Thursday, May 31, 2007

Integração Regional!


A integração regional tem sido um dos temas na agenda do debate público no nosso país. Basta um olhar para a imprensa para constatar quanto sobre o assunto é publicado. O texto que se segue é uma reflexão de Jaime Langa, gestor de profissão e colunista do Jornal Notícias, que gentilmente nos cedeu para suscitar debate. De notar que na blogosfera este assunto ainda não foi explorado. Ai vai o texto, longo mas vale a pena lê-lo, até para discordar se for o caso! Boa Leitura!

*Jaime Langa

Do Protocolo Comercial da SADC, Que Estratégia para Moçambique?

Contextualização

Em Lusaka, Zâmbia, no dia 01 de Abril de 1980, Angola. Botswana, Lesotho, Malawi, Moçambique, Swazilandia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe fundaram a SADCC (Souther African Development Coordination Conference), com os seguintes objectivos: i) Coordenar projectos de desenvolvimento a nível da região com vista a eliminar dependência económica com a África do Sul do regime de Apartheid. Ii) Implementar programas e projectos com impacto nacional e regional, iii) Mobilizar recursos no seio dos membros na busca de auto confiança, iv) Garantir melhor percepção e apoio da comunidade internacional.

Em Agosto de 1992, os lideres da SADCC chegaram a conclusão de que, a conferência coordenadora serviu os seus objectivos com sucesso e tinha demonstrado a necessidade crucial de cooperação entre os Estados membros com vista a atingir o esforço de desenvolvimento. Todavia, a estrutura institucional e "modus operandi" da “prévis” SADCC não permitiria fazer face aos novos desafios que se apresentam.

Por isso, para que o progresso de constituição da Comunidade tenha êxito era necessário, sobretudo, um engajamento político sério em relação aos aspectos de cooperação e integração regional. Era momento de propiciar a organização de um “status” mais formal e legal. Portanto, os Chefes de Estado e de Governo dos Estados Membros reúnem-se em Windhoek, Namíbia e assinam a declaração e o tratado da constituição da nova SADC- Southern African Development Community.

Objectivos da SADC
i)Alcançar o desenvolvimento económico, aliviar a pobreza e melhorar o nível de vida dos seus povos e apoiar os mais desfavorecidos, através da integração regional. ii) Desenvolver valores políticos comuns, sistemas e instituições. iii)Promover e defender a paz e segurança na região. Iv)Promover o auto-desenvolvimento, baseado no esforço colectivo e interdependências dos países membros. v)Alcançar complementaridade entre as estratégias e programas nacionais e regionais. vi)Reforçar e consolidar os velhos laços, históricos, sociais e culturais entre os povos da região.
Para alcançar estes objectivos a SADC deverá:
i)Harmonizar as políticas sócio-económicas e planos dos países membros. ii)Criar instituições e mecanismos apropriados para mobilização dos recursos para implementação dos programas e operações da SADC e suas instituições. iii)Promover o desenvolvimento dos recursos Humanos. iv)Promover o desenvolvimento, transferência e domínio da tecnologia. v)Melhorar a gestão da economia através de cooperação regional.
No rol dos programas de acção da SADC vários protocolos foram desenvolvidos e assinados nas áreas de Sistemas de partilha das aguas, energia, combate ao tráfico de drogas ilícitas, Transportes, Comunicações e meteorologia, Comercio, educação e formação profissional, Mineração, imunidade e privilégios, Saúde, e outros e na maioria estes protocolos já foram ratificados e estão já em implementação.

O protocolo Comercial da SADC é crucial para o processo de integração regional e ganhou mais força (foi rubricado) aos 25 de Janeiro de 2000, seguido pela sua ratificação pelos Estados membros.

Os objectivos do Protocolo comercial da SADC são:

i) Fomentar a liberalização do comércio intra-regional em matéria de bens e serviços, na base de acordos comerciais justos, equilibrados e de benefício mútuo, complementados por Protocolos em outras áreas.

ii) Garantir uma produção eficaz dentro da SADC, que reflicta as actuais e potenciais vantagens comparativas dos seus Membros.

iii) Contribuir para o melhoramento do ambiente favorável ao investimento nacional, trans-fronteiras e estrangeiro.

iv) Incrementar o desenvolvimento económico, diversificação e industrialização da região.
v. Estabelecer uma Zona de Comércio Livre Região da SADC.

Faltando muito pouco tempo para que a região da SADC possa criar a sua Zona de Comércio Livre, cresce cada vez mais a incessante e imprescindível busca de formas para ultrapassar todos os constrangimentos ainda existentes de modo que a região alcance as metas traçadas.

Desde o ano 2000, os países da SADC têm vindo a implementar um programa visando a criação duma Zona de Livre Comércio em 2008, uma União Aduaneira em 2010, um Mercado Comum em 2015 e uma União Monetária em 2018.

Notam-se progressos no estabelecimento de uma Zona de Livre Comércio, entretanto, deve-se tomar em conta elementos de desenvolvimento da integração como infra-estrutura, erradicação da pobreza e desenvolvimento sustentável, a nível de todos os membros da SADC.

Caminhando rumo à planeada Zona de Comércio Livre da SADC, um dos desafios é a remoção das barreiras tarifárias e não tarifárias em concordância com os prazos acordados dentro de linhas de produtos específicos. O objectivo final é assegurar que 85 por cento de todo o comércio intra-regional esteja livre de tarifas até 2008.

A integração económica na SADC é guiada pelo Protocolo de Comércio, que foi assinado em 1996 tendo entrado em vigor em 2000. Como parte da sua implementação, os Estados Membro têm vindo a negociar a redução das tarifas, regras de origem, mecanismo de resolução de disputas, acordos sobre produtos especiais, eliminação de barreiras não tarifárias e eliminação e harmonização das alfândegas, documentações de comércio e procedimentos de desalfandegamento.

A remoção de tarifas é baseada num modelo de geometria variável, tomando em consideração o nível assimétrico de desenvolvimento entre os Estados Membro. Os Estados Membro da SADC apresentam diferentes níveis de desenvolvimento, com a África do Sul muito mais desenvolvida do que os outros em termos de base industrial. Os países que fazem parte da União Aduaneira da África Austral (SACU)–Botswana, Lesoto, Namíbia, África do Sul e Suazilândia–estão a liberalizar mais rápido, seguidos de Maurícias e Zimbabwe, enquanto os outros como Moçambique, vêm depois.

A redução de tarifas é dividida em três categorias, sendo a primeira categoria de bens que deviam ser liberalizados até 2001, a segunda até 2008 e a terceira até 2012. Note que o Protocolo de Comércio emendado em 2000 não cobre os bens de segunda mão que continuarão a atrair taxas nos níveis actuais.

As negociações sobre as regras de origem, que procuram promover o uso de matéria prima local foram as mais difíceis, mas foram concluídas com sucesso para a maioria das linhas de produtos. As áreas mais complexas foram as dos produtos de farinha de trigo e veículos.
Um outro desafio para que os Estados Membro estabeleçam uma Zona de Comércio Livre bem sucedida é a melhoria do lado da oferta de comércio. Isto requer uma base industrial forte em cada Estado Membro para que possam produzir bens exportáveis competitivos. Este é o dilema para Moçambique garantir a sua competitividade num mercado globalizado.

O modelo geométrico variável assumido pelo protocolo, visa dar tempo aos Estados Membro, como Moçambique, para se ajustarem e prepararem-se para a inevitável competição num mercado liberalizado. A questão é saber se as indústrias nos Estados Membro, particularmente as Moçambicanas tiveram tempo e recursos suficientes para se prepararem para o novo mercado.

As múltiplas afiliações às Comunidades Económicas Regionais (CERs) que estão a envidar esforços para a criação, ou que já tenham, uma união aduaneira é um outro desafio. Alguns dos Estados Membro da SADC pertencem a SACU, que é uma União Aduaneira funcional, enquanto que outros pertencem à Comunidade da África do Leste (EAC) ou ao Mercado Comum para a África Austral e Oriental (COMESA), que estão a planear a criação das suas próprias Uniões Aduaneiras.

As regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) impedem que os países pertençam ao mesmo tempo a mais de uma União Aduaneira. Isto apela para uma racionalização das existentes e planeadas Uniões Aduaneiras se os Estados Membro quiserem estar em harmonia com as regras da OMC.

O protocolo sobre comércio livre na SADC, foi subscrito sob olhar as seguintes estratégias:

i)Remoção gradual de tarifas, ii)Adopção de regras comuns de origem, ii)Harmonização das regras e procedimentos aduaneiros, iii)Alcance de padrões internacionalmente aceitáveis, qualidade, acreditação e metrologia, iv)Harmonização de medidas sanitárias e fito-sanitárias, v)Remoção de barreiras não tarifárias, vi)Liberalização de comércio e serviços.

Todavia, as desigualdades sociais entre os povos da região, os diferentes níveis de crescimento económico entre os Países membros impõem alguns desafios na implementação do protocolo nomeadamente:

i)Fortalecer o lado da oferta das economias, ii)Implementar o protocolo de comércio dentro da estrutura da OMC, iii)Assegurar que a redução de tarifas não tenham impactos negativos nos Estados Membros mais fracos ou menos desenvolvidos, iv)Protecção de grupos vulneráveis tais como as pequenas empresas, pessoas pobres rurais e urbanas, comerciantes informais e mulheres, bem como, assegurar que estes grupos se beneficiem do Protocolo de Comércio.

Que Estratégia para Moçambique?

Moçambique é um país da SADC que após a sua independência em 25 de Junho 1975, assumiu uma orientação ideológica política e de desenvolvimento, diferente dos seus vizinhos. A sua economia desenvolveu-se numa estrutura socialista de distribuição equitativa de renda a pessoa Moçambicana seja ela singular ou colectiva. A sua industria foi estabelecida na base proteccionista, sem motivação de lucro e sem se obedecer a elementares regras da economia de mercado.

