Friday, July 27, 2007

Quando o senso comum erudito reina: sobre a marcação da data das eleições provinciais!

  1. O senso comum erudito é aquela opinião que passa por sabedoria quando não tem mais do que valor opinativo mesmo. Digo isto por causa do que tenho estado a ouvir e observar nas rádios e televisões nacionais a propósito da alteração da data das eleições provinciais pelo chefe de estado de 20 de Dezembro, deste ano, para 16 de Janeiro do próximo. Vejo (pseudo) doutores a legitimarem desconhecimento e senso comum como se de factos se tratasse. A sociologia politica ou a ciência politica de modo geral não é meu forte, mesmo por interesse, apesar da mola que isso dá em consultorias. No entanto, do pouco que tenho lido e debatido com pessoas nessas áreas académicas, no nosso país, não temos evidencias de que existe:

    a) Relação, correlação ou associação entre etnia e tendência(orientação) do voto.
    b) Entre etnia e abstenção.
    c) Entre religião e tendência (orientação) do voto.
    d) Entre período chuvoso e afluência as urnas.

    Por que contas de águas se diz que a decisão do presidente visa capturar o voto muçulmano? Até pode ser. Isto se os assessores do presidente pensarem e agiram como os pseudo doutores da doxa. Fala-se, por exemplo, de “comunidade muçulmana”! O que é isso mesmo? Serão os que professam o(s)islamismo(s) como religião? Desde quando é que essas pessoas, em Moçambique, se tornaram uma comunidade? Que tipo de comunidade? Que eu saiba, pode ser por defeito, existem várias tendenciais ou correntes islâmicas neste país. Qual dessas tendências faz a comunidade? É uma comunidade com consciência e agenda política ao ponto de lhe podermos atribuir ou prever um determinado comportamento eleitoral? O pouco que sei é que a tendência do voto é por filiação partidária. Quanto mais enraizado for o sentido de pertença ao partido e a influência do partido (dos dois principais signatários do AGP) sobre o indivíduo maior a probabilidade de votar no partido x ou y. Daí nas zonas de maior predominância e influência da Frelimo prevalecer um voto frelimista e nas zonas de maior predominância da Renamo prevalecer a tendência de voto renamista. E isto de um modo geral. Ao que tudo indica o presidente mudou a data a pensar que vai agradar aos muçulmanos. O que não percebeu ainda é que não há sinais alguns de voto muçulmano. Amanhã vamos falar de voto Católico, Protestante, Zione e até Gay (homossexual, atenção não é mesma coisa) e marcar as datas para as eleições em função das agendas desses grupelhos! Está aqui mais um terreno em que a doxa feita erudita comanda nossas acções. Estamos a agir como a polícia, atirarndo para tudo o que é lado, por falta de conhecimento.

1 comment:

Bayano Valy said...

Patrício, espero que o Brazil esteja a fazer-te bem. Não sei porquê acabei não comentando este post na altura em que o publicaste. Mas vale tarde do que nunca, não é? Vou cingir-me na questão de comunidade muçulmana. Primeiro e sem querer ferir susceptibilidades, os muçulmanos professam o Islão. Acho eu que o islamismo refere-se à corrente política do Islão. Posto isto, As questões que coloca são pertinentes, e como muçulmano ajudam-me a aprofundar mais as minhas inquietações - estou a escrever um livro sobre história islâmica em Moçambique, e quiça um dia verá a luz do dia. Estou a tentar compreender essa comunidade em que estou de alguma forma circunscrito. Agora, no meu entender e como as coisas são colocadas, comunidade muçulmana vai de alguma forma englobar o 18% de moçambicanos que dizem professar a religião islâmica e têm um interesse comum de, de alguma forma, verem o Islão a expandir-se, pelo menos aqui em Moçambique. Esta comunidade ocupa o espaço geográfico moçambicano. Não há dúvidas que os interesses deste grupo não são monolíticos, mas hão-de existir alguns em que todos se revejam. Sim existem várias tendências e correntes, o que de alguma forma acaba emprerrando o processo de solidificação deste grupo. Nem sempre há acordos. Existem os que têm mais dinheiro e os com menos, e degladiam-se no referente à liderança dessa mesma comunidade. Tem elites que de alguma forma acabam definindo a agenda dos restantes, e há uma emergência, ao meu ver, de uma elite nacional que começa a questionar a cor de liderença (dá para fazermos um estudo, mas existe racismo mesmo, apesar se tentativas de se abafar isso). De facto não há voto muçulmano senão na cabeça de alguns. O que sei que há é uma maior fatia de muçulmanos a residirem no norte e centro do país. Se o norte e o centro de país são campos de batalhas política, pode-se especular as razões da alteração da data. Enfim, acho que podemos debater mais esse assunto. Logo que tiver tempo vou criar um blog só para falar de assuntos islâmicos em Moçambique.
Abração