Thursday, November 22, 2007

Mal dizer, insinuações e crítica (social): as dúvidas de um dos cavaleiros da Távola Redonda!

Há quem acha que fazer crítica social é apenas criticar por criticar. Há gente que acha que fazer critica social é criticar o governo e/ou seus membros por tudo e por nada. Há gente que acha que fazer crítica social é fazer insinuações. Há gente que acha que fazer crítica social é fazer aforismas cheios de insinuações. Mal dizer não é crítica social. Insinuações são perniciosas ao debate aberto de ideias. Qualquer um pode e têm competência para mal dizer, mas nem todos têm-na para fazer crítica social. A crítica (social) têm acima de tudo a pretensão de compreender questionando argumentos! A crítica é um instrumento fundamental no exercício analítico de compreender a sociedade em que vivemos. A crítica é acima de tudo a critica de uma di-visão do mundo, é uma maneira de interpretar e explicar o mundo. A crítica que faço pretende acima de tudo atacar argumentos mal formulados, argumentos falaciosos e fracos não importa quem os formule. A crítica que visa pessoas, não é crítica, é mal dizer. A crítica visa um argumento. Não existe uma tal categoria, homogénea, de “críticos de Azagaia”, que pensam da mesma maneira e que pretedem simplesmente desqualificar seu trabalho. No meu caso, particular, nem se quer vivo em Moçambique. Não conheço, pessoalmente, Azagaia nem tenho porque o desqualificar. Aliás, “curto” o som, mas não concordo com a leitura que faz do país. Para nos engajarmos num debate aberto e construtivo é preciso ter a prudência de se dirigir a cada um dos que interpelam Azagaia ou nos interpelam nos nossos argumentos.

Coitada da sociologia.

Há gente que acha que tudo que se parece com crítica cabe na sociologia. Há gente que confunde mal dizer com a atitude crítica de que a sociologia se diz fazer. A atitude crítica que informa o labor sociológico é aquela consonante com a crítica(social) a argumentos e a di-visão do mundo. Tudo o que vem depois dessa pretensão é política (real) disfarçada em atitude crítica. Há quem evoca e convoca os espíritos de Marx, Durkheim e Weber para justificar o seu engajamento dizendo que eles além de compreender ansiavam pela transformação da ordem social. Há aqueles também que buscam em Bourdieu a justificação para a sua acção política como cidadãos. Não se lembram é que a parte menos rigorosa do labor sociológico desses clássicos foi justamente a sua praxiologia. A parte menos interessante de Bourdieu é a sua política e não a sua sociologia. Além disso, os clássicos desenvolveram atraves da atitude crítica ( própria da sociologia) instrumentos analíticos para interpretar e comprender o mundo em que viviam. Depois usaram a política – alguns – temidamente, para alcançar o mundo que sonhavam. O maior contributo de Marx foi a sua teoria social de análise de classes, e não necessáriamente a ideologia Marxista. A crítica social de Marx encontra-se na formulação do problema da sociedade capitalista e não na sua solução política. Digo de Marx como poderia dizer dos outros. Não quer isto dizer que o ofício sociológico é isento de valores, de desejo de um mundo melhor, de política. Engana-se quem assim pensar. A própria sociologia é um valor, mas se bem feita não é um juizo de valor. Não há nada errado em ser político e ser cientista. Problemático é legitimar a acção política em nome da ciência. Nem sei se seria bom que os políticos fossem cientistas. É que os primeiros agem na base de certezas, e os segundos agem ou não em função das dúvidas.



Agora as dúvidas!

1) Chamar aos "críticos de Azagaia" - aliás críticos do trabalho de Azagaia, aliás do conteúdo do trabalho de Azagaia, aliás do raciócinio de Azagaia - de Cavaleiros da Távola Redonda é um grande elogio ou é uma atitude insinuante para desqualificar?

2) O que dizer dos jovens que analisam a obra de Azagaia sendo eles também jovens? São alienados? Estão a preparar o seu futuro no governo? Aliás, o que tem a ver a idade – essa categoria identitária estrategicamente manipulável – com o debate sobre a criação de Azagaia?