A dimensão, a localização e o investimento na indústria, não se baseava em estudos de viabilidade prévios de localização de matéria prima, Lay-out da fabrica, tamanho do mercado, estudo da concorrência (quase que não existia), e outras análises para se decidir em investir, pois a sua produção não estava dirigida para um mercado concorrencial, mas sim para o consumo do “povo” Moçambicano e os excedentes para a exportação aos países financiadores dos equipamentos e do conhecimento do saber fazer “know-how”.

O processo de integração económica regional está em curso. Em 2010 teremos, segundo o protocolo assinado, a União Aduaneira da região. Esta é uma fase importantíssima no processo de união dos sistemas económicos regionais. É uma das fases mais sensíveis, pois o seu efeito manifesta-se imediatamente e incide directamente sobre os “stakeholders” (Intervenientes: Importador, Exportador, consumidor final e Estado).

Será que os empresários Moçambicanos estarão atentas as consequências que esta medida pode trazer nos seus negócios? Será que o governo Moçambicano através do Ministério do comércio está a realizar com eficácia o que lhe compete no seu real papel de desenhador estratégico das políticas de desenvolvimento do pais? Estarão a ser feitos a nível das associações empresariais, debates sobre as melhores estratégias a assumir perante uma realidade destas?

Acho que está claro para todos que, o processo de integração económica regional trará mais vantagens que desvantagens. Foi uma decisão sábia dos governos da região ao implementar este protocolo. Um dos grandes impulsionadores das economias regionais é a igualdade de oportunidades de todos os produtores competirem para o mesmo mercado. E esta oportunidade será aberta para Moçambicanos e Sul Africanos, por exemplo, livremente competirem no mesmo mercado.

A nossa indústria não tem alternativas para evitar a regionalização mas, para as empresas moçambicanas se prepararem para fazer face aos desafios impostos pela nova realidade, vão necessitar de recursos para promover a sua gestão estratégica. As indústrias precisam de fazer as actualizações ou transferência de tecnologias, importar know-how, promover formação profissional, desinvestir em custos ocultos sem entrar em conflitos com sindicatos.

Estas pertinentes medidas de gestão estratégica para a nossa indústria melhor se preparar para a nova realidade, não podem ser financiadas por fundos próprios ou pelas linhas de crédito correntes para meios circulantes disponíveis nos nossos bancos comerciais. Estas medidas necessitam de crédito com taxas de juro sustentáveis e considerar que, pela natureza do investimento a sua recuperação é sempre de médio e longo prazos.

Todo o esforço que os governos da SADC tem envidado, com a união de uma série de políticas, quer seja, económicas ou políticas tende à melhoria do nível de vida dos seus povos em particular e da região no geral. Para o governo moçambicano, a pretensão é acabar com a pobreza absoluta. “A união faz a força” diz o velho ditado.



Bibliografia:
Munetsi Madakufamba, SADC hoje Vol. 6 N° 1 Abril 2003
Langa, Jaime, artigos in: O País on line,2006
In: www.mic.gov.mz
In.www.geocities.com/EnchantedForest/Pond/9060/sadc.html
In. www.tiosam.com/enciclopedia

Wednesday, May 30, 2007

"Procurar um marido na igreja"!

Desde que um amigo me falara que o nosso é um “país de desculpas” penso sempre antes de oferecer uma para o que não faço. Desculpar-se defende ele pode significar competência social, isto é, saber interpretar as expectativas que as pessoas depositam em nós quando oferecem as desculpas. O que nos leva a aceitar as mesmas. Mas as desculpas são más! São más, principalmente, porque imputam nos outros, e de forma chantagista, a responsabilidade de aceitar o anormal como normal. O normal seria, por exemplo, entregar o trabalho escolar dentro dos prazos estabelecidos pelo docente, mas lá vai ela, a desculpa: - Professor não fiz o trabalho porque a disquete encravou; professor não poderei apresentar o trabalho em sala de aulas porque tive uma “infelicidade”– nem precisa explicar quais, enfim, desculpas e mais desculpas das mais variadas cores. Todas para justificar que não se fez o que se deveria ter feito! O Presidente da república percebeu-se dessa mania e havia iniciado um discurso crítico em relação as desculpas, lembram-se? Até se preconizava que se atingissem 100%! Enfim, este papo todo é uma desculpa! Estou a desculpar-me pela minha falta de assiduidade no blog. Há “muitos”, modéstia a parte, que me interpelam perguntando:- Que tal, não estás a postar? Estou maningue busy, digo eu!Nem preciso dizer com o quê. Estou desculpado? Espero que sim!

Vai mais um anúncio dos habituais seminários do Departamento de Arqueologia Antropologia (DAA) da Faculdade de Letras e Ciências Sociais, da Universidade Eduardo Mondlane!

Título: Procurar um marido na igreja: Percursos das Mulheres nas Igrejas Pentecostais Brasileiras na cidade de Maputo
Autor: Linda van de Kamp
Data: Sexta-feira, 01 de Junho de 2007
Local: SALA CP 2501
Novo Complexo Pedagógico
Campus Universitário Principal
Hora: 13:00-14:00h
Resumo: Procurar um marido na igreja: Percursos das Mulheres nas Igrejas Pentecostais Brasileiras na cidade de Maputo Paula (37 anos) começou a frequentar a Igreja Universal em 1994 porque na sua família as moças não conseguiam casar por causa dum mau espirito. Marcia (28 anos) ora cada dia a Deus pedindo um homem certo, um homem que saiba cozinhar e fazer limpezas. Os namorados de Ana (21 anos) sempre desaparecem depois dum certo tempo, por isso ela começou a participar na terapia do amor na igreja. Antes disso, sua mãe levou-a ao um curandeiro, mas isto não ajudou nada e ela preferiu ir a igreja. Ao apresentar estes casos durante o seminário gostaria de mostrar percursos em mudança de mulheres jovens na cidade de Maputo que frequentam as igrejas pentecostais transnacionais. Deixo-me inspirar por trabalhos recentes sobre a juventude em África em que são abordadas as lógicas que os jovens usam para reconfigurar as geografias de exclusão e inclusão, maneiras de escapar estruturas restritivas e navegar pelas situações sociais, econômicas e políticas. Pretendo entender como pessoas (jovens) se movimentam e criam ambientes sociais nos quais suas vidas são enquadradas. Os movimentos religiosos podem ser atractivos para os jovens. Por um lado, por que são espaços onde são oferecidos modos de ser e pertencer (modes of being and belonging), mas também por outro lado, porque nestes espaços podem ser construídas novas imaginações da comunidade e do individual. Nas igrejas pentecostais (‘born-again’ churches) as pessoas começam uma nova vida. A pessoa é salva por Jesus Cristo e empoderada pelo Espirito Santo e simultaneamente a pessoa quebra com os laços de parentesco. Nesta transformação é desenhada uma influência divina acrescentada reduzindo o risco de outras pessoas, vivos e mortos, interferirem no progresso da sua vida.

Sunday, May 27, 2007

Conferência em memória de Ruth First (1925-1982).

Regresso ao blog, após pouco mais de uma semana ausente, muita coisa aconteceu. Revogação de decretos ilegais, “crime na corporação”, incêndio no ministério da agricultura, enfim, um terreno fértil para reflexão do "Estado da Nação"! Muita matéria-prima, para tão poucos exploradores, das sociologias do direito, sociologia do crime, sociologia das organizações para não falar noutras disciplinas. E por que não, para o simples onipar do bom senso? E ainda há quem ache que temos cientistas sociais por demais neste país! Regresso, timidamente porque ainda não disponho de tempo para mais, com o anúncio de uma conferência em memória de Ruth First. Agradeço a professora Amélia Souto, um das organizadoras do evento, pelo envio do anúncio.
Moçambique no Contexto da África Austral e os Desafios do Presente: Repensando as Ciências Sociais
(Conferência em memória de Ruth First, na passagem dos 25 anos do seu assassinato)
Centro de Estudos Africanos/Universidade Eduardo Mondlane
Maputo, 17 de Agosto de 2007

Apelo a apresentação de comunicações

Moçambique torna-se independente a 25 de Junho de 1975 e o Governo estabelece a sua política externa, definindo como uma das suas prioridades, o apoio não só aos movimentos de libertação africanos, com realce para a luta do Zimbabwe e Namíbia, mas também à luta dos povos oprimidos, com relevo para a luta do povo sul-africano contra o apartheid. No plano interno, a sua estratégia de desenvolvimento económico e social visava a criação de uma sociedade mais justa e igualitária. Estas opções conjugadas vão levar a um confronto aberto com a Rodésia e a África do Sul, mas vão também conduzir o país a uma situação política, económica, financeira e social extremamente difícil e conturbada.

A agudização de conflitos entre a África do Sul e os restantes países da região, a guerra civil e a difícil situação político-militar que se vive em Moçambique, são factores decisivos na busca de alternativas internas, depois dos acordos e parcerias regionais estabelecidas no quadro da SADCC e países da Linha da Frente. São claros exemplos desta situação o Acordo de Nkomati e as negociações com o FMI/Banco Mundial em meados da década de 80, e o seu desembocar no Plano de Reabilitação Económica em 1987. Nessa esteira, há também mudanças na arquitectura política interna que culminarão com a revisão da Constituição em 1990. A assinatura do Acordo de Paz em Outubro de 1992, põem formalmente fim à guerra civil, abrindo mais uma página na história do país.

O período pós-conflito traz novos desafios a Moçambique, nomeadamente: levar a cabo o difícil processo de reconciliação, criando condições de inclusão de todas as sensibilidades sociais e, assim, sarando as feridas da guerra;implementar e consolidar um sistema democrático multipartidário, tal como o previsto no Acordo Geral de Paz; e relançar o desenvolvimento social e económico em moldes novos, baseados na iniciativa privada e na economia de mercado. A estas questões podemos talvez acrescentar uma quarta, a da criação de condições para a integração do país na estrutura regional da África Austral, a SADC, segundo o calendário e os ritmos definidos.

