Desta vez decidi ser “incherido” e meter a foice em seara alheia. Penso ser seara alheia porque me parece ser assunto dos economistas. Mas como estes não se pronunciam a respeito, vou eu dar o ponto de partida na tentativa de “cutucar” os mais abalizados na matéria a reagir.
Estava eu numa daquelas limpezas que ocupam toda manhã dum dia de final de semana e que tem o objectivo expulsar as baratas de casa, não que hajam muitas, mas para evitar que se multipliquem e se apossem da minha papelada. Foi abrir gaveta a gaveta e seleccionar a pente fino os papéis que já perderam utilidade para serem posteriormente encaminhados ao contentor de lixo (ainda falta-nos a cultura da reciclagem). E nessa selecção minuciosa de papéis, chamou-me atenção o facto de ter encontrado muitos papelinhos, talvez mais de quinze com mesmas características. Em todos podia se ler: troco X meticais data assinatura. Pois. São os trocos que muitas vezes recebemos um pouco por toda parte. Vasculhem as vossas gavetas, carteiras ou bolsos e com certeza encontrarão alguns desses trocos papelinhos. São papelinhos que recebemos e muitas vezes não voltamos para reclamar, salvo em caso de quantias que consideramos elevadas.
E o que me inquieta nisto não é o facto de eu ter encontrado esses papelinhos em minhas gavetas, mas o facto de a prática ter se enraizado de tal maneira que os comerciantes emitem e os consumidores recebem os tais trocos papelinhos sem questionar e com a maior naturalidade. Inquieta-me ainda o facto de a prática se ter generalizada diante impassividade do Banco de Moçambique (BM). Que eu saiba, em Moçambique a única entidade responsável pela emissão de moeda é o BM. E quando um comerciante escreve num papelinho X meticais de troco, não estará este a emitir moeda e lançar ao mercado mais do que o previamente definido? O que dará o somatório dos trocos papelinhos e a moeda introduzida pelo BM? Não há aqui um acréscimo de moeda ao Mercado? O BM tem controle da quantidade de trocos papelinhos que circulam nos bolsos das pessoas? Não poderá esta prática contribuir para inflacção?
Ainda corro o risco de ao invés de dar moedas ao meu irmão mais novo para ir a padaria comprar pão, juntar uma série de trocos papelinhos que recebi em diversos locais (bares, cantinas, mercearias, etc.) e usa-los como meio de compra. Bastará convencer ao padeiro que os papelinhos não são falsos e são fiáveis. Assim o padeiro poderá usar os mesmos papelinhos para consumir nos bares, cafés, cantinas, etc. que emitiram tais trocos papelinhos. Imaginem então se uma série de comerciantes entra em acordo e cria uma rede onde clientes com trocos papelinhos duma casa possam utilizar em outra? Não estaríamos a colocar o metical e o BM fora do processo de emissão e controlo da moeda?
E os trocos rebuçados? Lembram-se destes? Acreditem que já aconteceu comigo receber trocos rebuçados e dias depois voltar ao mesmo estabelecimento com os mesmos rebuçados acrescido de umas moedas e conseguir consumir um refresco. Imaginem um colega pede emprestado dinheiro para consumir um refresco na cantina habitual e ao invés de moedas entregam uma série de rebuçados que servirão como moeda de troca. Não estaremos retornando a economia de escambo? Não preciso me alongar mais nesta questão.
Não seria importante fazer um estudo para perceber a dimensão e impacto da prática de trocos papelinhos e trocos rebuçados?
Não sou economista e talvez a minha preocupação não tenha razão nenhuma de ser. E ficarei muito feliz se aparecer um especialista no assunto para me “desinquietar” em relação aos possíveis impactos negativos dos trocos papelinhos e trocos rebuçados.
E quanto ao papel e responsabilidade, ninguém me vai convencer que o BM não está se mostrando incompetente e colocando-se a margem, assistindo de camarote essas práticas ganharem terreno. E com isto está permitindo que lhe façam concorrência no processo de emissão da moeda.
SOCORRO! “Desinquietem-me”
Elton B.
