Foto2: Docentes e estudantes da Ex-UFICS e convidados.
Foto:1 da esquerda para direita (a homenageada, Nair, e Isabel Casimiro)
Foto2: Docentes, estudantes e convidados.
Foto 3: Lisete Cossa (Estudante de sociologia)
Foto 4: Filimone Meigos (Sociólogo)
A professora M. Conceição Osório (a primeira na primeira foto da esquerda para a direita) foi hoje carinhosa e merecidamente homenageada numa iniciativa de estudantes e docentes do departamento de sociologia da Faculdades de Letras da Universidade Eduardo Mondlane.
Não me vou arriscar em tentar resumir a rica biografia da professora Osório porque não teria como ser justo. Tentou fazê-lo, uma participante na homenagem, Lizete Cossa. O esforço valeu-lhe um bom aplauso, mas acima de tudo pelo reconhecimento da incompletude dessa biografia. Se a Lisete quiser publicar o texto neste espaço é bem vindo. Assim mais gente partilhara da grandiosidade da nossa professora.
Interessante, igualmente, foi o texto do sociólogo Filimone Meigos (mano Mone) que nos levou numa viagem nostálgica pelos áureos momentos vividos na Ex-UFICS. Meigos, não só, nos recordou as aulas da professora Osório e os diversos autores com os quais ganhamos empatia, simpatia e até alguma obsessão, como lançou um olhar crítico sobre as perspectivas de futuro a que poderão estar votadas as subsequentes gerações que passam e passaram pela ex-UFICS. Mudaram-se os tempos e com ele as vontades, disse Meigos, que caracteriza a nova era como sendo aquela em que vale mais a ostentação de títulos académicos (PhDismo) que a competência, para não falar de mentalidade académica. Recordam-se do “quadro de honra”? O do Meigos é outro texto que têm neste espaço lugar para sua publicação. Na verdade o que interessa, mesmo, é fazer referencia a homenagem merecida e não ao elogio nostálgico nem a futurologia em relação a ex-UFICS. Deixemos isso para fóruns apropriados.
Engajamento em ciência
Na sequência da comunicação apresentada pela professora C. Osório ligada a pesquisa que tem estado a fazer sobre A Construção de Identidades sociais entre Jovens, numa perspectiva do género, seguiu-se um debate, interessantíssimo. Na verdade não se trata de um debate novo na academia. É secular e reflecte sobre o distanciamento entre o posicionamento pessoal do pesquisador (tomada de partido em função de convicções ético morais) e o tratamento teórico-metodológico que se presta ao objecto de estudo.
Muito se pode dizer, e já foi mesmo dito, em relação a esta dicotomia. Nem sempre, quando tal debate se coloca, se trata de invocar pretensões de neutralidade axiológica. O essencial, auguro, é de que a tomada de partido consciente é uma atitude, acima de tudo, de prudência epistemológica. No entanto, ela não nos impede de nos mantermos permanentemente vigilantes em relação a imposição de nossos valores (arbítrios) culturais ao nosso objecto de estudo. Não se trata de fazer um declaração apriorística, como se para se justificar ou retratar, mas de tomar consciência de que o reconhecimento da tomada de partido é apenas o inicio de todo o percurso de vigilância epistemológica.
Por exemplo, se sou feminista (poderia dizer ambientalista, defensor dos direitos dos homossexuais ou outra causa qualquer) e decido estudar as relações de género de determinado grupo ou categoria social (como seja a dos jovens) que conceitos usarei para captar as percepções desse grupo ou categoria social sobre desigualdades de género?
Poderei partir a priori da pressuposição de que o tratamento diferenciado das categorias de género daquele grupo inferiorizam um ou o outro e que essa inferiorização é, necessariamente, perniciosa? Todo o tratamento diferenciado é, necessariamente, discriminatório? O que é que acontece, se por exemplo, na distribuição diferenciada de papeis sociais na escola entre raparigas e rapazes, não conduzir a que aquelas reconheçam nos seus papeis subordinação, inferiorização ou menos ainda descriminação? Serão elas, então, alienadas por não se reconhecerem na e reconhecerem uma lógica que as subalterniza?
Quais são as categorias analíticas que devemos usar para dar conta das desigualdades de género naquele contexto? Aquelas trazidas pelo pesquisador ou aquelas dos actores que estudamos? E se for aquela dos pesquisadores não estarão estes a violentar simbolicamente seu objecto ao impor suas categorias de di-visão do mundo distintas daquelas do grupo em estudo? Aí o grupo estudado passa mesmo a ser um grupo alvo. Um grupo alvo da violência simbólica imposta pelo di-visão do mundo do pesquisador.
Não queria, de manhã, com estas inquietações que levantei na sessão por em causa a descrição, etnográfica, brilhantemente, sugerida pela oradora. Estava, apenas, a usar das faculdades de raciocino crítico que aprendi, justamente, com a professora e talvez amadurecidas algures, para compreender melhor as implicações das nossas tomadas de partido na pesquisa.
Enfim, faltou dizer que não seria possível retratar de forma fiel o que se passou naquela sala esta manhã. Acima de tudo esteve o reconhecimento dos préstimos que a professora C.Osório deu à academia ao longo dos seus trinta e tal anos de carreira. Tenho certeza que logo vai se res-sentir a sua falta porque se vai reformar – (ganhar nova forma?) “aposentar”! Que termos!