As crises de pensamento decorrentes das grandes mudanças que ocorreram no mundo durante a última metade do século XX e início deste século levaram as Ciências Sociais a acelerar a sua reconceptualização, num esforço tendente a clarificar e redefinir o seu papel na sociedade. Hoje, mais do que nunca, se debate sobre a finalidade das Ciências Sociais e o seu papel na sociedade. Questiona-se, ainda, se elas proporcionam um aconselhamento sábio sobre problemas do presente; ajudam os seres humanos a interpretar o mundo que os rodeia para melhor agirem sobre o mesmo; e se contribuem para uma maior eficácia das decisões políticas e administrativas.

Desde os finais do século XX que se discute o surgimento de um novo modo de produção do conhecimento, e se defende que as pesquisas são desenvolvidas a partir da necessidade de resolver problemas práticos e não apenas de interesses cognitivos, como pesquisa básica. A ideia da multidisciplinaridade, introduzida entre as duas guerras, ganhou importância e legitimidade no pós-segunda guerra mundial, ao suscitar a necessidade de transpor as barreiras entre disciplinas em direcção a uma transdisciplinaridade e a uma heterogeneidade institucional crescente. Desta feita, tornou-se possível às universidades e outras instituições de pesquisa estabelecer interfaces com o governo, as ONGs e as empresas. Apesar dos constrangimentos por que passam as instituições de ensino superior nos últimos anos, se espera que as universidades e institutos de pesquisa, na sua relação com a sociedade, sejam capazes de definir novos domínios do conhecimento, fazer diagnósticos e trazer soluções no âmbito da sua responsabilidade social.

As Ciências Sociais em África têm contribuído para o estudo das novas relações de trabalho, novos processos educacionais e de produção de conhecimento, formas de violência, estrutura rural, emancipação feminina, novas formas de constituição de identidades individuais e colectivas, vários tipos de expressão das desigualdades sociais, entre um número incontável de temáticas. A cultura científica hoje, tornou-se uma importante dimensão constitutiva das sociedades contemporâneas, enquanto recurso e enquanto problema, na medida em que interfere com todos os domínios da vida social. O cientista social deve, assim, pautar as suas pesquisas por uma postura crítica, e independente, porque a ciência só se desenvolve num contexto de liberdade académica e autonomia universitária, já que não podemos continuar ignorantes da realidade social que nós próprios construímos.

Em Moçambique, do período da produção socialista à economia de mercado e ao processo de paz e reconstrução do país, a produção em Ciências Sociais e Humanas mostra-nos a marcada influência dos diversos desafios, transições e reformas que num período tão curto abrangeram Moçambique e o esforço levado a cabo para fazer diagnósticos e procurar respostas para os problemas existentes. Assim, o processo relativo à implantação de uma economia e uma sociedade socialistas, o impacto da guerra, a resolução de conflitos, o processo de paz e a construção de uma sociedade democrática, a pobreza, a questão da terra, mulher e género, línguas moçambicanas e várias outras problemáticas, e mais recentemente, as consequências dos impactos do HIV/SIDA e outras doenças endémicas, marcam a produção científica nacional. Não se pode de modo algum ignorar o contexto regional, onde a dominação económica sul-africana, o regime do apartheid e a nova África Austral pós-apartheid, bem como a dinâmica da cooperação, paz, segurança e políticas de integração regional, fazem também parte dos interesses dos investigadores em Ciências Sociais ao longo destes períodos.

Hoje, no nosso país, debatem-se assuntos relacionados com a pobreza, o desemprego, a exclusão social, a construção de democracias e da paz, a governação participativa, a segurança e a pandemia do HIV/SIDA. Os cientistas sociais Moçambicanos devem com as suas análises contribuir para a construção de uma democracia enraizada num conhecimento da realidade nacional, regional ou africana, na valorização da produção de conhecimentos locais, e por uma sociedade mais livre e justa.

Cabe-nos então reflectir como ultrapassar os obstáculos que vão para além das dificuldades em acesso a recursos, ou dependência de agendas, para repensar o papel das ciências sociais como um espaço por excelência de formação e de intervenção social.

“Moçambique no Contexto da África Austral e os Desafios do Presente: Repensando as Ciências Sociais”, é o tema de fundo em redor do qual nos propomos celebrar a memória de Ruth First, nos 25 anos do seu assassinato, no seu gabinete de trabalho no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Trata-se não só de um tema estimulante, como desafiante. Por um lado, porque vai ao encontro do que foram os ideais de Ruth First e Aquino de Bragança, que utilizaram o trabalho académico para fazer o diagnóstico e procurar respostas para os problemas da região e do papel de Moçambique neste processo. Por outro lado, porque se vive presentemente um momento de crise em que se fazem não só interrogações constantes sobre o papel que as Ciências Sociais devem desempenhar no desenvolvimento nacional, mas também se questionam aspectos relativos à qualidade do ensino e da pesquisa científica.

O Seminário de um dia revisitará assim a história de Moçambique pós-independente no contexto da África Austral, tendo em vista discutir o papel das ciências sociais na procura de respostas aos problemas nacionais e regionais. O facto de se realizar sob os auspícios do Centro de Estudos Africanos, este seminário representa: i) por um lado, a homenagem que a UEM faz a Ruth First que desempenhou as funções de directora científica e investigadora do CEA, mas também uma homenagem a todos os cientistas sociais, que como ela, se empenharam na luta contra o apartheid e pela paz e progresso do continente; ii) por outro lado, e de forma simbólica, o papel que o Centro de Estudos Africanos desempenhou no “volte face”das ciências sociais no Moçambique independente, com realce para a sua função de diagnosticar e procurar respostas para os problemas nacionais.

O Comité Científico do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, convida assim todos os interessados em apresentar artigos a esta conferência, a submeterem um resumo breve variando entre 150 a 300 palavras, em linguagem clara e informativa, com uma indicação do conteúdo da apresentação e seu argumento principal. O resumo deverá ser apresentado em letra 12, formato Times New Roman, 1 espaço, e enviado até 30 de Junho de 2007, para o seguinte endereço:
ruthfirstconferencia@yahoo.com.br

Até 15 de Julho, os participantes a este seminário serão informados sobre os resultados da selecção de resumos e receberão outras orientações relativas à apresentação das suas comunicações.

Tuesday, May 22, 2007

Ausente!

Caros amigos e leitores!
Estou, e estarei ausente por alguns dias, de viagem.
As poucas oportunidades que tenho de estar na NEt apenas me permitem uma leitura apressada. Até breve!
Patricio Langa

Saturday, May 19, 2007

Anacrónico, mas coerente!

"A propriedade privada, meus camaradas, significa exploração do Homem pelo Homem".

“Ainda tenho que conversar com alguns camaradas. Eles acham que são empresários, mas, na verdade, são capitalistas subalternos".

Marcelino dos Santos, o Guru da Frelimo, existe quem diga que é a própria Freli, sempre e sempre igual a si. Coerente nos seus princípios. Fiel na defesa das suas premissas de interpretação da história. Um verdadeiro homem de ideologia. Coerente! Não importa, aqui, que o tempo histórico, actual, o tenha tornado de certo modo ANACRÓNICO! Será, mesmo? Ecoa-me nos ouvidos um comentário de Graça Machel feito num programa televisivo, “Com a Imprensa”, da nossa pública. No programa, Machel respondeu a uma pergunta dos jornalistas sobre um pronunciamento seu por alturas do 9 Congresso na Zambézia. Graça disse e cito de memória: "na altura em fórum próprio, referia-me aos meus camaradas da necessidade de o partido olhar para si e reencontrar-se com seus princípios fundadores, nomeadamente, a IDEIA de ocupar cargos públicos para SERVIR AO POVO". Ai que saudades desse tempo. Tempo em que o povo não era apenas lixo que só serve para votar. No nosso caso, nem para isso parece servir. Pelas contas, os números de eleitores que exercem seu direito de voto indica que este só se restrige ao dos membros. E esses de p-ovo tem pouco, hoje! Hoje povo, que parecia real e sólido, parece ter se “esfumado no ar”! Não é assim que dizia o velhote do O Capital: “Tudo que é sólido se esfuma no ar”?
Há quem ainda se põe a comparar um homem de ideologia com um pretenso e pretensioso pai da democracia. O que é que o pai demo + cracia iria transmitir aos seus interlocutores na academia? A experiência da dolorida dor de parto da demo + cracia? Enfim, estamos em tempo de demo como se diz e ai diz-se também vale a pluralidade de opiniões. A minha está exposta! Esperemos as memórias dos voos ou tiros razantes que esses para nós, estudantes do social, são matéria prima!

Thursday, May 17, 2007

Sociólogo Anthony Giddens comenta saída Tony Blair!

“Blair foi extremamente influente. O seu maior sucesso é o facto de hoje toda a gente ser Blairista. Até os conservadores são Blairistas”. Anthony Giddens.

Comentei de forma breve, faz pouco tempo, aqui, o anúncio da saída de Blair do poder na Grã-Bretanha. Hoje foi confirmado, com unanimidade, Gordon Brown como seu sucessor. Gordon Brown visitou Moçambique ano passado (?) no âmbito do seu périplo por África para promover o que considerou ser o “Plano Marechal” ou também popularizado como o “New Deal” para África. Leia aqui o discurso de Brown, nas Nações Unidas, sobre seus planos de ajuda ao desenvolvimento.
Enquanto isso o artigo reproduzido na imagem contem passagens com comentários de personalidades diversas sobre os 10 anos da “Era Blair”. Destaco as opiniões do não menos conhecido sociólogo Britânico, Athony Giddens, que foi um dos, “Brain-Trust”, cérebros de confiança e conselheiro de Blair no seu primeiro mandato.

