Monday, May 7, 2007

Sem Comentários!



Jeremias Ngoenha morreu de estupidez e ignorância”. Foi com estas palavras que o músico Stewart Sukuma se referiu a morte de seu colega em pleno programa televisivo, o + JOVEM, sábado passado. Jeremias Ngoenha, um músico extremamente imaginativo na sua crítica social foi tão “estúpido e ignorante” a ponto de não puder se auto-preservar. A única explicação que Sukuma foi a de que Ngoenha se recusou a admitir que padecia de alguma doença. Muita pouca informação, como se vê, para tão incisiva conclusão!
Existem comentários que não merecem comentários!

10 comments:

jpt said...

eu não conheci o músico, que posso dizer? mas interpretando (e a interpretação sobre a morte privada alheia é sempre prejudicial ao interprete, como se vê por este post) apenas especulo. E especulando estou com Stewart (será que ele sabe algo que nós só "especulamos") - será que o artista tinha a maleita-de-que-não-se-fala, será que tinha Sida como era vox populi, será que não só negou ao seu público como à sua saúde, será que não tendo reconhecido isso não procurou os tratamentos que lhe prolongassem a vida, e com qualidade?

É uma injustiça dizer tudo isto, ainda para mais no luto de um artista globalmente a todos simpatico. Mas se Stewart conhece essa realidade, tão habitual, neste caso, então se é isso é um comentário adequado. Cruel? Mas adequado.

(quantas vezes ouvimos nós de alguém que tem Sida e que se recusa a aceitá-lo?)

Anonymous said...

Patrício,

Concordo com JPT. Elvira Viegas já se havia insurgido contra a postura prevalecente, não só na classe artística, de não procurar tratamento em caso de doença.

Creio que as palavras de Sukuma revelam a frustração de estarmos a perder pessoas de valor quando, em muitos casos, sua vida poderia ser prolongada com tratamento adequado.

Um abraço. GM

Patricio Langa said...

Faz sentido JPT e G.M.
Mas....
Sabendo nós que pessoas com esse quadro clínico são susceptíveis de recusar aceitá-lo, pondo em risco sua própria vida, pelas consequências que imaginam advir, como agimos? Não me convence a ideia de que quem se recusa a aceitar seu estado serológico é estúpido e ignorante. É uma resposta fácil e politicamente correcta. Fala-se, por exemplo, aos quatro ventos que para algumas pessoas, antes a morte que o estigma.
Quantas figuras públicas seropositivas não revelam o seu estado? Podendo, financeiramente, tratam de se tratar no silêncio dos deuses. O que Stewart sugeriu é que o preço do tratamento de J.G era revelar (tornar público) a sua seropositividade. Se é que o era. Só nessas circunstâncias teria recebido o tal apoio da casa dos artistas. Não nos esqueçamos que está no direito de cada um revelar-se, ou não, seropositivo. Não devia ser o constrangimento financeiro o motivo, mas a livre consciência, vontade e liberdade individual de querer revelar seu estado serológico. Stewart trabalhou anos no Concelho Nacional de Combate ao Sida. Esses anos de experiência deveriam ter lhe servido de escola para, no mínimo, compreender a diversidade de formas de reacção que as pessoas, ao saberem do seu estado, adoptam. Conheço casos de pessoas que nem se quer assustam com isso, no extremo oposto de pessoas que se suicidam. Não existe um padrão. Cada caso é caso e é preciso saber lidar com isso. Pessoalmente trabalhei mais de 10 anos em campanhas de advocacia, prevenção e até com pessoas vivendo com o vírus. Cada caso é um caso, como disse. Essas pessoas precisam de ser ajudadas a ajudarem-se, e não de julgamento.

Pensemos, por exemplo, no quadro de uma doença mental. Pergunta-se ao doente mental se quer ser tratado? Nós estaríamos pior que eles ao fazê-lo, não acham? Tudo bem, dir-me-ão que um seropositivo não é um doente mental. E que está dentro das suas capacidades psicológicas normais. Pois eu duvido! Mesmo com toda a informação que é veiculada sobre o HIV/SIDA, não é necessariamente o conhecimento que faz com que as pessoas hajam racionalmente para sua auto-preservação. É preciso, em alguns casos, um acompanhamento psicológico competente para que se ajude a pessoa a ajudar-se! Esse acompanhamento psicológico foi prestado ao J.Ngoenha? Porque esperar que ele confirmasse aquilo que a olho nu aparecia evidente. Auto-estima não é estupidez muito menos ignorância! A ignorância e estupidez aqui não me parece ser a do J.Ngoenha, mas a do... Sukuma. Pior ainda, nem se quer soube respeitar o luto da família.

Anonymous said...

Assunto difícel. Para mim, o importante não é revelar aos outros que se é seropositivo. É aceitar essa situação, pelo menos para si (e para o seu parceiro, se for o caso) e procurar tratamento adequado. Tratamento que prolongue a vida com qualidade. JPT falou em negar não só ao seu público como à sua própria saúde que se está doente. É nisto que concordo com ele.

Abraço. GM

Patricio Langa said...

De acordo!

jpt said...

pois. E já agora, o cruel comentário do Stewart: não será um desabafo, irado de impotência? Também um pouco disso, se bem o conheço. Mais do que uma crítica até

Patricio Langa said...

Tbm pode ser. Assisti ontem a uma longa entrevista do Stewart.

Anonymous said...

Num comentário anterior eu sugerira essa interpretação, quando afirmei que as palavras de Stewart poderiam resultar de uma frustração de se estarem a perder vidas de forma inglória e inútil. Não vislumbro nelas nenhum tom crítico, que até seria despropositado.

Abraço. GM

Anonymous said...

Sukuma, à maneira cartesiana, preferiu a explicação simplista da mortte de Ngwenha do que compreender as circunstâncias em que tal se construiu. Stuart chama "ignorância" e "estupidez" às dificuldades que encontra na compreensão do fenómeno morte.
Também é legítimo questionar o que é que Stuart quer dizer quando diz "ignorância" e "estupidez".
Beúla.
Há muitos colegas da minha escola (Escola de Jornalismo) que gostariam de comentar nos Blogs. Só que a mioria vedaram o acesso aos anónimos.
Em nome dos estudantes da Escola de jornalismo que tanto visitam os Blogs moçambicanos vai o meu Obrigado pela sua abertura!

Patricio Langa said...

Caro Beúla.
Seus comentários e de seus colegas serão sempre bem-vindos.