Wednesday, May 2, 2007

Seminários do DAA, um exemplo a seguir.

A nossa academia, se é que assim a podemos chamar, não é feita apenas de lutas simbólicas pela ostentação de títulos académicos. Mesmo em contextos em que a mediocridade prima e se erige pela via do poder (legal) administrativo e da barganha como saber cientifico ela não consegue subsumir todos os espaços onde vinga o capital científico (reconhecimento pelos pares) e o valor do trabalho académico genuíno. O seminário para apresentação e debate da pesquisa é, sem dúvida, e por excelência um desses espaços. Hoje, no campus universitário da Universidade Eduardo Mondlane, particularmente, nos espaços relacionados as Letras e Ciências Sociais destaca-se a prática já rotineira dos seminários do Departamento de Arqueologia e Antropologia (DAA). Um exemplo a seguir. Ali, não se debate o “Combate a Pobreza Absoluta”, ali combate-se a lógica de fagocitose que o pensamento único e totalitário do combate a pobreza absoluta quer submeter a todas as praticas académicas (seculares) de exercício de pensamento. Por exemplo, não se pensa o cambate ao HIV/SIDA porque o governo e todo mundo pensa que se deve combater o HIV/SIDA, mas por que pensar assim orienta a pratica social de muitos agentes. É esse pensar sobre a forma de pensar que se exercita naqueles seminários. Por isso sois convidados, todos aqueles que não temem o exercício de pensar o pensado, o pensamento embalado, para ir pensar e partilhar formas de pensar. Oh, Antropólogos da DAA, ainda não me antropologizei (em termos de identidade profissional). Apenas aprendi com Bourdieu que quem quer ser um bom sociólogo tem que também pensar antropologicamente, mas acima de tudo um antropólogo inteligente é, também, sociólogo, como o foi ele próprio.
Próximo seminário
Título: Processos de construção e reprodução de roteiros de actos sexuais: uma análise a partir da cidade de Maputo
Orador: Emidio Gune (na foto).
Data: Sexta-feira, 04 de Maio de 2007 Local: SALA CP 2501, no Novo Complexo Pedagógico do Campus Universitário Principal da UEM. Hora: 13:00-14:00h
Resumo em anexo.
Se durante muito tempo no Moçambique pós independência o campo analítico da sexualidade esteve ‘silenciado’, na academia incluso, a última década assistiu a um crescimento de análises nessa área, em parte devido ao advento dos discursos em torno do Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) e do Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA). Contudo e uma vez que os referidos estudos estão virados para busca de soluções para a questão do VIH e do SIDA eles minimizam a complexidade que envolve e informa a sexualidade, e apesar de designados por estudos sócio culturais e reivindicarem as práticas socioculturais como construídas conformam-se com respostas imediatas aos ‘fracassos’ das propostas preventivas. Como consequência, a sexualidade é medicalizada, escasseam detalhes etnográficos sobre processos de sua constituição, pese embora reivindicada como construída. Adicionalmente as conclusões assentam em pressupostos genéricos sobre género e as ditas estruturas patriarcais, tomados como explicadoras da sexualidade e aspectos correlatos. A pesquisa é informada pela perspectiva construtivista e explorou processos de produção e reprodução de roteiros de actos sexuais. Realizado na Cidade de Maputo, o estudo
reivindica uma dimensão etnográfica e contextual da sexualidade.O estudo reivindica uma dimensão etnográfica e contextual da sexualidade. Assim os resultados do estudo permitem considerar que no contexto da Cidade de Maputo existe uma heterogeneidade dinâmica de roteiros de actos sexuais, seja entre indivíduos de gerações diferentes bem como entre indivíduos da mesma geração. Os roterios sexuais dos referidos indivíduos variam com a combinação de tópicos como momentos, lugares, motivos e pessoas envolvidas no acto sexual, interpenetrados, diferenciados e informados por diversas lógicas negociadas envolvendo expectativas socioculturais, expectativas de interação entre indivíduos bem como expectativas individuais relativas a actos sexuais. Mais do que determinados pelo género e as ditas estruturas patriarcais locais, os referidos roteiros sexuais são construídos e reproduzidos numa combinanação que envolve representações socioculturais e experiências individuais, ambas dinâmicas, informadas por práticas partilhadas com agentes de socialização como parentes, colegas e amigos com ou sem recurso a visualização que pode incluir práticas in loco, material audiovisual (videos, novelas e filmes sobre sexualidade e assuntos relatos), visual (revistas, livros sobre sexualidade) e que transcendem a dimensão médica e a Cidade de Maputo, e até Moçambique, questionando as abordagens que restringem práticas socioculturais a espaços geográficos e que dominam os programas de gestão de práticas sexuais.

3 comments:

Anonymous said...

Patrício, fiquei assustado quando vi a foto e pensei, 'poxa tenho fotos mais lindas'. Mas lembrei-me que essa foto tiraste na Cidade do Cabo na Rondeberg Flats 503c quando o texto que vou apresentar estava mesmo na forja, e discutíamos limites e possibilidades analíticas do construtivismo 'social construction of what' vs 'say social contruction is not enough'. Compreeder as lógicas da prática e processos de sua constituição dão-nos instrumentos para melhor intervirmos sobre ela a 'nosso' beneficio, foi também assim que nasceu a 'unidade nacional' com um cientista social: Mondlane. Emidio Gune

Patricio Langa said...

Abraço Gune!

Anonymous said...

xi
parece diamante