O medo da Policia! 3

Há dias coloquei uma postagem, aqui, sobre a detenção de quatro jovens na Matola suspeitos de haverem morto um cidadão de nacionalidade Francesa. Na altura interrogava-me sobre os procedimentos legais da prisão preventiva. Sendo leigo em matéria de direito solicitei a ajuda de Ilídio Macia, jurista, que se prontificou a elaborar mais, sob ponto vista jurídico, as minhas inquietações. Ilídio fê-lo, e com muita clareza. Como seria de esperar não pode, na sua elaborada resposta, dar conta de tão vasto e inesgotável assunto. No entanto, fornece-nos instrumentos importantissimos e que nos permitem questionar em que medida na sua actuação a policia respeita e faz respeitar os preceitos legais sobre a prisão preventiva, nas suas variadas vertentes.
A impressão que fica, de experiências como a relatada no caso dos jovens da Matola, é de que as prisões não só são arbitrárias como visam produzir indícios. O que é ilegal. É por isso mesmo que mais uma vez vale apena rever a plausível hipótese de que
o maior problema do crime em Moçambique é a vulnerabilidade do cidadão perante o agente policial.

Wednesday, May 16, 2007

É para rir ou para chorar?

Mais um texto de Elton Beirão! Essa de fechar as portas fez –me lembrar a advertência do ministro da defesa no explosivo e fatídico dia 22 de Março. Lembram-se que o 'cunhado do chefe' sugeria para que as pessoas fechassem as janelas para se protegerem das obuses assassinas, já esquecidas! !

“Através de arrombamento, estes grupos de malfeitores introduzem-se nas residências para retirar bens de valor, por isso alertamos os residentes, particularmente os da cidade de Maputo e Matola, a manterem bem fechadas as suas casas durante a noite”. (Porta-voz do Comando Geral da Polícia, Pedro Cossa ― Diário de Moçambique 16 de Maio de 2007)

Esta advertência da polícia é uma verdadeira caricatura do estado em que se encontra a nossa polícia. A princípio achei muita piada a advertência e ia “morrendo” de tanto rir. Valeram as palmadinhas nas costas dadas por um colega que partilhava a mesma mesa no habitual pequeno-almoço. Ria porque não entendia como a polícia aconselha a fechar bem as casas durante a noite para que mal feitores não entrem se a própria polícia diz que as portas são arrombadas e não abertas! Talvez estivesse equivocado e por isso de imediato recorri a um dicionário da língua portuguesa. “Arrombar ― Abrir a força e com violência o que está fechado. Quebrar. Derrubar.”
É preciso dizer mais alguma coisa? Eu acredito que no cenário em que nos encontramos em relação a criminalidade ninguém se dá ao luxo de passar a noite com as portas não bem fechadas. São portas e janelas gradeadas, barras de ferro nas portas, alarmes, vedações electrificadas, enfim, verdadeiras fortalezas, mas mesmo assim os amigos do alheio vão contornando essas barreiras.

Mas depois de reflectir mais a volta de tal advertência ocorreu-me algo que me deixou triste e com vontade de chorar. Porque a mensagem que pude ler nas entrelinhas é preocupante. A polícia existe para combater o crime (CORRECTO).
A polícia identificou um foco de crime e seu modus operandi (CORRECTO). Não devia a mesma polícia estudar e traçar estratégias de combate a esse crime? Não estará a polícia com a advertência retirando seu “corpo” de campo e assumindo que agora salva-se quem puder? Está querendo dizer que é da responsabilidade de cada cidadão combater o mal feitor que invadir sua casa? E ainda nos espantamos com a “mentalidade linchatória” dos cidadãos.
Elton B.

UEM: da renovação na continuidade à continuidade na renovação!



O novo reitor da Universidade Eduardo Mondlane continua a efectuar mexidas nos cargos de direcção da instituição que dirige, alguns apenas a mudam de sector sem necessariamente mudarem de cargo.
Vide mais
aqui.

A hora das benesses!


Não tardou. Começaram a chegar as soluções para o problema; PROBLEMA?, do “desmatamento”/desflorestamento”. Leiam mais aqui.

De “Rei da Marrabenta” à palhaço da publicidade!

O capitalismo é, e sempre foi, selvagem em todas as suas dimensões: económica, política e até cultural. Na exploração de recursos naturais, na exploração dos recursos humanos (mão-de-obra), e até na exploração dos recursos culturais. O capitalismo é, essencialmente, selvagem! Nestas circunstancias, e reconhecendo esta característica, cabe ao homem impor-lhe limites, domesticá-lo, domá-lo. Para tal, diferentes técnicas e instrumentos podem e são mobilizados pelos diferentes grupos de interesse. A ética e a moral religiosa por uns, os direitos humanos e de cidadania por outros, a protecção do ambiente tambem por ouros e por ai em diante. A busca de lucro num ambiente de concorrência e competitividade exige criatividade no aliciamento dos consumidores dos mais diversificados produtos. A publicidade está ai, para isso. Aliciar-nos! Na indústria futebolística além dos milhões pagos aos jogadores pelos seus contractos, boa parte dos seus proventos vem de contractos publicitários. Na sétima arte idem; com os músicos não é diferente, até com os políticos. Lembram-se de Mikhail Sergevich Gorbachev publicitando para a MacDonald? As revistas de Jet 7, a PlayBoy e todo aquele ‘aparatus hollyhoodesco’ que paga milhões para pessoas pousarem, como vieram ao mundo, o que mais não é do que o fervor da publicidade em busca, em última instância, do lucro? Depois de mais de boa parte dos seus 80 e tal anos de vida passada as minguas eis que surge para o Dilon a oportunidade de entrar para este mundo cujos limites apenas a sua consciência ética e moral pode estabelecer. Das migalhas da venda de suas músicas ou discos alguma vez Dilon poderia sorrir de placa? Repare-se que não estou a dizer que é “bom” ou “mau”, estou a tentar dizer o que este mundo pode proporcionar a quem se identificar com as suas regras de jogo. Afinal somos seres dotados da faculdade do livre arbítrio.
Clique na imagem para ler o artigo.

Música Moçambicana

Timóteo Bila é estudante do terceiro ano de Ciências Sociais na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.

Espelho de Revolução Sexual e de Discurso sexista
Por Timóteo Bila

É este ofício consolador da música: Ela se expande como a luz, circula como ar, suaviza as agonias, e o seu eco perdura por todos os lugares onde passa. Um canto de dor, uma lírica de paixão torna as paixões de amor belas; enobrece-as e justifica-lhes os excessos.”
Ettore Moschino (Escritor e Jornalista italiano)

Por uma simples comoção apaixonada, assuntos relativos a relações sociais, a género, a simbolismo social das relações de poder, me atraem a contemplá-los. Não a explicá-los cientificamente dado à minha pequenez intelectual dentro da bendita industria da razão técnica. Por isso, o que se segue é destituído de toda a frigidez conceptual científica. Trata-se de uma simples “tagarelice” que se quer uma reflexão sobre a nossa música como um espelho dum fenómeno inimaginável em décadas passadas – a revolução sexual, e de um conformismo alegre ao domínio do ego masculino nas relações do género.

Em A Política, Aristóteles, em capítulos cujo conteúdo é a importância de educação musical aos cidadãos (livres), considera a música um jogo, um passatempo, para além de ser uma ciência. Ao cidadão não se pode privar um mínimo de conhecimento do valor pragmático da música. Dormindo à sombra de Aristóteles, sonho a dizer: O espirito (o exercício da razão, trabalho racional), para ser mais frutífero, precisa do afago galante dos sentimentos da alma. A musica é, então, essa droga adocicante da alma e, consequentemente esse descansadouro do espirito. Pois “o trabalho produz sempre a fadiga e uma forte tensão das nossas faculdades, e é preciso, por isso mesmo, saber empregar oportunamente o jogo como um remédio saudável. O movimento que o jogo proporciona acalma o espírito e proporciona-lhe descanso mediante o prazer que causa”.(1)

Mas a música não é apenas o remédio de fadigas, é também uma expressão cultural, um reflexo de valores morais ou culturais de uma sociedade concreta. Com efeito, as narinas das nossas almas inalam em todo o lado a fragrância musical de "maboazuda, magostosa", de "Terezinha você, ni taku xavela mimovha (comprar-te-ei carros...) ...negra, mulata...apanha", de "ni taya casa 2 (gozarei na casa 2)", e etc – perdoem-me a tradução. Daqui, podemos perceber duas realidades:

1) a expressão duma geração sem tabus, sem sexualidade reprimida, sem domínio da Dona Ignorância em matéria do sexo como um jogo e prazer;
2) a imagem da mulher como objecto do sexo, uma boneca viva cuja raizon d'trê é a satisfação do ego masculino. É o homem quem compra bens materiais (celulares, carros, etc.) a enfeitiçar a "elegância feminina", seja ela mulata, negra, albina...Por um lado, temos a revolução sexual, por outro o discurso sexista.
Revolução sexual
Vale assinalar que não brotei do húmus de Pitágoras para discutir a origem das coisas, neste caso, origem de tal revolução sexual. A intenção é referir-me à música como reflexo de “novos” valores e novas regras de jogo sexual da nossa sociedade actual. Não obstante, suspeito que com o serpentear todo-poderoso dos cartazes, palestras, propagandas do sexo seguro, movido pelo terror de HIV/SIDA, inauguramos uma época de mudanças sérias em todo o tecido relações sexuais. Esses mecanismos para Prevenção de HIV/SIDA sabem, aparentemente, convencer a "comer banana com casca" - desmitologizando a santidade de "comer banana sem casca" apregoada na sociedade "tradicional".
Elísio Macamo, em O Abecedário da nossa Dependência, numa breve mas profunda reflexão sobre o “jeito” (preservativo) escreve que “as canções, os dísticos e cartazes, a publicidade na rádio e televisão encarregaram-se de precipitar a sociedade para novas formas de comportamento, novos tipos de relação entre pais e filhos, adultos e crianças, em suma o “Jeito” está a ser mais do que um instrumento de prevenção. É um agente infiltrado que está a organizar uma revolução sexual e de valores na nossa sociedade”.(2) Ergue-se uma sociedade sem tabus, sociedade onde a permissividade, por preguiça de dizer liberdade, é condição sine qua non para felicidade da nova juventude, qual se assemelha, de alguma forma, à juventude da histórica revolução sexual dos anos 50/60 nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina, com os movimentos beats e hippies a contestar o modelo moral cristão ocidental.
Eis o que se firmou: é proibido proibir. Uma advertência que flutua no âmago da cultura pós-moderna. A (auto)realização não resulta necessariamente do progresso pela razão ocidental. A ocorrência das duas Guerras Mundiais traiu a fé optimista daquela juventude no progressismo iluminista. É preciso apreciar o êxtase, o sensual, as aventuras da alma (a aprender de outras culturas, principalmente orientais), e aí encontrar prazer, a felicidade aqui e agora. Navegando no jazz, rock n’roll, no sexo livre, nas drogas alucinógenas, os jovens dos anos 50/60 teceram uma outra cultura, não uma subcultura, mas uma contracultura. Libertaram-se da educação sexual opressora. Nós também o fizemos, mas não no mesmo contexto daqueles... Falta-nos a percepção dos efeitos negativos de libertação sexual e o esforço de minimizá-los antes de mergulharmos num estado de paranóia social.
Discurso sexista
Com a libertação sexual, reorganizam-se as relações de género. As mulheres despertam do silêncio e se expressam sexualmente, sem que isso constitua falta de pudor. Todavia, na música moçambicana contemporânea, mesmo com o contentamento com o sexo livre e cru, não se deixa de reafirmar os tradicionais papéis das mulheres como dependentes e secundárias. Na música – em exemplos acima mencionados - não se reflecte as diversas facetas da vida das mulheres ou as suas contribuições na condução dos destinos da sociedade. “Caracterizadas como essencialmente dependentes e românticas, as mulheres são raramente retratadas como racionais, activas ou decisivas”.(3)
É aqui onde encontra uma dura objecção o feminismo na sua luta ao derrube da sociedade patriarcal. Se “a revolução sexual marchou sub a bandeira da liberdade; o feminismo sub a da igualdade”, (4) pergunto eu: como ver a igualdade onde é o homem quem se despede da esposa rumo à casa 2?; como ver a igualdade onde é o homem quem tem o poder de compra, adquirindo bens materiais a encantar a mulher ao cativeiro dos seus apetites “animalescos”?
Assim, expressando o descontentamento do feminismo, ressalta Allan Bloom: “A paixão sexual masculina tornou-se de novo pecaminosa porque culmina no sexismo. As mulheres tornaram-se objectos, são violadas pelos maridos como por estranhos, são sexualmente perseguidas por professores nas escolas e por patrões no trabalho...” (5) Sim, neste processo de libertação sexual, confundindo-se nudez com pornografia, a mulher é ai vítima de “objectificação” quando lhe é explorada a sua sexualidade e aparência física.

Conclusão
A música moçambicana contemporânea não só reflecte a revolução sexual, mas também a encoraja a um passo mais veloz que a disseminação dos conhecimentos básicos que nossas crianças, adolescentes, jovens (e até adultos!) devem possuir sobre a sexualidade humana. Se é bem vinda a revolução sexual, urge purificar o seu conteúdo e nos precaver de que ela não venha a criar uma religião do sexo cru formando possessos sexuais, a ponto de se extinguir a consciência sobre os efeitos perigosos do instinto sexual. Através da nossa música percebe-se que já deixamos o slogan antigo - “cuidado com sexo” para o pós-moderno - “Ui! Quero sexo”. Mas, os conhecimentos básicos sobre Saúde Sexual Reprodutiva ou Vida Sexual Responsável são pouco partilhados, mesmo quando nossas cabeças deparam-se com números elevados de gravidez precoce/ indesejada, abortos clandestinos, casamentos forçados, e ITS/ HIV/SIDA.

Para já, é imperioso, se quisermos afirmar a igualdade do género, vigiar nossas expressões, nossos gestos que colocam a mulher numa posição de inferioridade ou de dependência em relação ao homem. Um projecto para o equilíbrio do género em nossa sociedade não deve cingir-se apenas em contar ou fazer subir os números do acesso e de frequência da rapariga na educação, ou de conceder crédito às “mamanas” vendedoras mas também em desconstruir o discurso sexista ainda bem cristalizado no imaginário sexual da nossa sociedade. Se a música recria o discurso sexista (que não só dicotomiza mas também hierarquiza os papéis sociais, colocando a mulher num plano inferior), ela requer uma intervenção social e político-educacional, no âmbito da construção de uma cultura de equidade de género.
Notas Bibliográficas

(1) Aristóteles. A Política. Portugal: Circulo de Leitores, 1975, p. 226.

(2) Macamo, Elísio. O Abecedário da nossa Dependência. 2ª edição. Maputo: ndjira, 2005, p. 48.

(3) Gellgher, M., Unequal opportunities: The case of woman and the Media, Unesco, Paris , 1981. Citado in SARDEC – WIDSAA, Para além das Desigualdades: A Mulher na África Austral, SARDEC, Harare, 2001, 270.

(4) Bloom, Allan. A cultura inculta: Ensaio sobre o declínio da Cultura Geral. 3ª edição. Portugal: Publicações Europa-América,1987, p. 96

(5) Idem, p. 99.

Tuesday, May 15, 2007

Da periferia para o Centro!


Gabriel Muthisse, cujo seu vasto curriculum está, parcialmente, retratado na notícia é também um dos mais assíduos comentadores na blogosfera. Em quantos debates, quantas discórdias, quantas réplicas nos diferentes e mais visitados blogs moçambicanos Muthisse não participou? Pessoalmente, tive momentos de debate interessantes e estimulantes com Muthisse. Recordo-me, por exemplo, da questão da Musica e Identidade nacional amplamente discutida, em 2005, no "Ideias para Debate" do Jornalista MACHADO DA GRAÇA. Bem-haja Muthisse e boa sorte nas novas funções, de Vice-Ministro! Clique na imagem para ampliar.

Monday, May 14, 2007

Política ou politiquice?


Elton Beirão regressa com a distinção entre Política e Politiquece!
Este artigo vem a propósito de uma notícia publicada no jornal Diário de Moçambique de 14 de Maio de 2007 cujo título é “Comissão politica do PDD em Sofala: Ex-presidente filia-se a Frelimo”. A notícia faz referência a um (ex)membro sénior provincial do PDD e outros dois (ex)membros da Renamo que abandonaram seus partidos para se filiarem ao partido Frelimo.
Não é a notícia em si que me chamou atenção, até porque este tipo de notícias já não constitui novidade nos corredores da nossa política(?) e pelo andar da carruagem continuaremos por mais tempo sendo brindados com notícias do género. Também não é o facto de indivíduos do partido PDD ou Renamo terem mudado para partido Frelimo.

O que capto nas entrelinhas desta e de outras notícias do género é a pobreza da nossa política(?). O que me leva a questionar se em Moçambique se faz política ou politiquice (e das bem mesquinhas)? E tenho consciência que não sou pioneiro neste tipo de questionamento. Mas tenho também esperanças que ao trazer a tona questões desta natureza seja mais uma voz na insistência para que as coisas possam um dia mudar. Como diz o ditado popular (donde é mesmo este ditado?) “água mole em pedra dura tanto bate ate que fura”.

Nestas notícias de mudanças de “camisolas” partidárias procuro sempre perceber as razões evocadas para tais movimentações e apenas encontro alegações dignas de capa para um certo jornal sensacionalista da capital. Admito que cada indivíduo é livre de alegar qualquer razão para tomar certo tipo de atitude e que podemos encontrar racionalidade nas escolhas das acções que parecem irracionais. Mas alguns leitores vão concordar comigo que numa política(?) que pretende o mínimo de seriedade é mesquinhice mudar de partido e apresentar como razões o chinelo rasgado e o facto de estar comendo num prato de plástico; é mesquinhice mudar de partido porque se esta cansado de ser aldrabado; é mesquinhice mudar de partido para melhorar a vida privada, ou por outra, para parar de sofrer.

Alegações desta natureza para mudança de partido fazem-me perguntar aos que andam directamente envolvidos na política(?) em Moçambique quais tem sido as motivações para se filiarem no partido H e não no K nem no S? Então os indivíduos filiam-se a um partido porque andam descontentes com sicrano ou beltrano?
Talvez eu esteja ultrapassado no tempo mas a filiação partidária por parte dos indivíduos não deveria supostamente ser em função de um ideal? Em função a uma agenda ou programa? Em função de uma linha orientadora? Claro que aqui entraríamos na discussão se os nossos partidos na realidade seguem um ideal, se têm uma agenda ou linha orientadora.

Se andamos a imitar a política e democracia de fora (principalmente ocidente) então ao menos imitemos correctamente. Que eu saiba, os políticos das democracias que andamos imitando não mudam de partido como se estivesse mudando de camisa. E quando o ideal ou agenda de um partido começa ser distorcido são apuradas responsabilidades e os culpados podem até ser afastados da direcção do partido. Os partidos podem até discutir e reavaliar as suas linhas orientadoras, seu ideal. Quantas crises partidárias não vemos por este mundo fora?

Mudar de partido porque se esta descontente! É fazer politiquice!

Elton B.

O texto que gostaria de ter escrito!

