Saturday, June 30, 2007

Desumanizar os nossos heróis!

Carlos Serra coloca no seu blog, de forma, analiticamente, eloquente a questão dos heróis. Numa altura em que a questão volta a ribalta com a Renamo a atribuir nomes de seus “heróis” a locais públicos. A Frelimo, como seria de se esperar, a reagir contra tais nomenclaturas. A definição de heróis é produto das relações de poder, sugere Serra. Alias como tudo na vida social, remato. Essas relações de poder podem alterar a medida que as relações de força entre os actores envolvidos alteram. Os que detinham mais poder hoje podem ter menos amanhã e vice-versa. Não me refiro ao poder como coisa, algo que esta aí, fora de nós. Refiro-me a esse poder relacional que só existe e é actualizado na acção e no acto de exerce-lo levando em contra outrem.

Seria pertinente enquanto Nação que somos começarmos a pensar nos critérios de heroicidade para os diferentes níveis sugeridos no texto de Serra. Se os heróis familiares podem ser deixados ao cargo dessa entidade, por se tratar de um espaço privado (domestico) os dos diferentes níveis da estrutura administrativa do Estado mereceriam um tratamento diferenciado. Afinal, estamos a falar de heróis que pertenceram a espaços públicos. Heróis do Estado. E o Estado não é de ninguém, mas ao mesmo tempo é de todos. Por exemplo, a apropriação dos nossos heróis (nacionais) públicos pelos seus familiares constitui um atentado a ideia de uma certa desumanização que herói sugere. Os nossos heróis são humanos de mais para serem heróis. Para venerá-los temos que passar pelos seus familiares. Ora esses familiares estão a fazer uso privado de um "bem" simbólico público do Estado. Já me explico. Porque é que os familiares de Samora, Mondlane e outros têm que aparecer e serem (venerados) mencionados nas cerimónias de Estado alusivas a comemoração das efemérides ligadas feitos destas figuras? Isto não é uma sugestão para que os familiares sejam privados da memória de seus ente queridos, mas Samora pai, avó marido; Mondlane pai, marido, tio etc só interessa a essas pessoas na esfera domestica/familiar. Quando pensarmos em devolver os heróis ao espaço público, ao Estado aí os critérios para defini-los iram extravasar as lides domésticas e/ou partidárias. Aí começaremos a pensar em critérios de heroicidade para o Estado-Nação. E herói do Estado quanto mais anónimo, melhor. Quanto menos familiares, melhor. Quanto menos camaradas, melhor ainda. Esses vínculos são demasiadamente humanos para um herói. Desumanizemos os nossos heróis. Sem querer acabo de sugerir um critério!


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