3) Porque é que criticar os que criticam o governo, o sistema jurídico ou outra coisa –as vezes sem mérito e com argumentos problemáticos– é estar, para algumas pessoas, a favor dos corruptos, a defender os políticos, em conluio com o sistema? Porque que é que essa crítica não pode ser vista, simplesmente, como crítica?

4) Se alguém me diz que todos os politicos do meu país são corruptos, e não me apresenta razões plausíveis, por que razões eu devo concordar? Para não ser considerado corrupto? Para ser considerado criticamente correcto?Para estar do lado da razão? Qual é o lado da razão?

5) Porque é que questionar a confusão entre desabafo e crítica social é estar contra - a "crítica" do - Azagaia, é dizer que está tudo bem?

6) Não duvido que um mundo ideal seria aquele em que todos tivessem alguma atitude sociológica, propriamente dita: “Duvidar das verdades simples”. Para duvidar das verdades simples, não precisa ter ido a faculdade, não precisa necessáriamente ter assistido as aulas de sociologia de nenhum professor consagrado. A atitude crítica, essencial à sociologia, não se ortoga com credênciais. Aliás no nosso país os que mais distorssem a sociologia são os próprios, pretensos, sociólogos.

20 comments:

Bayano Valy said...

eish patrício. me parece que estás a desabafar. posso até concordar com muitas coisas com que escreveste, mais como me obrigas mesmo porque não discordar com esta tua verdade simples: "Aliás no nosso país os que maior distorssem a sociologia são os próprios, pretensos, sociólogos"?

Concordo plenamente sobre o que dizes da crítica, e pessoalmente vou aprendendo a fazer crítica social e não mal dizer, embora haja momentos que o desejo de "não duvidar e agir" seja forte. um abração

Patricio Langa said...
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Patricio Langa said...

Bayano.
Eishhhh com tanto desabafo a “bater” fazer mais como…!Olha, estou mesmo convencido que há mais sociólogos distorcendo do que fazendo sociologia de facto. Agora, numa coisa têns razão. Esse fenómeno não é só Moçambicano. Ontem li um artigo sobre um estudo realizado numa universidade. O estudo concluira que é nas faculdades onde se leciona sociologia onde mais se distorcia o ethos da disciplina. Aliás se pensarmos nos ensios de Max Weber sobre Política e Ciência como vocação (alguns já devem achar estes textos caducados) essa conclusão faz sentido. E de Moçambique não me faltam exemplos.

Bayano Valy said...

Patrício,
acho que o debate que se impõe nas ciências sociais é sobre a "pureza" desta disciplina. Explico-me: como se fazer a distrinça entre cientista e cidadão? Acho que é aqui onde reside o cerne da questão, porque quanto mais leio sobre sociologia mais fico com a sensação de que há no vosso seio grandes tensões com uns a quererem manter-se fíel à "pureza" científica e outros a quererem um rompimento com a tradição. Posso estar errado, mas creio que é isso que está a acontecer e com os contactos que cada um de vocês têm pelo mundo académico não há como o debate não ser transportado para o nosso seio. Outro problema é que o debate de que tanto clamam parece não acontecer no seio da vossa classe. Ou se acontece não é ao nível da esfera pública e os confrontos de ideias não são direccionados, mas sim feitos à socapa como se a outra ala não existisse.

Patricio Langa said...

Bayano.
Tens razão. Existe um “unfinished business” na sociologia, ou como dizes entre o cidadão e o sociólogo. O debate é forte mesmo. Em moçambique esse debate assim como tantos outros simplesmente não existe. E se existe é muito velado e embrulhado com ataques pessoais (desqualificação). Nos EUA, e depois na Europa esse assunto foi trazido a tona de novo em 2004/5 com a capa de “Public Sociology” por um sociólogo americano, Michael Burawoy, ex-presidente da Associação Americana de Sociologia (ASA) e actual vice da ISA (Associação Internacional de Sociologia). Burawoy quis vir a Maputo debater sobre o assunto, mas eu não consegui convencer aos colegas aí que a ideia seria interessante. Quase ninguem respondeu ao convite que fiz. Acabou ficando apenas aqui na RSA. Em Dezembro- se conseguir tempo – penso em publicar no blog uma série de artigos (ensaio) sobre o que chamo de Ecos da sociologia pública em Moçambique. Esses artigos referem-se ao debate velado que há algum tempo eu e outros bloguistas Moçambicanos (de alguma maneira) temas estado a fazer.