Existe um debate surdo e de surdos aqui na blogsfera que resvala de posicionamentos diferenciados com relação a questão do “desflorestamento”.Esse debate acabou despoletando um outro referente ao tipo engajamento dos cientistas sociais e as implicações disso. Do meu lado, sempre, defendi que, no caso particular da sociologia, tratasse de uma ciência que acima de tudo se preocupa em compreender, mas do que em transformar arealidade social. O que não impede que os seus praticantes desejem e façam algo para a transformar. A famosa praxiológia. Fui mal entendido e caricaturado como um "ideologicamente anestesiado" e crente numa neutralidade axiológica a muito provada inexistente. A coisa, por ai, não parou. Nasceram desse debate aforismos que viram vaidade na atitude de discórdia e crítica. Desde quando criticar e discordar é vaidade? Ainda tenho muito que aprender, mesmo. Enquanto cogitava sobre a necessidade ou não de reagir, para desfazer equívocos, eis que surge o texto que eu gostaria de ter escrito. Reflecte na íntegra o que penso. Leiam-no aqui.

O Medo da Policia! 2

Há dias foi reportada, pelo canal televisivo STV, a morte na Matola, em sua residência, de um indivíduo de nacionalidade Francesa. Consta que se tratava de um polícia reformado. O porta-voz da polícia de uma das esquadras na Matola apareceu em entrevista a STV a descrever, numa espécie de abdução, as circunstancias em que o crime ocorrera. Segundo o porta-voz após evadirem a casa o malogrado se predispôs a colaborar com os bandidos. Tendo sido ordenado para que fosse buscar ao quarto dinheiro, fê-lo. No entanto, encontrou a morte por ter sido surpreendido pelos bandidos a tentar apossar-se da sua arma, que o porta-voz considerou de posse legal, para reagir ao assalto. O porta-voz não diz em momento algum da entrevista em que circunstancias soube deste roteiro. Falou como se de um testemunha ocular se tratasse. Alguns dias depois eis que a polícia prende, na vizinhança do malogrado, quatro jovens. Suspeitos! Os familiares e os vizinhos dos jovens já recolhidos para os calabouços saíram em protesto contra a acção da polícia. Consideram que os jovens não são de conduta duvidosa e de não existir algum indicio de que tenham sido eles os perpetradores do assassinato.

Não está em causa aqui que a polícia deva trabalhar para esclarecer os crimes hediondos que acontecem. O que está em causa são procedimentos da acção da polícia. Mormente quando se trata de efectuar prisões. Quando é que a polícia se pode dirigir a casa de um cidadão e fazê-lo prisioneiro? Quem deve emitir os mandatos de busca e captura? Quem deve intimar as pessoas? Em que circunstancias? A polícia pode suspeitar do envolvimento de um indivíduo num crime e depois decidir ir a sua casa prendê-lo? (Elídio Macia, acho que precisamos do teu aconselhamento jurídico). É que há indícios de que a policia também se rege pela “lógica linchadora”. Desconfia de alguém, e zás! Toca a prender! O que mete medo em tudo isto é que parece que a nossa policia ignora por completo noções ligadas a presunção de inocência. Antes criminoso em liberdade do que um inocente condenado.

JEREMIAS NGUENHA (1972-2007): o precoce desaparecimento de um homem do palco

O Caderno Cultural do Jornal Notícias, dia traz uma reportagem alargada sobre a vida e morte de Jeremias Ngoenha. Leia aqui

Burros para combater a POBREZA!

Xi Mbogolana tsutsuma swinene ungawi ndleleni vanga ta ku zola!(Canção Popular)

Burro, burrinho corra bastante,
Mas não caias pelo caminho se não te apanham.

Numa altura em que “é preciso acelerar o passo” na corrida para “fragilizar” a pobreza ABSOLUTA, vale a pena lembrar o conselho dado ao burrinho. Desta vez cantemos para nós mesmo. País, país corra bastante, mas não caias no caminho se não nos vem apanhar. Leia mais aqui.

Sunday, May 13, 2007

As palmadinhas cómodas de quem define os nossos problemas!

Justiça moçambicana está no bom caminho - considera juiz federal dos Estados Unidos da América.
O JUIZ federal dos Estados Unidos da América Peter Messite considera que, apesar das severas críticas de que tem sido alvo, o sistema judicial moçambicano está no bom caminho. Segundo Messite, que trabalhou nas principais cidades do país, nomeadamente Maputo, Beira e Nampula, há coisas boas que tais críticas apagam, não as deixando transparecer na opinião pública.
Maputo, Sábado, 12 de Maio de 2007:: Notícias
Falando ontem, em Maputo, numa conferência que marcou o final da visita que vinha efectuando ao país desde segunda-feira, Peter Messite disse ser importante que o país acelere a reforma do sistema judicial e tome medidas que garantam a facilitação do acesso à justiça à maioria da população. O juiz considera que a jovem democracia moçambicana já deu passos significativos, destacando a reforma do sistema judicial em curso e a existência de pessoas honestas que acreditam no seu trabalho. “Podemos dizer, sem reservas, que Moçambique está no bom caminho”, vincou. O sistema judicial moçambicano, segundo reconheceu, tem sido confrontado com críticas muito duras, acusando-o de ser muito lento, bastante oneroso, enfermo de corrupção e de prestar maus serviços. “Há dúvidas e desconfianças, enfim, muita crítica que não oferece soluções, mas, por outro lado, há pessoas de boa-fé interessadas em avançar e Moçambique não é excepção. O maior desafio é integrar todas as iniciativas num sistema judicial único”, disse. Para sustentar a sua posição, Peter Messite apontou como passos em curso a própria reforma do sistema judicial, a descentralização da administração da justiça, entre outros. Frisou jogar papel de capital importância o cometimento do Presidente da República, Armando Guebuza, no combate sem tréguas à corrupção, o que demonstra claramente a vontade de fazer avançar a tão jovem democracia moçambicana. “O importante ainda é abrir as portas para que o acesso à justiça não pregue susto a ninguém, simplificando no máximo o sistema, e avançar com um programa de formação virado para as comunidades, para que estas conheçam a importância da justiça num país democrático”, referiu. Para isso, a fonte defende a realização de seminários para a promoção das relações entre a justiça e os “media”, onde os juízes e jornalistas poderão discutir os assuntos relacionados com a justiça para que as comunidades tenham uma informação real. “O povo tem que ter confiança no sistema. Para isso, é importante garantir-lhe assistência jurídica, reduzindo os custos”, afirmou. AIM.
Que eu me recorde nunca um dirigente Moçambicano foi aos EUA dizer como anda a democracia na terra do tio SAM. Provavelmente porque se assume que do lado de lá tudo vai, e sempre, bem! Afinal, eles são os guardiães mundiais do poder do povo. É com essa petulância que se autorizam a emitir juízos de valor sobre o estágio de maturidade dos aprendizes nas lides democráticas e de administração da justiça. É assim que vejo as declarações do Juiz federal Americano que recentemente esteve de visita ao nosso pais. Veio, acima de tudo, dar umas palmadinhas nas costas pelo que considera de “bom caminho” em que se encontra a nossa “jovem democracia”.
Com que base de conhecimento o Juiz federal americano se autoriza a emitir tais juízos sobre o estágio, não só, da nossa “jovem democracia”, assim como do sistema judicial, questiono-me. Fazendo fé ao reportado pela AIM, o Juiz tem alguma, mas pouca informação sobre a nossa justiça. Provavelmente, por essa razão, seu discurso é repleto de juízos de valor e menos e de juízos de facto.Pouco do que é e mais do que deve ser feito. É um discurso politicamente correcto e a alinhar com o que frequentemente ouvimos do governo e dos informes apresentados pelo PGR à assembleia da república, “apesar de tudo, das dificuldades... o balanço é positivo”. E como palavra de Americano, cá entre nós, é como palavra de Deus, quem mais terá autoridade para dizer que as coisas não vão tão bem como se vaticina. É por causa deste tipo de discursos, de pessoas não autorizadas, pelo menos pelo conhecimento de facto, que governantes, a primeira-ministra, dizem que nós próprios não sabemos reconhecer e valorizar o que entre nós há de bom. Ficamos a espera da aprovação estrangeira, diz a Ministra. Prefere a aprovação americana, pelos vistos. Palmadinhas nas costas. Vindas de alguém que releva, pelo seu discurso, não saber nada além do que lhe foi dito nas arejadas salas VIPs das instancias de hotelaria e turismo desta pérola do Índico como marketingcamente lhe chamam alguns.
São essas mesmas pessoas que das salas arejadas definem os problema para e por nós, e se dão ao luxo de oferecerem as soluções atribuindo-as a nós como seus mentores.

Quem define os nossos problemas?
A reforma do sistema judicial é em si um indicador de que se está no bom caminho? É por ter sido declarada pelo Juiz federal, que assim o devemos considerar? O que faz da reforma a solução para os problemas do sistema judicial? Por exemplo, em que medida a reforma representa uma solução adequada para a exclusão de uma boa parte dos Moçambicanos ao sistema judicial formal. Como a reforma lida com a situação de um país onde o povo não conhece o discurso tecnocrata dos tribunais? Como se reforma algo que ainda não ganhou forma, algo que está em construção? Como o próprio Juiz federal refere a dado passo ainda existem muitos Moçambicanos que não tem a acesso a este sistema formal de justiça. Há Moçambicanos, e não são poucos, que nunca pensam num tribunal formal como meio de resolução de conflitos. No entanto, alguém define o problema do sistema de justiça como sendo a reforma.
O Juiz federal reconhece que este mesmo sistema enferma de problemas de credibilidade. “Há dúvidas e desconfianças”, refere, mas as minimiza o problema. Afinal, restam alguns "honestos" e que “acreditam no seu trabalho”, entre os quais o presidente da república. Essas pessoas se encarregaram de purificar o sistema através da luta cerrada contra a corrupção. Alias a reforma ao que tudo indica tem como fim, encetar a catarse purificadora, para produzir mais “gente honesta”, de “boa –fé”, e "não corruptível". É por isso mesmo que o Juiz conforta estas pessoas “honestas” e “trabalhadoras” sugerindo que não se preocupem com as “criticas que não oferecem solução”.
O maior desafio anuncia o Juiz federal é integrar todas as iniciativas num sistema único. O que significa, porem, integrar as iniciativas num sistema judicial único? Significaria, por exemplo, acabar como as formas, alternativas, consuetudinárias de administração da justiça? Esta explicita a sugestão de que se deve alargar o acesso das “cidadãos” à um sistema simplificado de justiça. O que é um sistema simplificado de justiça? Pelo que percebo existe um claro exercicio de definição dos nossos problemas pelo Juiz. O juiz não veio à Moçambique colher experiência de como a gente lida com os problemas do nosso sistema de justiça ainda em construção. Não, veio dizer quais são os problemas, que soluções devemos adoptar, com que tipo de pessoas. Existe diferença significante entre vir colher experiência e vir dizer nos como por aqui andam as coisas.
O alerta há muito tem sido feito, pelos cientistas sociais, esses que não sabem fazer. A verdadeira soberania de um povo é aquela que o permite definir os seus próprios problemas, assim como as prioridades na sua solução. O desafio então é o de recuperarmos o direito de definir os nossos problemas! Queria ouvir um dia essa avaliação, de que estamos no bom caminho, ser feita pelo pacato cidadão. Ai a coisa teria outro sentido.