Estava eu numa daquelas limpezas que ocupam toda manhã dum dia de final de semana e que tem o objectivo expulsar as baratas de casa, não que hajam muitas, mas para evitar que se multipliquem e se apossem da minha papelada. Foi abrir gaveta a gaveta e seleccionar a pente fino os papéis que já perderam utilidade para serem posteriormente encaminhados ao contentor de lixo (ainda falta-nos a cultura da reciclagem). E nessa selecção minuciosa de papéis, chamou-me atenção o facto de ter encontrado muitos papelinhos, talvez mais de quinze com mesmas características. Em todos podia se ler: troco X meticais data assinatura. Pois. São os trocos que muitas vezes recebemos um pouco por toda parte. Vasculhem as vossas gavetas, carteiras ou bolsos e com certeza encontrarão alguns desses trocos papelinhos. São papelinhos que recebemos e muitas vezes não voltamos para reclamar, salvo em caso de quantias que consideramos elevadas.
E o que me inquieta nisto não é o facto de eu ter encontrado esses papelinhos em minhas gavetas, mas o facto de a prática ter se enraizado de tal maneira que os comerciantes emitem e os consumidores recebem os tais trocos papelinhos sem questionar e com a maior naturalidade. Inquieta-me ainda o facto de a prática se ter generalizada diante impassividade do Banco de Moçambique (BM). Que eu saiba, em Moçambique a única entidade responsável pela emissão de moeda é o BM. E quando um comerciante escreve num papelinho X meticais de troco, não estará este a emitir moeda e lançar ao mercado mais do que o previamente definido? O que dará o somatório dos trocos papelinhos e a moeda introduzida pelo BM? Não há aqui um acréscimo de moeda ao Mercado? O BM tem controle da quantidade de trocos papelinhos que circulam nos bolsos das pessoas? Não poderá esta prática contribuir para inflacção?
Ainda corro o risco de ao invés de dar moedas ao meu irmão mais novo para ir a padaria comprar pão, juntar uma série de trocos papelinhos que recebi em diversos locais (bares, cantinas, mercearias, etc.) e usa-los como meio de compra. Bastará convencer ao padeiro que os papelinhos não são falsos e são fiáveis. Assim o padeiro poderá usar os mesmos papelinhos para consumir nos bares, cafés, cantinas, etc. que emitiram tais trocos papelinhos. Imaginem então se uma série de comerciantes entra em acordo e cria uma rede onde clientes com trocos papelinhos duma casa possam utilizar em outra? Não estaríamos a colocar o metical e o BM fora do processo de emissão e controlo da moeda?
E os trocos rebuçados? Lembram-se destes? Acreditem que já aconteceu comigo receber trocos rebuçados e dias depois voltar ao mesmo estabelecimento com os mesmos rebuçados acrescido de umas moedas e conseguir consumir um refresco. Imaginem um colega pede emprestado dinheiro para consumir um refresco na cantina habitual e ao invés de moedas entregam uma série de rebuçados que servirão como moeda de troca. Não estaremos retornando a economia de escambo? Não preciso me alongar mais nesta questão.
Não seria importante fazer um estudo para perceber a dimensão e impacto da prática de trocos papelinhos e trocos rebuçados?
Não sou economista e talvez a minha preocupação não tenha razão nenhuma de ser. E ficarei muito feliz se aparecer um especialista no assunto para me “desinquietar” em relação aos possíveis impactos negativos dos trocos papelinhos e trocos rebuçados.
E quanto ao papel e responsabilidade, ninguém me vai convencer que o BM não está se mostrando incompetente e colocando-se a margem, assistindo de camarote essas práticas ganharem terreno. E com isto está permitindo que lhe façam concorrência no processo de emissão da moeda.
SOCORRO! “Desinquietem-me”
Elton B.
2 comments:
O compatriota levanta uma preocupação que é também minha. Nao poderei contribuir valiosamente porque não sou economista embora sita prazer quando meto o meu nariz em tigelas alheias.
Para mim, mais do que os efeitos nocivos que esta pratica possa eventualmente trazer a economia no seu todo, o "chato" reside no periodo de vida util que esses trocos têm. Por exemplo nos locais por onde tenho feito compras, o vendedor faz questão de dizer que "o senhor deve levantar o seu dinheiro antes das x horas porque depois desta hora..." Agora, se porventura não puder ir a cantina antes do fim do prazo (que normalmente não excede 24horas)o valor reverte-se a favor do comerciante.
Se tivesse que contabilizar o valor dos "papelinhos troco" em minha posse, teria o suficiente para garantir um bom almoço num lugar diferente a minha familia...
Que alguem ponha termo a esta pratica.
Jorge Saiete
Nem o metical da nova família, que reintroduziu os centavos está resolver o problema?
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