Patricio Langa said...
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Patricio Langa said...

Bayano.
Tens razão. Existe um “unfinished business” na sociologia, ou como dizes entre a acção do cidadão e a do sociólogo. O debate é forte mesmo. Em moçambique esse debate assim como tantos outros simplesmente não existe. E se existe é muito velado e embrulhado com ataques pessoais (desqualificação). Nos EUA, e depois na Europa esse assunto voi trazido a tona de novo com a capa de “Public Sociology” por um sociólogo americano, Michael Burawoy ex-presidente da Associação Americana de Sociologia (ASA) e actual vice da ISA (Associação Internacional de Sociologia). Burawoy quis vir a Maputo debater sobre o assunto, mas eu não consegui convencer aos colegas aí que a ideia seria interessante. Quase ninguem respondeu ao convite que fiz. Acabou ficando apenas aqui na RSA. Em Dezembro- se conseguir tempo – penso em publicar no blog uma série de artigos (ensaio) sobre o que chamo de Ecos da sociologia pública em Moçambique. Esses artigos referem-se ao debate velado que há algum tempo eu e outros bloguistas Moçambicanos (de alguma maneira) temos estado a fazer.

Elísio Macamo said...

caro patrício, belo texto este! ando muito longe dos blogues por isso não tenho podido acompanhar os vossos debates. li o texto do professor serra a que te referes. penso que é uma boa tentativa de situar a reacção às críticas que são feitas ao artista. acho que ele se engana no aspecto da ciência, infelizmente, como de costume. a crítica que eu fiz ao azagaia e que tu tão bem fizeste recentemente não é contra a falta de rigor analítico no que ele canta; a crítica é à ideia de que o que ele canta é crítica social, isto é ao facto de alguns de nós tomarem aquilo por crítica social. só isso. espanta-me que isto seja assim tão difícil de perceber.
bayano, a questão que levantas sobre a destrinça é fundamental. não creio que seja fácil, mas a dificuldade em o fazer está no centro de toda a problemática da actividade sociológica. somos membros da sociedade e temos um interesse natural em que as coisas mudem para o melhor. temos, contudo, a obrigação de interpelar as coisas de forma crítica, isto é, de forma tão aproximada à isenção e objectividade quanto possível. o que é que isso significa? significa que temos que ser transparentes nos nossos procedimentos analíticos e temos que ter a humildade de reconhecer que só podemos ver um lado de uma questão. os excessos da frelimo no período imediatamente a seguir à independência foram cometidos por gente que tinha feito uma análise "científica" e tinha concluído que toda a discussão era supérflua. nunca nos devemos esquecer disto. é um dever patriótico não esquecermos isto. eu não me esqueço e, por isso, tento pautar pela análise pelo simples prazer de partilhar com os outros a forma como vejo as coisas na esperança de ser contrariado no debate de ideias. penso que essa é uma forma de cidadania responsável. e humilde. criticar por criticar, como diz o patrício, é perca de tempo e muito pernicioso.

Patricio Langa said...

Oi. Elísio.
É isso! Começo a duvidar se a difuldade está mesmo em perceber a ideia que sugerimos ou a ideia é contrariar por contrariar!Há diferença entre crítica e desabafo,assim como há diferença entre criticar uma ideia (argumento) e mal dizer de alguém. Será tão díficil perceber isto?
Bayano.
Para um sociologo com responsabilidade, a melhor maneira de ser cidadão, é ser cada vez mais sociólogo! Quanto melhor sociologia fizer, quanto melhor cidadão será! Pessoas como Burawoy- e já te antecipo o que acho dessa história de “Public Sociology”, Marxistas, no sentido ideologico do termo - estão desesperados em transformar o mundo. Já não tem tempo para compreendê-lo, então fazem política(real) e chamam-na de sociologia (pública).!