O Medo da polícia!


U vona ma poliça ma yivela ma camba”, Roberto chitsondzo.
“Vemos a policia roubando aos ladrões”.

Esta situação se repete sempre que me cruzo, nas ruas de Maputo, com a polícia. Tenho o habito, matinal ou de fim de tarde, de correr pelas artérias de Maputo. Por vezes, apercebo-me, de repente, numa situação na qual estou sozinho e tenho pela frente um ou dois agentes policiais. Um calafrio logo toma conta de mim, quase me quebra a espinha. Um monte de ideias num turbilhão passa instantaneamente pela minha cabeça. São polícias! Como que por uma espécie de instinto de auto-preservação pergunto-me de mim para mim: - Serão honestos? Estão armados? Lúcidos? Não serão acometidos por um espírito de loucura e desatar a disparar sem mais nem menos? Se na mesma margem do passeio me encontro, pergunto-me ou ajo instintivamente: - mudo de margem? O que vão pensar? Cumprimento-os? Acelero o passo? Sorrio? E se se irritarem?Em suma, antes que eles emitam algum sinal que me tranquilize passo por verdadeiros momentos de insegurança e de incerteza e as vezes de pânico. Recordo-me de uma vez ter me cruzado, logo pelas primeiras horas da manhã, com um policia visivelmente bem embriagado e de arma em punho. Rezei para todos os meus deuses para que ele não se irritasse com a minha pessoa até que me desfizesse das suas vistas. Assim aconteceu e recuperei uma profunda sensação de alívio. Imagino que esta situação ou algo parecido tenha ocorrido com algun dos leitores destas linhas.
Este relato vem a propósito dos debates que se tem feito em torno das presumíveis execuções sumárias de cidadãos perpetradas pela nossa polícia, nas ribeirinhas da costa do sol. Pelo que tenho estado a ler tanto dos diferentes analistas como dos órgãos que, em princípio, são o garante da segurança, ordem e tranquilidade públicas, incluindo a procuradoria geral da república, o guardião das legalidade, há indícios que me fazem corroborar coma afirmação segundo a qual:
o maior problema do crime em Moçambique é a vulnerabilidade do cidadão perante o agente policial. O meu relato, mais acima, sugere uma dimensão da vivência subjectiva dessa vulnerabilidade. A estória das execuções sumária dos três cidadãos, e provavelmente de muitos mais, pois aqueles parecem serem apenas a ponta o iceberg, é igualmente reveladora dessa mesma vulnerabilidade do cidadão perante a polícia. Nada justifica num estado de democrático e de direito, nem a fuga, que um cidadão seja morto pela polícia sem razões plausíveis. Suponhamos que os três cidadãos mortos pela polícia tivessem encetado mesmo uma tentativa de fuga, como diz a polícia. Penso que mandam as regras juridícas, em caso de houver necessidade de disparar para imobilizar alguém, que os tiros, primeiro, sejam para o ar e depois para atingir os membros superiores (ou seja as pernas). Nada disso foi feito. Foram tiros fatais, na cabeça! Não é nestes casos que se aplica o principio que advoga: antes ter um suspeito em liberdade, do que um inocente condenado? Parece que a nossa polícia está a precisar de noções básicas de direito, isto por um lado. Por outro lado, a cultura de responsabilidade das nossas instituições públicas deixa muito a desejar. Com todas as evidências a indiciarem para acto deliberado de liquidar com aqueles indivíduos a polícia forja um relatório para encobrir esse acto macabro. Como sugere a Jornalista Olívia Massango, do Jornal o País, o relatório de investigação, se é que assim se pode considerar, da polícia simplesmente não da respostas porque perguntas pertinentes não foram colocadas.

Saturday, May 12, 2007

Dizer, sem dizer, que J.Ngoenha morreu de SIDA!



Volto a referir-me ao “impropério” para alguns e ao acto de “coragem” para outros que foi o pronunciamento de Stewart Sukuma com relação as causas da morte de Jeremias Ngoenha. É claro que divide opiniões. Não podia ser diferente sendo uma questão que mexe com princípios ético e morais da nossa sociedade. É como debater sobre o aborto, a penalização ou não das raparigas que engravidem na escola, a barriga de aluguer, a clonagem humana ou de órgãos e por ai em diante. É difícil tocar nestes assuntos sem os polemizar. Requereria muito discernimento, prudência e decência por parte dos intervenientes no debate. Essas são qualidades ainda por conquistar no debate que se faz de ideias na nossa esfera pública. Da minha parte já disse o que acho, e inclusivamente aceitei os contra-argumentos dos meus críticos e interlocutores. Sukuma poderia estar, e não tenho razões para disso discordar, frustrado perante a impotência de salvar uma vida que poderia ser prolongada.

Dizer, sem dizer que Jeremias Ngoenha morreu de SIDA!

Se repararmos para a reportagem que é feita sobre este assunto no Jornal nota se quão temerário e por isso ambíguo é o Jornalista em chamar as coisas pelos seus próprios nomes. Em nenhum momento se fala explicitamente que Jeremias Ngoenha padecia e morreu do Vírus causador da SIDA. No entanto é, tacitamente, apresentada aquela que seria a solução que, no mínimo, prolongaria a sua vida. “ Apesar de grande parte da população não ter acesso aos anti-retro virais, há uma consciência plena sobre esta doença, e Jeremias era uma pessoa influente com todos os mecanismos para se safar da doença”. Destas premissas deriva a conclusão necessária e lógica de que Jeremias Ngoenha morreu de SIDA! Pois, que eu saiba, toma antiretrovirais quem padece de HIV/SIDA! Lá mais para baixo da reportagem Paulo Babrulu surge particularmente crítico no que respeita a atitude, que considera de hipócrita, de se considerar uma doença crónica como sendo fatal. Desmistificar certas coisas leva o seu tempo, mudar a maneira de pensar da sociedade ainda mais.
Clique na imagem para ampliá-la.

Curiosidade:Tony Blair!



Tony Blair, é o primeiro-ministro Britânico mais novo desde 1812. Leia em Inglês aqui, a sua trajectória numa altura em que anunciou, recentemente, a sua retirada como Prime.

Wednesday, May 9, 2007

Uma visão folclórica da música!

Ontem, dia 8 de Maio, o músico Stewart Sukuma foi o convidado para o programa Diálogos. Um programa de entrevista do canal televisivo STV. Stewart é um grande músico, na minha modesta opinião. Tem uma carreira marcante e creio de sucesso. Esteve em frente de vários projectos musicais e de formação. Não estão em causa aqui as grandes e notáveis qualidades de Sukuma. Alias, tenho para mim que Afriquite é um dos melhores álbuns da nossa curta história musical.

No programa de ontem para além de actualizar o público em relação a sua carreira, Sukuma referiu-se a alguns projectos. Destaco aqui o projecto da casa dos artistas, uma agremiação que irá apoiar músicos e artistas. Bom para eles. Sukuma referiu-se também a um outro projecto: O sem fronteiras. Este vai contar com a participação de músicos de vários cantos do mundo entre os quais os EUA.
É sobre este projecto que me quero referir.

A dado passo da sua explicação do que era o projecto Sukuma disse referindo-se ao que cada uma das partes traria para o evento: “Os Americanos e não só os Europeus dizem-nos: -Vocês têm os ritmos, as melodias e nós temos as técnicas”. Stewart ainda enfatizou a sua identificação com este diagnóstico, ao referir que virão esses estrangeiros investigar a “nossa música tradicional”. Não sei se é uma opinião formada do músico ou se daquelas coisas que se diz por força do habito e do habitus. É que ser for uma opinião formada, então, é problemática. É problemática por veicular uma visão folclórica da música moçambicana. Nós temos ritmos e melodias e eles têm as técnicas. Nos temos a emoção e eles têm a razão, um pensamento bem Senghoriano! Senghor, este ícone da negritude, defendia que enquanto a razão era helénica a emoção é negra. É um equívoco pensar que nós somos apenas produtores de ritmos e melodias e os outros de técnicas. Podereis argumentar que Xidiminguana, Mahecuana, Matavél e tantos outros não conhece(ia)m uma única nota musical, e nem sabe(ia)m ler uma pauta. No entanto, todos os povos produzem ritmos e melodias. O facto de as traduzirem para uma linguagem técnica não as torna menos rítmicas e melódicas.
Bem-haja a parceria entre a Berkeley University e a Escola de Comunicação e Artes da UEM. No entanto, penso que os termos de troca nessa parceria devem ser idênticos. Não engulam essa de que voz sois produtores de melodias e ritmos (folclore) e eles de técnicas. Essa é uma forma de mistificada e subtil de hierarquizar e subalternizar conhecimentos. Ao aceitá-la, legitimamos.

