nós próprios. Heresia, a minha?


6 comments:

Nkhululeko said...

De acordo! Um abraço.

Patricio Langa said...

Vamos "acordar" Andre.
abraço.

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