Escrevi este texto há algumas semanas na altura do debate sobre a mudança de reitores. Não o publiquei na altura porque estva e continua incompleto. Mas para não ficar ainda mais desactualizado vai o que já havia escrito.
Desde que iniciou a “onda” de mudança de reitores nas universidades públicas do nosso país, que tenho feito comentários opinativos sobre a natureza política do acto de nomeação dos reitores e as implicações disso para o tipo de universidade que se vai construindo. Não sou o único, outros há, e aqui destaco o sociólogo Elísio Macamo, que tem interpelado criticamente, por um lado, as implicações que derivam da prerrogativa do presidente nomear reitores e por outro, nomeados os novos reitores, o discurso meta-narrativo do combate a pobreza absoluta adoptado a letra pelos recém nomeados.
Ocorreu-me ao reflectir sobre estes aspectos um debate, entre Michael Proudhon e karl Marx, do qual surge a inspiração para o título deste artigo. Não me interessa recuperar a história desse debate polémico que se desenrolou entre 1846-1847 e que deu lugar ao livro de Marx Miséria da Filosofia, respondendo à obra de Proudhon: Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria. Os mais atentos terão já se apercebido que o título de Marx é uma ironia ao inverter o titulo de Proudhon de Filosofia da miséria para A miséria da filosofia.
É essa ironia que pretendo recuperar para caricaturar uma situação que, na verdade, deveria preocupar todos pela gravidade que ela representa para a universidade pública no nosso país. As novas nomeações, tanto no seu princípio constitucional e estatuário, portanto, quanto nos discursos imediatamente proferidos pelos novos reitores elegem a universidade como instrumento privilegiado de combate a miséria. Portanto, faço da miséria, aqui, sinónimo, de combate a pobreza absoluta. Nesse sentido combater a miséria, torna-se na função social, no uso social, primordial da nossa universidade. Ao tornar a universidade num instrumento primordial de combate a miséria, promove-se a miséria da universidade. Nas próximas linhas vou esgrimir algumas premissas de como a universidade se torna miserável ao se declarar combatente da miséria.
Das várias razões que me levaram a inspirar-me no debate Proudhon Marx está um aspecto, supérfluo, mas reconfortante para mim, pois ajuda-me a não temer dizer aquilo que acho que deve ser dito. É que foi, de certa maneira, uma atitude ousada da parte de Marx responder a ironicamente a Proudhon, naquela altura. Marx era nove anos mais novo que Proudhon. Por volta de 1840 Proudhon havia se tornado uma figura influente em paris com grande prestígio no debate político e no movimento de crítica social. Marx, por seu turno, não passava de um estudante e jornalista de inspiração liberal.
A situação parece, pelo menos para mim, similar. Se no meu caso ficaria difícil personificar os Proudhones de hoje num único indivíduo, este pode ser encontrado nas diferentes personalidades que a todo custo defendem que a universidade deve formar combatentes contra a pobreza absoluta. A pessoas que fazem o seu prestigio vendendo e defendendo esta ideia perniciosa para a universidade. Os novos Proudhones são os conselheiros do presidente que querem transformar a universidade num ministério que visa implementar o PARPA II. E num contexto onde a ordem do discurso é totalitária quem se opõe a ela estará comparativamente naquela posição de estudante em busca de orientação em que se encontrava Marx. Parece que já me estou a perder. Deixem-me, então, retornar o cerne da questão. Porque é que a universidade se torna miserável ao se declarar combatente da miséria. Podem-se enumerar várias, mas vou centrar-me naquela que considero primordial. As universidades independentemente do uso social que se lhes queira atribuir tem na produção de conhecimento a sua razão de existência. Esse conhecimento deve ser produzido em função dos ditames das condições teóricas e epistemológicas de produção. Serão essas condições que nos permitirão aferir sobre a produtividade da universidade. O valor acrescentado ou criado de uma universidade é conhecimento, independentemente da sua finalidade. Ao se subverter essa premissa subverte-se a razão de existir de uma universidade. Empobrecesse-a nos seus propósitos fundamentais. No nosso caso poderíamos perguntar até para que se abriram as politécnicas? A natureza das politécnicas permite-as cumprir melhor a função da aplicação do conhecimento em conhecimento tecnológico para resolver problemas que se considerem de ordem prática. O desvirtuamento da vocação da universidade só pode a empobrecer no que tange a sua função primordial.
1 comment:
Está certo se os "Proudhones" a qe se refere sabem difrenciar as "politêcnicas" da Universidade?
Existem muitos equívocos que os dirigentes cometem, a começar pelo rigor no uso de determinads conceitos: hoje todos estamos a combater a pobreza absoluta. Os estudantes, ao estudarem; os professores ao darem aulas; os políticos ao discursarem, as associações ao pedir financiamento...
Já não existem actividade lucrativas de per se; já não existem actividades sem fins lucrativos de per se...
Já não existem políticos cujo interesse é atingir o poder político! Todos estamos empenhados "na busca de soluções para o combate à Pobreza Absoluta. E acha que a Universidade, com essa emntalidade, iria escapar?
O dia em que a lucidez tomar de volta o seu lugar nas mentes de muitos políticos (todos, no sentdo geral) aí sim, haverá respeito pelos pobres e saberem que para eles, nem é preciso o envolvimento das Universidades para deixarem de ser pobres.
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