Bayano Valy said...

Caro Patrício,
Pena que não se tenha aceite o convite que formulaste. Acho que a recusa ao debate começa a ser sintomática no nosso seio. Não se curcunscreve apenas à sociologia. O mesmo acontece no jornalismo - os "debates" que existem são para se dar a entender que há produção de ideias quando na realidade o interesse é outro. Acho que foi o ano passado em que o EM foi falar aos jornalistas no SNJ e alguém viu na crítica um insulto, e o questionou sobre a autoridade que tinha em falar do jornalismo. Outros até reclamam porque os sociólogos perscrutam as páginas dos jornais para comentar sobre este e aquele assunto. Tenho dito que se não há debates internos, outros irão debater em nosso lugar.
Caro Elísio,
espero que a ausência prolongada termine o mais cedo possível. não posso acrescentar quase nada em relação à crítica social - essa é a vossa praia. o que posso dizer é lamentar a ausência ou presença (velada) do debate sobre o que é isso de crítica social na prática; sobre que metodologia a usar para fazê-lo; porquê usar esta e não aquela metodologia; quais as implicações do uso desta e não aquele metodologia; entre outros. e agora que começamos esta reflexão, como é que se pode fazer o exercício de distrinça entre o cientista e o cidadão na máxima das isenções; como é que se pode chegar ao grau de mais sociólogo a que se refere o Patrício. Enfim, nós os outros vamos acompanhando.

chapa100 said...

patricio! sobre o assunto, que neste texto tocas, falamos na ultima vez que estive em maputo, quando analisavamos o caso do debate publico sobre a dama do bling. o que esta em causa sao os instrumentos de analise que usamos para nossa argumentacao. herdamos esta pressa com slogans e solucoes simples. uma heranca que custa questionar sem individualizar o debate algumas vezes. acho que devemos continuar este debate, com razao ou mais desabafo ele tem razao de existir.

Anonymous said...

alo a todos.
nao pertenco a classe dos sociologos mas tenho acompanhgado de perto os debates que tem ocorrido envolta das ideias e dos criticos de Azagaia (e outros temas).
tambem fiquei supreso (pela negativa) ao deparar-me com uma dificuldade que ha em encarrar as coisas como sao e lebertar-se de discussoes apaixonadas.
aquando do lancamento do album do Agagaia (de quem sou fa numero 1) houve uma explosao de reacoes referindo que surgia no mercado um critico social, quando na verdade ate o proprio Azagaia reconheceu que o que ele fez foi trazer aos nossos ouvidos aquilo que o povo ve sente e nao diz, e essa atitude pode ser percebida ouvindo outras das suas musicas (nao apenas as duas mais faladas).
eu penso que a distorcao de que o Azagaia passou a ser um critico social na sua essencia, comecou mesmo no seio daqueles que se vem como criticos sociais que apaixonaram-se (acredito eu) pela forma como o Azagaia apresentava as suas ideias, e essa paixao originou, inevitavelemente, uma especie de cegueira pois a capacidade de analizar as criticas, a essa suposta critica social do Azagaia, desaparecu. passaram todos a usar aquilo que em Psicologia dizemos mecanismos de defesa, com "argumentos" de que "...o que Azagaia faz e critica social e quem nao aceita e' porque nao quer ver a verdade"

Acredito que esta situacao vem nos mostrar a urgencia de se promoverem debates serios em volta da atitude metodos e instrumentos da critica social.

tenho dito e muito obrigado

PS: disculpem-me a falta de acentuacao.

Patricio Langa said...

Oi. Haid.
É bom ver por aqui.
Venha mais vezes.
Abraço

Anonymous said...

Nunca entendi do porque Elísio Macamo não comenta directamente no blog do Carlos Serra ou vice-versa (Carlos Serra no blog do Elísio Macamo). O Patrício faz alguns comentários no blog do Serra, mas parece-me não acontecer ao inverso.

