Na foto da esquerda para direita: Patricio Langa, Archie Mafeje, Chifaou Amzat e um colega da Swazi. Outubro 2003, Gaberone, Botswana.
Quarta-feira, 28 de Março, 2007 vai passar a ser um dia triste entre os pesquisadores sociais em toda a africa e não só: Foi o dia em que o professor Archie Mafeje faleceu em Pretória naquilo que foi a partida mais quieta que deixou, muitos daqueles para quem ele tocou directa ou indirectamente, num estado de tristeza e zanga. Archie Mafeje uma quintessência de pessoa da ciência e uma das mais versáteis e extraordinárias mentes a emergir em Africa foi, nos seus dias, uma lenda viva em todos os sentidos: O seu conhecimento era vasto tanto quanto a sua visão sobre os assuntos – em quase todos assuntos – era de tirar o fôlego.
Os seus discursos transcendiam as fronteiras disciplinares e eram caracterizados por um espírito combativo e de engajamento assente num cometimento pela transformação social. Como um académico sempre consciente da história da africa nos últimos seis séculos, convocou aos seus colegas para resistir a subserviência intelectual na qual todas as formas da dominação estrangeira prosperam. Era intransigente na sua chamada para a libertação das nossas imaginações colectivas como a pedra fundamental para a libertação continental. Em tudo isto, Mafeje também se distinguiu pela sua insistência no rigor científico e na originalidade. Era sua marca registada ser de forma não comprometidamente severo com os colegas cientistas sociais que eram medíocres nas suas análises.
Faço aqui um parêntese para recordar um episódio ocorrido em Gaberone no ano de 2003 durante uma conferência regional onde tive a ocasião e privilégio de conhecer Mafeje. Mafeje era o moderador da mesa em que se fazia um debate sobre a reforma agrária em Africa. Um colega, Moçambicano, fora apresentar uma comunicação que já havia apresentado alguns anos antes numa outra conferência em Kampala, o que não era suposto. Daqueles que escrevem um artigo e passam a vida a apresentá-lo em conferências sem alterar uma vírgula. Para seu azar, Mafeje, participara da conferência de Kampala e tinha estado bem atento a ponto de perceber que o nosso colega de delegação estava simplesmente repetindo o que dissera antes, inclusivamente, com a mesma falta de rigor analítico. Sem papas na língua disse: para próxima conferencia veja se trás um texto novo e com novos argumentos e não se esqueça que alguns de nós trabalharam em Moçambique e por isso temos ideia do que esta a falar. A sala ficou, simplesmente, gelada e o nosso colega embaraçado. Uns instantes depois toda a sala se pôs a rir, não havia maldade nas palavras de Mafeje. Havia, isso sim, apelo para maior seriedade!
O poder da sua caneta e a paixão das suas intervenções sempre foram de mão-em-mão com um estilo polémico único que era duro para aqueles que não estavam academicamente enraizados. Este foi o Mafeje que partiu a 28 de Março para se juntar aos outros heróis e heroínas da comunidade de pesquisadores sociais africanos. Um grande Pan-Africanista, um cientista extraordinário, um homem de debate de primeira linha, um partidário de primeira linha na luta pela justiça social, e um homem de grandes princípios humanitários. Vamos com certeza sentir saudades das suas profundas analises, suas réplicas estridentes, sua leal amizade, seu companheirismo, e sim – seu humor, habilidades culinárias que incluía um conhecimento das comidas e vinhos de todos cantos do mundo.
Mafeje vai hoje, 7 de Abril e dia das Mulheres Moçambicanas, a enterrar algures na africa do sul numa cerimónia presidida pela cientista social, Moçambicana, presidente do CODERSIA.
Quarta-feira, 28 de Março, 2007 vai passar a ser um dia triste entre os pesquisadores sociais em toda a africa e não só: Foi o dia em que o professor Archie Mafeje faleceu em Pretória naquilo que foi a partida mais quieta que deixou, muitos daqueles para quem ele tocou directa ou indirectamente, num estado de tristeza e zanga. Archie Mafeje uma quintessência de pessoa da ciência e uma das mais versáteis e extraordinárias mentes a emergir em Africa foi, nos seus dias, uma lenda viva em todos os sentidos: O seu conhecimento era vasto tanto quanto a sua visão sobre os assuntos – em quase todos assuntos – era de tirar o fôlego.