Não me vou arriscar em tentar resumir a rica biografia da professora Osório porque não teria como ser justo. Tentou fazê-lo, uma participante na homenagem, Lizete Cossa. O esforço valeu-lhe um bom aplauso, mas acima de tudo pelo reconhecimento da incompletude dessa biografia. Se a Lisete quiser publicar o texto neste espaço é bem vindo. Assim mais gente partilhara da grandiosidade da nossa professora.
Interessante, igualmente, foi o texto do sociólogo Filimone Meigos (mano Mone) que nos levou numa viagem nostálgica pelos áureos momentos vividos na Ex-UFICS. Meigos, não só, nos recordou as aulas da professora Osório e os diversos autores com os quais ganhamos empatia, simpatia e até alguma obsessão, como lançou um olhar crítico sobre as perspectivas de futuro a que poderão estar votadas as subsequentes gerações que passam e passaram pela ex-UFICS. Mudaram-se os tempos e com ele as vontades, disse Meigos, que caracteriza a nova era como sendo aquela em que vale mais a ostentação de títulos académicos (PhDismo) que a competência, para não falar de mentalidade académica. Recordam-se do “quadro de honra”? O do Meigos é outro texto que têm neste espaço lugar para sua publicação. Na verdade o que interessa, mesmo, é fazer referencia a homenagem merecida e não ao elogio nostálgico nem a futurologia em relação a ex-UFICS. Deixemos isso para fóruns apropriados.
Engajamento em ciência
Na sequência da comunicação apresentada pela professora C. Osório ligada a pesquisa que tem estado a fazer sobre A Construção de Identidades sociais entre Jovens, numa perspectiva do género, seguiu-se um debate, interessantíssimo. Na verdade não se trata de um debate novo na academia. É secular e reflecte sobre o distanciamento entre o posicionamento pessoal do pesquisador (tomada de partido em função de convicções ético morais) e o tratamento teórico-metodológico que se presta ao objecto de estudo.
Muito se pode dizer, e já foi mesmo dito, em relação a esta dicotomia. Nem sempre, quando tal debate se coloca, se trata de invocar pretensões de neutralidade axiológica. O essencial, auguro, é de que a tomada de partido consciente é uma atitude, acima de tudo, de prudência epistemológica. No entanto, ela não nos impede de nos mantermos permanentemente vigilantes em relação a imposição de nossos valores (arbítrios) culturais ao nosso objecto de estudo. Não se trata de fazer um declaração apriorística, como se para se justificar ou retratar, mas de tomar consciência de que o reconhecimento da tomada de partido é apenas o inicio de todo o percurso de vigilância epistemológica.
Por exemplo, se sou feminista (poderia dizer ambientalista, defensor dos direitos dos homossexuais ou outra causa qualquer) e decido estudar as relações de género de determinado grupo ou categoria social (como seja a dos jovens) que conceitos usarei para captar as percepções desse grupo ou categoria social sobre desigualdades de género?
Poderei partir a priori da pressuposição de que o tratamento diferenciado das categorias de género daquele grupo inferiorizam um ou o outro e que essa inferiorização é, necessariamente, perniciosa? Todo o tratamento diferenciado é, necessariamente, discriminatório? O que é que acontece, se por exemplo, na distribuição diferenciada de papeis sociais na escola entre raparigas e rapazes, não conduzir a que aquelas reconheçam nos seus papeis subordinação, inferiorização ou menos ainda descriminação? Serão elas, então, alienadas por não se reconhecerem na e reconhecerem uma lógica que as subalterniza?
Quais são as categorias analíticas que devemos usar para dar conta das desigualdades de género naquele contexto? Aquelas trazidas pelo pesquisador ou aquelas dos actores que estudamos? E se for aquela dos pesquisadores não estarão estes a violentar simbolicamente seu objecto ao impor suas categorias de di-visão do mundo distintas daquelas do grupo em estudo? Aí o grupo estudado passa mesmo a ser um grupo alvo. Um grupo alvo da violência simbólica imposta pelo di-visão do mundo do pesquisador.
Não queria, de manhã, com estas inquietações que levantei na sessão por em causa a descrição, etnográfica, brilhantemente, sugerida pela oradora. Estava, apenas, a usar das faculdades de raciocino crítico que aprendi, justamente, com a professora e talvez amadurecidas algures, para compreender melhor as implicações das nossas tomadas de partido na pesquisa.
Enfim, faltou dizer que não seria possível retratar de forma fiel o que se passou naquela sala esta manhã. Acima de tudo esteve o reconhecimento dos préstimos que a professora C.Osório deu à academia ao longo dos seus trinta e tal anos de carreira. Tenho certeza que logo vai se res-sentir a sua falta porque se vai reformar – (ganhar nova forma?) “aposentar”! Que termos!
2 comments:
Apenas lamento o facto de o evento não ter sido publicitado. Pessoalmente, não sabia, e fico frustrado por saber que mais um momento passou-me de frente, sem rer tido a oportunidade de o interpelar.
A próxima vez que souber de eventos como esses, por favor, ponham em anúncio com letras garrafais.
Um abraço.
Olá, fui aluna, nos 2 últimos anos da ditadura colonial, da Prof.ª Conceição Osório, a História, no então Liceu D.Ana da Costa Portugal (ala feminina do ex-Liceu Salazar) e é com alegria que encontro este 'post', pois acho que ela merece todas as homenagens. Felizmente, tive há poucos anos a felicidade de e-contactar com ela.
Um beijo para ela, outro para ti,
IO.
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