Saturday, March 24, 2007

Subsídios para uma sociologia do risco e da questão ambiental. [1]



Não sei se isso acontece apenas comigo, mas as vezes, preciso de motivação para escrever. A réplica é para mim um grande estímulo a minha motivação. Nem me apercebo e já estou a encher a página e com a adrenalina bem alta. As perguntas que o Egídio Vaz coloca no seu comentário a uma carta provocatória (com a intenção de suscitar debate) que escrevi levaram-me a considerar a possibilidade de expelir ideias que guardo há algum tempo. Vaz pergunta-me qual é a minha posição, se bem o percebo, em relação ao “desflorestamento” que esta supostamente a ocorrer em particular em algumas zonas do país. Questiona-me a razão do uso das aspas e do termo supostamente.

Na verdade as perguntas surgem de um debate que estava a dominar a nossa esfera pública. Tornou-se polémico e até se constituíram alas. Houve troca de acusações resultantes de interpretações distintas do que está a acontecer. Enfim, o debate acabou enveredando pelo apelativo caminho das teorias de conspiração. Uns a acharem que o que os outros acham não é fruto das suas lucubrações, mas que supostamente cumpriam agendas obscuras. Enfim, o debate enfraqueceu, fundamentalmente, quando se passou a debater as intenções subjectivas por detrás dos posicionamentos das pessoas e não o assunto em si. Houve quem se acha-se mais patriota que outros na defesa do nosso património florestal comum. Esta é, quanto a mim, a parte menos interessante do debate porém reveladora da qualidade da nossa esfera pública. A questão chegou ao parlamento e como seria de esperar a polémica aumentou, com os deputados maioritariamente da Renamo-UE a apontarem o dedo de responsabilização para o governo. A juntar-se a questão das florestas estão as cheias no Zambeze, o ciclone Fávio que fustigou Vilankulos, a varanda turística dos Sul-Africanos, e a mais recente evasão das águas do mar ao bairro dos pescadores da Costa do Sol. A categoria profissional que mais apareceu nos ecrãs esta semana foi a dos meteorologistas e dos ambientalistas desfilando as suas teorias explicativas para a ocorrência destes fenómenos.

Considerando este cenário decidi apresentar alguns subsídios que a sociologia pode fornecer para entender a questão do risco ambiental. Suponho que tanto a polémica do “desflorestamento” quanto os demais fenómenos naturais e sociais outrora mencionados podem ser abordados dentro do que designo aqui por questão do risco ambiental. Assim não só respondo as questões do Egídio Vaz, mas aproveito a oportunidade para esclarecer alguns dos meus posicionamentos críticos em relação ao que considero que deveria constituir a tarefa dos 'poucos sociólogos de facto’ de que dispomos.
Começa a ser considerável o número de moçambicanos ostentando o diploma de sociologia, mas ainda está a quem do desejável os que pensam sociologicamente. Por outras palavras, pertencer a categoria profissional de sociólogo, não é condição necessárias para se ter mentalidade e imaginação sociológica. Quando vejo os poucos que já demonstraram esse rara, entre nós, competência enveredarem pelo caminho da lógica da acção política, antecipada da acção de tentativa de compreensão, isso me preocupa.[continua].

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