Os seus discursos transcendiam as fronteiras disciplinares e eram caracterizados por um espírito combativo e de engajamento assente num cometimento pela transformação social. Como um académico sempre consciente da história da africa nos últimos seis séculos, convocou aos seus colegas para resistir a subserviência intelectual na qual todas as formas da dominação estrangeira prosperam. Era intransigente na sua chamada para a libertação das nossas imaginações colectivas como a pedra fundamental para a libertação continental. Em tudo isto, Mafeje também se distinguiu pela sua insistência no rigor científico e na originalidade. Era sua marca registada ser de forma não comprometidamente severo com os colegas cientistas sociais que eram medíocres nas suas análises.
Faço aqui um parêntese para recordar um episódio ocorrido em Gaberone no ano de 2003 durante uma conferência regional onde tive a ocasião e privilégio de conhecer Mafeje. Mafeje era o moderador da mesa em que se fazia um debate sobre a reforma agrária em Africa. Um colega, Moçambicano, fora apresentar uma comunicação que já havia apresentado alguns anos antes numa outra conferência em Kampala, o que não era suposto. Daqueles que escrevem um artigo e passam a vida a apresentá-lo em conferências sem alterar uma vírgula. Para seu azar, Mafeje, participara da conferência de Kampala e tinha estado bem atento a ponto de perceber que o nosso colega de delegação estava simplesmente repetindo o que dissera antes, inclusivamente, com a mesma falta de rigor analítico. Sem papas na língua disse: para próxima conferencia veja se trás um texto novo e com novos argumentos e não se esqueça que alguns de nós trabalharam em Moçambique e por isso temos ideia do que esta a falar. A sala ficou, simplesmente, gelada e o nosso colega embaraçado. Uns instantes depois toda a sala se pôs a rir, não havia maldade nas palavras de Mafeje. Havia, isso sim, apelo para maior seriedade!
O poder da sua caneta e a paixão das suas intervenções sempre foram de mão-em-mão com um estilo polémico único que era duro para aqueles que não estavam academicamente enraizados. Este foi o Mafeje que partiu a 28 de Março para se juntar aos outros heróis e heroínas da comunidade de pesquisadores sociais africanos. Um grande Pan-Africanista, um cientista extraordinário, um homem de debate de primeira linha, um partidário de primeira linha na luta pela justiça social, e um homem de grandes princípios humanitários. Vamos com certeza sentir saudades das suas profundas analises, suas réplicas estridentes, sua leal amizade, seu companheirismo, e sim – seu humor, habilidades culinárias que incluía um conhecimento das comidas e vinhos de todos cantos do mundo.
Mafeje vai hoje, 7 de Abril e dia das Mulheres Moçambicanas, a enterrar algures na africa do sul numa cerimónia presidida pela cientista social, Moçambicana, presidente do CODERSIA.
Este texto foi traduzido e adaptado por mim do original escrito por Adebayo Olukoshi secretário executivo do CODESRIA.
Breve Nota Biográfica de Archie Mafeje!Archie Mafeje era sul-africano de nacionalidade. Completou os seus estudos de graduação na Universidade de Cabo (University of Cape Town) onde iniciou a sua carreira como académico. Como muitos sul-africanos foi forçado ao exílio, pelo regime do Apartheid, onde passou boa parte da sua vida. Obteve o Doutoramento (PhD) em Antropologia e sociologia rural pela Universidade de Cambridge em 1966. Em 1973, com apenas 34 anos, foi nomeado professor de Antropologia e Sociologia do desenvolvimento no instituto de estudos sociais em Hague, por acto parlamentar e com a provação de todas as universidades Holandesas, tornando-se o primeiro académico africano a ser dessa forma distinguido na Holanda. Essa nomeação valeu-lhe a honra de ser professor da Rainha Juliana. Seu nome consta das prestigiosas páginas azuis do Directorado Nacional Holandês.
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