Atacam-se indirectamente e apoiam-se em alguns ehehehe.

Obs: Não me preocupo dos vossos epítetos que não me fazem diferanca e nem preciso de me explicar.

Patricio Langa said...

Caro Anónimo.
Tenho Visto comentários assinados ESM no Diário ….!
Achei que fosse o Elísio.
Ademais, os comentários são livres.
As vezes não comentar, é uma maneira de comentar “alto”!

Elísio Macamo said...

não creio que o desafio agora seja de se chegar a algum consenso sobre como analisar. no fundo, este debate em si ajuda-nos a clarificar essa questão. para mim o mais importante é tentar perceber o que significa esta forma de discussão. algo me diz que se trata de um comentário muito crítico em relação à nossa esfera pública. há uma grande necessidade de posicionamento (contra ou a favor) e isso é efeito do nosso sistema político. portanto, se calhar o desafio está em tentar perceber a nossa esfera pública, sobretudo a forma como o sistema político condiciona o debate.
patrício, esm que comenta no blogue do carlos serra não sou eu. não sei de quem se trata. já fiz vários comentários lá, embora em tempos que já lá vão, mas quando me pronuncio no meu blogue sobre questões que lá vi digo-o. não me parece absolutamente necessário que cada um de nós comente directamente nos blogues, mas seria bom para a saúde da nossa esfera pública que fóssemos mais directos nos comentários que tecemos. tenho procurado fazer isso.

Anonymous said...

os comentarios ESM nao sao do elisio macamo...sao meus E. Samuel Mandlate

Egidio Vaz said...

Um sociólogo zangado ainda pode falar de sociologia?