Burro Ambulância

Xigada M’bogolo (montador de burro) é como na infância, no Xai-Xai, nós chamávamos aos homens que passavam pelas ruas montados em burros ou suas carroças. Eram motivo de escárnio. Divertíamo-nos com os apupos que mandávamos, mas principalmente pela reacção nervosa dos Xigada M’bogolo que por vezes desciam e se punham a perseguir nos. Aí de quem fosse apanhado, levava uma sova por todos. Alguns dos apupos comuns eram os seguintes: “U lhupha Makwero” (Castigas o teu irmão, ao montá-lo), “Tchuvuka Mahalha” (Olhem àqueles gémeos). Essas brincadeiras povoam o meu imaginário, onde o burro, mas principalmente seu condutor eram estigmatizados.
Lembrei-me deste episódio a propósito de uma notícia que vi ontem no telejornal da STV. Burros vão ser ambulâncias num dos distritos do nosso país. Achei-a interessante. Ocorreu-me, logo, a ideia Samoriana “contar com as próprias forças”. Afinal enganara-me. A jumentada era um donativo. Sim, mas este país vive de ajudas mesmo. Mas isso não é o mais importante. Mais marcante é a maneira como ao caracterizar o burro e as implicações do seu uso como ambulância abalaram o meu imaginário do que era o burro.
O entrevistado da STV dizia: - “O burrro, afinal, não é burro”! Ele até melhor que o boi, pois nunca se subleva, enfatizava. Com uso do “burro haverá redução da taxa de mortalidade no distrito”, “aumentar-se –a as áreas de lavoura”, e não só “o burro é mais resistente as doenças que outros animais”.

Tuesday, May 8, 2007

UP reduz assimetrias regionais - considera Rogério Utui



"A CRIAÇÃO de delegações da Universidade Pedagógica nas províncias é um imperativo ditado pelo crescimento sociocultural e pela necessidade de se reduzirem as assimetrias regionais em Moçambique, segundo disse quinta-feira última, em Venhece, distrito de Xai-Xai, Rogério Utui, Reitor da UP, falando nas cerimónias que marcaram a abertura oficial daquela instituição do ensino superior em Gaza"

De acordo com Utui, esta é a sexta instituição do género no país, tendo anunciado na ocasião, estarem em instalação estabelecimentos similares em Massinga, província de Inhambane e Montepuez em Cabo Delgado. Segundo ele, é objectivo da UP levar até 2012 a Universidade Pedagógica para todo o país, que irá formar professores de todos os níveis. Para dar resposta à extensão do primeiro ciclo aos distritos, de acordo com o reitor, estão a ser treinados a partir deste ano académico, graduados provenientes do ensino pré-universitário, por um período de um ano, e recebem matérias relacionadas com pedagogia, didáctica e algumas disciplinas de especialidade. Os futuros docentes após a formação são designados para leccionar nos distritos, tendo a possibilidade de obter bacharelato, em quatro anos, num regime de formação à distância. Falando na ocasião, Djalma Loureço, governador de Gaza, considerou a universidade como instrumento estratégico e incontestável que vai impulsionar o desenvolvimento da província, um local de sistematização de conhecimentos que muito bem irá contribuir para o combate à pobreza. “Desde a sua criação no país, a Universidade Pedagógica tem dado provas de que o ensino superior no país não está reservado apenas a uma elite, é para todos, um local onde a preocupação do estudante não se deve restringir apenas à obtenção do diploma, mas usar o conhecimento adquirido em benefício das comunidades com quem deve constantemente interagir ”, disse. Num outro desenvolvimento, aquele governante alertou a necessidade de os quadros superiores deixarem de ser simples repercutores de teorias assimiladas nas faculdades, assumindo-se como alavancas para o desenvolvimento da auto-estima.
  • Depois de ter emitido um bom sinal, logo depois da nomeação, parece que Uthui enveredou pelo discurso de formatura.
  • O que faz um Reitor que, em várias ocasiões, defendia uma visão unitária de campus universitário como mais apropriado para os fins académicos mudar de ideia num piscar d’ollho?
  • Formular o problema da expansão do ensino superior como sendo o de resolver o “problema” das “assimetrias regionais” ou vice-versa será a melhor? O que significa resolver o problema das assimetrias regionais? Que assimetrias? De acesso ou de sucesso? Vamos levar a universidade à todos estudantes nos distritos ou levar todos estudantes do distrito à universidade? A primeira alternativa, num país como o nosso sem recursos, não só é mais onerosa como é a que mais desigualdades sociais pode perpetuar, pois nunca se vai conseguir oferecer uma universidade com as condições, por exemplo, daquela do Maputo. A segunda alternativa requer mais pensamento, menos recursos financeiros, e parece que pode perpetuar menos as desigualdades sociais a partir da própria universidade.

Monday, May 7, 2007

Sem Comentários!



Jeremias Ngoenha morreu de estupidez e ignorância”. Foi com estas palavras que o músico Stewart Sukuma se referiu a morte de seu colega em pleno programa televisivo, o + JOVEM, sábado passado. Jeremias Ngoenha, um músico extremamente imaginativo na sua crítica social foi tão “estúpido e ignorante” a ponto de não puder se auto-preservar. A única explicação que Sukuma foi a de que Ngoenha se recusou a admitir que padecia de alguma doença. Muita pouca informação, como se vê, para tão incisiva conclusão!
Existem comentários que não merecem comentários!

Música: "As mentiras da verdade"


Artista: Azagaia
Album: Babalaze
Música: As mentiras da verdade
Se o Azagaia me dissesse tudo o que diz.
Se o Azagaia tivesse resposta para todas as questões que coloca;
Primeiro, reconheceria seu valioso sensu-critíco.
Este país precisa de músicos que pensam criticamente!
Foi-se o Jeremias Ngoenha, que nasçam muitos mais.
Segundo, acharia estranho que o Azagaia tivesse respostas para todas as questões.
Principalmente, porque sugerem que estamos reféns - dum governo - de gangsters!
Finalmente, exercitaria uma lição que um admirável professor de sociologia ensinou-me:
Duvidar, Indagar e Investigar!
I
E se eu te dissesse
Que Samora foi assassinado
Por gente do governo que até hoje finge que procura o culpado
E que foi tudo planeado
Pra que parecesse um acidente e o caso fosse logo abafado
E se eu te dissesse
Que o Anibalzinho é mais um pau mandado
Que não fugiu da Machava mas foi libertado
Pelo mesmo sistema judicial que o tem condenado
E o mais provavel é que ele agora seja eliminado
E se eu te dissesse
Que Siba-Siba,
Coitado foi uma vitma
Da corja homicida
Que matou Cardoso na avenida
Não Anibal e a sua equipa
Condenados pelos media
Mas a mesma que deixou
Pedro Langa sem vida
E se eu te dissesse
Que Moçambique não é tão pobre como parece
Que são falsas estatísticas
E há alguém que enriquece
Com dinheiros do FMI,OMS e UNICEF
Depois faz o povo crer
Que a economia é que não cresce
E se eu te dissesse
Que a oposição
Neste país não tem esperança
Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança
Mas e se eu te dissesse
Que a oposição e o governo não se diferem
Comem todos no mesmo prato
E tudo esta como eles querem
E se eu te dissesse
Que a barragem Cahora Bassa não é nossa
É dum punhado de gente que ainda vai encher a bolsa
E se eu te dissesse que há jornais
Que fabricam informação
Pra venderem mais papel e ganharem promoção
E que são os mesmos que nos vendem
Aquela imagem de caos
Que transformam simples ovelhas em lobos maus
E se eu te dissesse
Que há canais de televisão comprometidos
Com o governo e só abordam os assuntos permitidos
Que esses telejornais já foram todos vendidos
Vocês só vêm o que eles querem
E eles querem os vossos sorrisos
E se eu te dissesse
Que o Sida em Moçambique é um negocio
ONGs olham pra o governo como um sócio
Refrão: Porque nem tudo que eles dizem é verdade--é verdade
Porque nem tudo que eles não dizem não é verdade--é verdade (2x)
Eles fazem te pensar que tu sabes-- mas não sabes
Cuidado com as mentiras da verdade--é verdade
II
Se eu te dissesse
Que a historia que tu estudas tem mentiras
Que o teu cérebro é lavado em cada boa nota que tiras
Que a revolução não foi feita só com canções e vivas
Houve traição, tortura e versões escondidas
E se eu te dissesse
Que antigos combatentes vivem de memorias
Deram a vida pela pátria e o governo só lhes conta historias
Quantos nos dias de hoje dariam metade que eles deram?
Em nome de Moçambique, nem os que vocês elegeram
E se eu te dissesse
Que o deixa andar não deixou de existir
Veja os corruptos a brincar de tentarem se impedir
Comissões de anti-corrupção criadas por corruptos
A subornarem-se entre eles pra multiplicar os lucros
E se eu te dissesse
Que as vagas anunciadas já tem donos
Fazemos bichas nas estradas mas nem sequer supomos
Que metade das entradas pertencem a esquemas de subornos
Universidades estão compradas mas que raio de merda somos?
E se eu te dissesse
Que o teu diploma de engenheiro não é pra hoje
Enquanto saem 100 economista, engenheiros saem 2
Lares universitários abarrotados de gente
Vai ver as pautas a vermelho e os docentes indiferentes
E se eu te dissesse
Que neste país os estrangeiros é que mandam
Tem o emprego e o salário que querem ainda mandam
Meia dúzia de nacionais pra rua
É o neocolonialismo da maneira mais crua
E se eu te dissesse
Que a cor da tua pele conta muito
Quanto mais clara, mais portas que se abrem é absurdo
Os critérios de selecção pra emprego
Vais pra empresas tipo bancos e não encontras nem um negro
E se eu te dissesse
Que a policia da republica é uma comédia
São magrinhos, sem postura e se vendem por uma moeda
Agora matam-se entre eles traição na corporação
Afinal de contas quem é o policia, quem é ladrão?
E se eu te dissesse
Que há bancos que financiam partidos
E meia volta aparecem com os cofres falidos...
Refrão (ate ao fim)...