Semana passada, passei horas a fio a conversar num bar com meus amigos. Cada um com sua formação: licenciados em Relações Internacionais, Sociologia, História como eu, Antropologia, Psicologia, etc.
O papo foi simples: queriamos falar da ciência.Conversa fora, mas ''científica''. Temos dido a mania de, por mais difícil que seja, enquadrar a acção (a)política de Dhlakama ou a (des)criatividade de Guebuza no combate a pobreza dentro de uma perspectiva científica qualquer
Durante os primeiros minutos conversamos bem. Tentamos manter o respeito pelos pontos de vistas de cada um, tentando discutir na base de um critério comummente aceite.
Três horas depois, (isso, quem me contou foi um amigo que nos assitia)já não se ouvia quase nada, apesar de ainda sairem das nossas bocas nomes como Weber, Bloch, Cheavinato, Bourdeau, inclusive Macamo e Patricio Langa!
A pergunta que, dias depois fiz foi: vale a pena continuar a falar sobre ciência quando as nossas mentes estiverem encharcadas seja de alcool ou de uma fúria qualquer?
Ligando ao post em reacção ao do Prof Serra, acho que há em nós, um equívoco colectivo que tristemente partilhamos e que, se calhar, é para uns funcional na medida em que através dele se reproduzem. É o mesmo equívoco que nos levou á intolerância nos anos do socialismo e que, queira o Prof Macamo ou não, levou á guerra civil.
Os tetxos de PL e Prof Elísio ajudam-nos a destrinçar e muito bem entre crítica social e desabafo. Apesar de não concordar com o termo desabafo, porque nem tudo é, pois ás vezes se trata de um relato, uma constatação (os griots de Senegal são especialistas neste tipo de coisas), acho que desde o momento que o próprio Azagaia reconheceu que ''apenas diz o que os outros dizem seja em surdina, seja em público, tinha para qualquer mente em dia, estar claro que ele não faz crítica social nenhuma. Muito menos intervenção social. Ele canta o dia-a-dia das pessoas, o que é também tão importante como o sociólogo que, a partir dele, ajuda os outros a ver o outro lado da arte.
Foi para mim, uma bela oportunidade de puder ver, a partir de um caso concreto, a diferença entre o que se chama de crítica social (são poucos os músicos que fazem) do que seriam relatos (e não sempre desabafo. Aqui, profs, exageraram, daí o sentimento dalguns em considerar-vos pessoas que querem eclipsar o brilho de outros. E, se estivessem perto e em condições favoráveis, aposto que seriam linchados por isso).
Todavia, acho que em todas críticas feitas tanto por Prof macamo como pelo PL, faltou uma atitude muito exigida em nossa sociedade: caridade. Foram bastante severos e fizeram vista grossa á toda sede que existe em querer termos músicos jovens que fazem crítica social. E, numa situação de pleno stress, qualquer coisa que pareça com ela é tomada como certa. O mesmo fenómeno aconteceu no período pós-independência. Queriam a todo custo criar heróis e acabaram elevando Gungunyana a este estatuto. Mas a investigação história feita recentemente pelo Prof. Yussuf Adam (cujo relato foi por mim confirmado), mostra claramente que ele não passou de um vilão, ladrão de gado e mulheres. Um busto erguido em sua memória em Mandlakazi acabou vilipendiado por transeuntes e populares em clara demonstração da fúria que reinava na memória colectiva dos machanganes e o resto dos povos submetidos à sua escravatura.
Da mesma forma, acredito que outros ''heróis'' modernos criados à pressa também acabarão por ser vergonhosamente retirados da Cripta, quando factos e momentos novos surgirem.
E, não raras vezes temos ouvido os ''historiadores oficiais'' a defenderem a racionalidade da tal atitude fraudulenta. Dizem eles, qe estavamos no momento da fundação de uma nação. Daí, a necessidade de criar heróis que servissem de pais fundadores.
Usando a mesma perspectiva de análise (fraudulenta, diga-se) diz-se hoje que o que muitos rappers fazem é musica de intervenção social.
Faltou ao Patrício e os Prof Macamo reconhecer o momento e a razão, as dificuldades que a juventude e a sociedade vivem; o contexto cultural e as formas seculares de resistência usadas bem como os limites impostos pelo estabilishment em relação aos direitos e liberdades individuais, para depois 'reconhecer'a grandeza, coragem, bravura e determinação de Azagaia em por as coisas a nú. ''Isso sim'', dizem, ''esse miúdo é crítico. Crítico em relação aos corruptos, essa gentalha cleptocrata, que delapida a nossa riqueza em seu benefício próprio!''

Uma vez Deus disse a uma comunidade que um dia haveria escassez de água. E aconselhou que guardassem água para esse momento de escassez caso não quisessem beber da água turva. Incrivelmente, nenhum da comunidade o fez. Acharam, os seus moradores, que Ele estava a brincar, salvo uma pessoa. Que pude cumprir. Chegado o momento, todos se viram obrigado a beber água turva. E, a partir daquele momento, todos acharam-na "normal". E o tipo que bebera água limpa e potável foi considerado maluco. E com razão!

E já agora:
O que faltou no Azagaia para que fosse considerado crítico social pelos sociólogos? Não é cínica a questão, procura mesmo saber se os músicos tem que ser necessariamente obedecer os mesmos critérios na exposição do seu pensamento bem como na estrutura do seu argumento, como os sociólogos deveriam fazer ou fazem.

São os sociólogos competentes para até falar do amor, ódio ou ciúmes?

E a terminar, é a análise sociológica por si só suficiente para que a crítica e a crítica da crítica ganhe coerência e produza instrumentos de acção?
E só mesmo para falar bojardas, que ritmos têm as músicas sociológicas? Qual é o beat?!!!!

Elísio Macamo said...

olá egídio, estás a discutir uma questão que não é a minha, nem do patrício. repito: o azagaia tem todo o direito de cantar o que lhe der na gana. considerar isso de crítica social é que me parece um problema. as razões estão expostas no texto do patrício langa. posso te mandar por email o texto que publiquei no notícias a este respeito. se não gostares, podes imprimi-lo e entregá-lo aos que por ventura teriam interesse em nos linchar para acenderem o fogo para o pneu.

Anonymous said...

Interessante debate.

Obed L. Khan